Minha Querida Helena,
Ensaio estas
primeiras letras acabado de chegar de tua casa. Encontrei-te doente e tristonha,
como seria razoável de esperar de alguém que se encontre com a saúde abalada.
Em abono da verdade, devo dizer que já te encontrei em pior estado, mesmo menos
doente.
Da parte da
tarde e da noite que passei em tua casa, retenho um sentimento ambíguo, de um
encontro sem sal nem pimenta, talvez por isso calmo. Custa-me, no entanto,
admitir que vi numa tarde mais televisão que a que vejo habitualmente em vários
meses. Nota que não considero neste cômputo o futebol, que não é televisão no
sentido próprio do termo. Sentado no sofá, frente à televisão, senti alguma
tranquilidade mas, também, desconforto: o desconforto de um uso desqualificado
do tempo; o incómodo de uma espécie de esposo que para ali está à espera que
lhe sirvam o jantar. Tu sabes quão desconcertado eu fico nesses papéis. Como
quer que seja, foi tudo mais ou menos, se pusermos de lado o teu mal-estar
físico.
Este dia poderá
ter sido o pronuncio de uma semana que antecipo ou desejo pouco agitada, porque
as semanas agitadas, se nos trazem vida, trazem-nos, de idêntico modo,
desgaste. E desgaste já tenho quanto baste. Não é que eu, a poder escolher,
escolhesse a tarde sensaborona que tive mas, tratando-se da semana, talvez seja
mesmo a que me convém nesta altura. A ver vamos se me sobra espaço e
concentração para dar seguimento ao trabalho que venho adiando, há semanas.
O trabalho, como
tu sabes, é uma componente essencial do meu equilíbrio. Algumas vezes, é mesmo
todo o suporte do meu equilíbrio psicossomático, o que, contraditoriamente, não
deixa de ser uma circunstância infeliz. Nesta ocasião, queria no entanto
retornar ao trabalho sereno e, serenamente, construir o texto e a reflexão
teórica que o texto esboçado precisa. A ver vamos se lá vou chegar. Pelo menos,
o dia que agora tem termo afigurou-se sereno, se bem que sensaborão.
Pena que a minha
Helena se encontre adoentada e tristonha. Amanhã hás de sentir-te melhor!
José Cadima
Sem comentários:
Enviar um comentário