segunda-feira, novembro 30, 2009

Introspecções…

Para nossa defesa, devemos evitar compromissos emocionais "excessivos", isto é, que nos esgotem e que tomemos como insubstituíveis (para mais, em certos contextos de definição de vida). Isso não impede que tenhamos uma vida afectiva satisfatória e procuremos alcançar "a nossa felicidade".
Entre sermos nós, autênticos, com as nossas qualidades e defeitos, ou sermos outros, para consumo externo, para sermos "agradáveis" e convenientes com terceiros, prefiro a primeira opção, sob pena de nos sentirmos insatisfeitos connosco, o que resulta na maior das amarguras que se pode enfrentar. Sendo assim, importa apenas que estejamos atentos à sensibilidade dos nossos interlocutores, sem deixar de sermos nós, o que é um exercício muito difícil.

José Cadima

domingo, novembro 29, 2009

Atitudes

Viste em mim a protecção
com que cubro os meus defeitos,
a máscara que esconde quem verdadeiramente sou.
Viste a brincadeira que faço das coisas mais sérias
e me abstrai das muitas coisas que me magoam.

Porque faço de mim um ser descontraído
quando até no coração sinto um aperto?
Porque mostro tanta felicidade
mesmo quando estou deveras preocupado?

A resposta não me vem da mente
nem do coração.
É como um medo instintivo que não controlo.

Quero dizer coisas que não digo.
Quero não deixar transparecer impulsos que não controlo.
Quero alimentar impulsos que me protejam.

Ando a proteger-me de quê?
Do mundo? De ti? De mim?

José Pedro Cadima

sexta-feira, novembro 27, 2009

Já valeu a pena

Fecho os meus olhos
E procuro os teus
Sinto-os no olhar de menino
Ainda tão presente em mim
Já valeu a pena
Sentir esse olhar
E olhá-lo com alegria
Já valeu a pena
Sentir as tuas mãos
Cada vez mais ousadas
Alimentando-se do meu corpo
Resgatando-o só para ti
Já valeu a pena
Cobrires-me de beijos
Sentir-me amada assim
A vida vale a pena
É pena é que tenha um fim
Saberia condimentá-la
Saberia conduzi-la
Até ao teu amor sem fim
Que tanto vale a pena...

C.P.

quinta-feira, novembro 26, 2009

Será já amanhã!

Pergunto ao vento que passa,
pergunto ao silêncio que me rodeia,
por onde andas tu
que não te enchergo.
E o vento diz-me
que andas longe,
longe dos meus braços,
muito para lá da urgência
que tenho de te apertar contra o meu peito.
Escutando o silvo do vento que corre,
vem-me à lembrança
a tristeza do teu rosto
no instante do adeus,
que não era maior que a minha,
que talvez se sugerisse melhor escondida.
São as voltas das nossas vidas,
que nos juntam
mas também nos apartam, por vezes,
muitas vezes, mesmo quando achamos
que não é tempo de partir.
Fica-nos a esperança do regresso.
Fica-nos a ânsia de um abraço
e, sobretudo, dos teus abraços.
Será amanhã, meu amor,
já amanhã!

José Cadima

quarta-feira, novembro 25, 2009

Amo!

Adoro; adoro; adoro.
Amo!
E de repente todo o sangue,
todas as lágrimas
formam lindos rios
de palavras e frases
que até então eu não conhecia.

Os mortos já não andam...
Pelo menos, os mortos com coração,
pois sem coração todos andam,
até mesmo os mortos.

José Pedro Cadima

(poema extraído do livro Sonhos a Um Espelho, Papiro Editora, 2009, Lisboa, p. 51)

terça-feira, novembro 24, 2009

Naturalmente Seduzido (2)

Posso não parecer estar de joelhos na tua presença, mas estou!
O que tu vês é a imagem de alguém que não sou eu. Trata-se de uma máscara que criei e que nem aos que me estão próximos lhes permite entender o meu verdadeiro estado de espírito.
Sou capaz de tudo, a fingir, até que suporto a tua presença sem te desejar!
Vagueio com os olhos pelo espaço que me rodeia, tentando não me focar em ti, tentando não me relembrar do quanto gostava de contemplar os teus traços, os traços pelos quais realmente me tinha apaixonado e que nunca ousei confessar-te.
Perco-me nas palavras. Vou por caminhos que não existem. Tudo para não te dizer o que realmente quero dizer. Busco tema após tema. Finjo-me superior; finjo-me especial. É do nervosismo que me incutes.
Sou incapaz de te magoar. De ti, vinha-me uma paz que me deixava confortável. Porque achas que me conseguia manter calado e carinhoso quando estava na tua presença? Bastava-me um leve mimo teu para me dar conforto num mundo que eu encontro hostil e de que preciso proteger-me.
Afasto também da minha memória o sentimento que nutrias por mim.
.
José Pedro Cadima

domingo, novembro 22, 2009

sexta-feira, novembro 20, 2009

Manual do Doentio

Até que ponto pode ser-se doentio?
É cera quente que se deixa cair de velas acesas. São chapadas dadas na pele tenra. São as nódoas negras de socos nas costas. São marcas de cordas com que se envolvem os pulsos. Acresce o sangue que escorre de lábios mordidos, de agulhas espetadas nas solas dos pés. Soma-se, ainda, as coxas pisadas por joelhos de outros ou a água gelada vertida nos órgãos sexuais, capaz de levar às lágrimas. Soma-se um sem fim de coisas, de raízes de cabelo irritadas por puxões e outros maus-tratos até às privações de oxigénio, por asfixia.
Até que ponto pode ser-se…

