Minha Querida Helena,
Se há quem “mate com o seu olhar”, tu fulminas-me com a tua ausência. A tua distância é-me insuportável. Disse-to, repeti-o, voltei a dizê-lo, e tu permaneces impenetrável. Impressionas-me na tua obstinação, confesso. Pergunto-te, entretanto: estás mais feliz? Essa distância devolveu-te o entusiasmo que havias perdido? Se sim, valeu a pena . Resta-me dar-te os parabéns e desejar-te felicidades. Se não, pergunto-me: aonde pretendes chegar então meu amor?
A ERSA cá está, como te havia
dito. Já lá estive e pareceu-me bem. Vi muitas faces conhecidas e muita gente
nova. Ainda bem que há gente nova. Ainda bem que há muita gente conhecida entre
os participantes. Dá-me gosto rever bastantes deles, saber o que andam o fazer
e por onde andam. Talvez nos reencontremos para o ano, em Portugal, em
Amsterdão ou algures na Europa. Talvez ! É bom reencontrá-los, mesmo que alguns
não me inspirem simpatia especial.
Já não tive coragem de
acompanhar a comitiva na sua digressão social por alguns sítios do Porto.
Aliás, falta-me a coragem para participar nos vários eventos sociais paralelos.
A exposição pessoal seria maior e mais demorada e receio não resistir.
Alternativamente, sempre posso recuperar o meu retiro e, desde ele, travar este
diálogo unilateral contigo. Se questionado, tenho a escapatória de uma
apresentação para acabar de preparar. Sinto-me miseravelmente, mas não me
exponho e recupero forças para o dia de amanhã.
É pena que não me possas
aconselhar na gestão deste processo. Por certo, terias muito para me transmitir
da tua vivência e da tua reflexão. Espero que, pelo menos, estejas mais feliz
que eu e que não necessites de te socorrer destas estratégias de preservação
pessoal.
Cá fico, nesta espécie de
estágio de preparação para o evento. Sabes, por vezes sair à rua, enfrentar a
alegria dos outros é penoso. Alegra-me por eles. Entristecem-me, por
contrapartida, aqueles em que não vislumbro um sorriso nos rostos.
Um beijo grande, grande para
ti.
José Cadima
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