domingo, fevereiro 16, 2014

Longe da agitação da urbe

Falas-me de ti.
Falas-me de mim.
Falas…
Uma extensa mancha de água à nossa frente:
o rio.
Logo a seguir, o mar,
revolto, agitado, neste caso.
Mais tranquilos estamos nós, nesta altura,
perto da imensidão da água,
longe da agitação da urbe.
Escuto as tuas palavras,
Espreito as gaivotas
recolhidas da sua ilha ocasional,
tempestade que vai no mar.
Fazem-me falta estes momentos
em que só o azul prateado da água,
as gaivotas recolhidas em terra contam.
O rio sugere-se cada vez mais prateado,
e a urbe mais distante.
Fica o espaço para nós
que nos falha quase sempre.

K

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

"Sê tu aquele que afasta as pedras do caminho"!

"Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu. Onde houver um erro para emendar, emenda-o tu. Onde houver um esforço de que todos fogem, fá-lo tu.
Sê tu aquele que afasta as pedras do caminho."

JBM

(reprodução de mensagem que nos caiu entretanto na caixa de correio eletrónico, com origem em Júlio B. Martins)

terça-feira, fevereiro 04, 2014

Flutuando

Na água, não longe de mim, há os que nadam, os que saltitam, os que brincam. Eu flutuo, plano. Liberto do corpo, vagueio pelos lugares mais desencontrados, em busca de lugar algum.
Soa-me estranha esta ausência de materialidade. Resta-me o pensamento, que, liberto, tão depressa te procura quanto parte, em correria, ao encontro do dia que passou ou em busca do dia de contornos incertos que virá.
Soa-me estranho este espaço para deixar vaguear o espírito, esta ausência de uma materialidade asfixiante que nos enche o dia-a-dia de tudo, de nada. Flutuo, levito. Sou só espírito, sou só vontade de ausência.
Trazendo-me à relação com a água, com a terra, chegas-me tu, de quando em quando. Chegas-me da ponta mais afastada do arco-íris e, por isso, a tua presença interrompe mas não questiona decisivamente a minha ausência de substância, que se reconstitui logo que te afastas em braçadas largas.
Liberto do corpo que me pesa, sou liberdade, sou pássaro que plana empurrado pelo vento. Hoje, fica-me longe o mundo que vivi ontem, anteontem e em tantos outros dias precedentes.

José Cadima

domingo, fevereiro 02, 2014

Frenesim

Na cama, junto de mim,
pressinto  a tua presença.
Dormes, sonhas,
quedas longe.
De outro local, não muito distante,
chegam-me sinais de frenesim,
suspiros de agitação intensa.
Queria-te perto.
Queria-te agitada
mas sou incapaz se quebrar o teu sono.
Ficas longe, queria-te perto.
Questiono-me se sonhas
ou estás simplesmente ausente.
Há horas em que a ausência
é repouso bastante.
Há momentos em que, para nos libertamos,
precisamos de ser capazes
de deixar-nos envolver num frenesim intenso,
que nos tira o folgo,
que nos alheia de tudo o mais.
Pressinto-te perto de mim,
embalada por sono profundo.
De local não muito afastado,
chegam-me sinais de frenesim imenso,
que a crueza do silêncio da noite não permite abafar.

K