José Pedro Cadima

quarta-feira, novembro 18, 2009

Novas de Madrid que não falam de Cristiano Ronaldo

Olá,
Vou fazer uma viagem a Praga aproveitando um feriado de 2 dias que vai haver aqui em Espanha. No período de 2 a 8 de Dezembro, irei visitar uma amiga que está lá no programa Erasmus. Os gastos em que incorrerei serão mínimos.
Eu tenho 6 dias de fim-de-semana nessa semana! Nunca tenho aulas nas quintas e sextas. No sábado e domingo também não, e depois vêm os tais dois dias de feriado!
Vou praticamente a todas as aulas. Raras vezes falto.
Um abraço,

José Pedro G. Cadima

terça-feira, novembro 17, 2009

Adoro a chuva

Adoro a chuva.
Adoro escutar o som do metal
matraqueado pela água que cai.

Nestas semanas depressivas,
chorar acaba por trazer-me alívio;
chorar permite-me atirar para poças de água turva
os sentimentos que trago enrolados em mim.
É como aquelas músicas pesadas que nos embalam
e, ao mesmo tempo, nos levam para longe do conforto.

Adoro ouvir a chuva cair.
Nessa altura, o mundo lá fora
torna-se tão real quanto a dor que suportamos.

José Pedro Cadima

sábado, novembro 14, 2009

Histórias de carteiristas

1. Com um sentido de humor que lhes é peculiar, os portugueses tentam amenizar os dias que correm fazendo humor com as próprias desgraças. A última história (estória) que me chegou fala de carteiristas; concretamente, reporta-se à visita que um empresário fez ao primeiro-ministro, acabando surpreendido pela falta da carteira depois de se ter cruzado com um amigo de José Sócrates, que o havia cumprimentado efusivamente momentos antes. Nos seus exactos termos, a “estória” é a seguinte:
“Um grande empresário português marca uma audiência com José Sócrates, na Residência Oficial do Primeiro-Ministro.
Enquanto aguarda, encontra Armando Vara que o recebe com muitos abraços.
Quando é recebido pelo Primeiro-Ministro, sente falta da carteira e resolve abordar o assunto com o PM:
- Não sei como lhe hei-de dizer, Senhor Primeiro-Ministro, mas a minha carteira acabou de desaparecer!
E continuou: …”.
2. Esta “estória” é elucidativa do sentido do humor de que falo, não é? Depois de escutá-la, quem não comungando da mesma idiossincrasia colectiva seria capaz de suspeitar que o PS foi ainda há poucas semanas o partido mais votado pelos eleitores nacionais? Concordo que a circunstância de o cidadão eleitor se confrontar com a alternativa de votar numa avozinha sem graça e sem sentido de humor também ajudou, mas que é preciso ser muito masoquista para rir com desgraça tamanha lá isso é.
3. É essa mesma peculiaridade de que vos falo que faz com que a comunicação social se refira a Teixeira dos Santos como constituindo um dos maiores “esteios” do governo em funções depois de não há muitos meses ter sido classificado pelo jornal “Finantial Times”, segundo creio, como um dos piores ministros das Finanças da União Europeia, e o pior da Zona Euro. Vale aqui o carácter independente da avaliação, porque se se fosse a atender aos 4 anos de discurso da tanga do dito e ao respectivo contributo para que a economia portuguesa mantivesse o rumo que lhe vinha de trás, desde os anos iniciais da década, de inquestionável anemia e ausência de orientação, a classificação do dito ministro só poderia ser bem pior; porventura, 69 lugares mais abaixo. Os portugueses são gente piedosa, entretanto, e dotada de um peculiar sentido de humor.
4. E já que falo de sentido de humor, deixem que vos conte uma “estória” que me chegou por via electrónica nos últimos dias e que fala de carteiristas. É assim:
“… Reconhecendo a sua carteira, o empresário comenta:
- Espero não ter causado nenhum problema pessoal entre o Senhor Primeiro-Ministro e o Dr. Armando Vara.
Ao que José Sócrates responde:
- Não se preocupe! Ele nem percebeu!...”

