sexta-feira, janeiro 03, 2025

Minha Querida Helena (25)

Minha Querida Helena,

Se há quem “mate com o seu olhar”, tu fulminas-me com a tua ausência. A tua distância é-me insuportável. Disse-to, repeti-o, voltei a dizê-lo, e tu permaneces impenetrável. Impressionas-me na tua obstinação, confesso. Pergunto-te, entretanto: estás mais feliz? Essa distância devolveu-te o entusiasmo que havias perdido? Se sim, valeu a pena . Resta-me dar-te os parabéns e desejar-te felicidades. Se não, pergunto-me: aonde pretendes chegar então meu amor?

A ERSA cá está, como te havia dito. Já lá estive e pareceu-me bem. Vi muitas faces conhecidas e muita gente nova. Ainda bem que há gente nova. Ainda bem que há muita gente conhecida entre os participantes. Dá-me gosto rever bastantes deles, saber o que andam o fazer e por onde andam. Talvez nos reencontremos para o ano, em Portugal, em Amsterdão ou algures na Europa. Talvez ! É bom reencontrá-los, mesmo que alguns não me inspirem simpatia especial.

Já não tive coragem de acompanhar a comitiva na sua digressão social por alguns sítios do Porto. Aliás, falta-me a coragem para participar nos vários eventos sociais paralelos. A exposição pessoal seria maior e mais demorada e receio não resistir. Alternativamente, sempre posso recuperar o meu retiro e, desde ele, travar este diálogo unilateral contigo. Se questionado, tenho a escapatória de uma apresentação para acabar de preparar. Sinto-me miseravelmente, mas não me exponho e recupero forças para o dia de amanhã.

É pena que não me possas aconselhar na gestão deste processo. Por certo, terias muito para me transmitir da tua vivência e da tua reflexão. Espero que, pelo menos, estejas mais feliz que eu e que não necessites de te socorrer destas estratégias de preservação pessoal.

Cá fico, nesta espécie de estágio de preparação para o evento. Sabes, por vezes sair à rua, enfrentar a alegria dos outros é penoso. Alegra-me por eles. Entristecem-me, por contrapartida, aqueles em que não vislumbro um sorriso nos rostos.

Um beijo grande, grande para ti.


José Cadima 

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