J. C.

sexta-feira, novembro 13, 2009

Mimo

Não estás aqui! Vejo através dos teus olhos que te escondes do teu lado do Mundo. Mantenho-me a olhar-te fixamente. Não há reacção. Irei buscar-te a esse lado para que estejas comigo!

Primeira tentativa: aproximo-me (dá-me um beijo!) e pouso a cabeça no teu ombro. Contorno os teus traços com uma mão, desviando com a outra o cabelo do teu pescoço. Beijo-o carinhosamente enquanto forço os teus lábios na minha direcção.
Não resulta. Para onde fugiste que não te consigo alcançar?! Não será por isso que desisto.

Segunda tentativa: encosto a minha face à tua. Sem abrir os olhos, dou-te um primeiro beijo na cara. O frio do meu nariz faz-te arrepiar. Mas o cristal dos teus olhos mantêm-se espelhando o meu olhar... (abraça-me!)

Terceira tentativa: sem desistir, interpelo-te pelo toque que me anuncia: sou eu e quero-te. Devagar, desço o meu dedo com um leve acarinhar na cana do teu nariz. Volto a aproximar os meus lábios de ti para um leve beijo na testa.

Tu acordas. Abres os teus olhos perfeitos - Que se passa?
- Nada meu amor, é só um mimo!
.
José Pedro Cadima

quarta-feira, novembro 11, 2009

Numa escala

Numa escala de zero a dez,
quanto te assustaria
se te escrevesse um poema?

Achar-me-ias tolo?
Ver-me-ias como obsessivo
ou chamar-me-ias “poeta”?

Numa escala de zero a vinte,
quanto te afastarias
se te escrevesse um romance?

Incomodar-te-iam os meus mimos?
Ser-te-ia pesada a minha presença
ou acharias “romântico”?

Numa escala só tua,
quanto te intimida o meu contacto físico?
E quanto temes um beijo meu?

José Pedro Cadima

segunda-feira, novembro 09, 2009

Compreensão

É possível que esteja incomodado
pela simples repreensão dos meus actos.
A culpa que me é atribuída
envergonha-me.

Dá-me o desconforto de me olhar ao espelho
e não encontrar o que queria.
Sinto a dificuldade de deixar fluir os meus sentimentos
e, simultaneamente, alcançar a perfeição.

Nessa escolha,
vejo dois caminhos para a felicidade,
sem que compreenda
se realmente, nalgum momento,
serei capaz de olhar no espelho alguém feliz.

Desculpar-me pelo que sinto
não seria mais que cobardia.
Não posso moldar-me ao teu desejo
quando não existe compreensão na alma.

José Pedro Cadima

domingo, novembro 08, 2009

Pergunto e não encontro resposta

Pergunto ao vento que passa,
pergunto ao silêncio que me rodeia,
pergunto aos meus pensamentos que se atropelam
de tão velozes correrem,
porquê? Porquê? Porquê?
E como resposta recebo
o silvo do vento que corre,
o alvoroço do silêncio que me envolve,
um atropelo maior dos meus pensamentos.
De tão perto que quase lhe toco,
chega-me a tua angústia,
a tua dúvida de ser correspondida
num amor que te apanhou de surpresa,
mesmo se a tua surpresa
acabou por não exceder a minha.
Que fazer com esse amor?
Que fazer com este silêncio
que tantas vezes me acalma
e noutras se me oferece tão violento?
Pergunto ao vento que passa,
porquê? Porquê? Porquê?
E o vento não me dá resposta.
E o vento não me traz de volta
o amor sereno com que sonhei.
E o vento não te traz de volta para mim.

José Cadima

sexta-feira, novembro 06, 2009

O medo do desespero

Aproxima-se a meia-noite
e com ela afasta-se a sobriedade
de pensamentos.

O desespero
possui uma certa magia,
mas é como a água:
dela ninguém respira.

O que mete medo
é vir a sonhar com ele.
Será que serei eu quem sonha
ou será ele a sonhar comigo?

E quando me vir no sonho,
o desespero fugirá?
Sentirá o medo
que eu sinto dele?

José Pedro Cadima

quarta-feira, novembro 04, 2009

Dificuldade

A última coisa
que o poeta deseja sentir
é paixão.
O amor controla-se,
mas a paixão
queima até a ponta da caneta.

A última coisa
que o poeta deseja
é ser como pedra de calçada
em pleno inverno.

A última coisa
que o poeta deseja …

José Pedro Cadima

terça-feira, novembro 03, 2009

O bêbado telepata

Num incomum momento da noite,
um bêbado, aproximando-se, anuncia:
"A ela vou transmitir
pela minha boca os teus pensamentos".

Foi então que o bêbado
revelou mesmo o poder da telepatia:
com maior coragem que a minha,
declamou, com rigor e fluidez,
palavras que gostaria de te dizer.

O poema saía numa voz de experiência feita,
com um encadear de palavras quase perfeito.
E eu que nem sóbrio e apaixonado
passá-las da mente para a minha boca consigo.


José Pedro Cadima