quarta-feira, março 31, 2010

As notícias que nestes dias chegam de Itália (Pisa)

Não trouxe o computador comigo por isso só posso aceder [à Internet] quando encontro um cyber café ou algo do género.
Está tudo bem e a correr normalmente.
*
José Pedro G. Cadima

domingo, março 28, 2010

Hoje

Hoje senti que corremos
No sentido da felicidade
Fugimos ao mundo em que vivemos
Por entre palavras cheias de simplicidade
Comprovei que será para sempre
O quê, perguntarás tu?
O abraçar-te
O tocar-te
O amar-te
O ser uma pequerrucha só para ti
Por onde andaste antes meu cavaleiro andante
Que tantas muralhas ergueste
E que acabaste rendido a uma simples navegante?
...

C.P.

quarta-feira, março 24, 2010

Ontem (2)

Ontem, anteontem,
senti vontade de te abraçar,
de te sentir ainda mais próximo de mim.
Faz-me falta ouvir-te respirar,
ver-te emaranhada em fios de computador
e em pensamentos de esperança.
O mundo, este mundo que é a nossa aldeia,
parece-me então menos mesquinho,
mais sensível a valores nobres,
mais desperto para o respeito pelos outros
e para o amor.
Ontem, anteontem,
apeteceu-me perder-me nos teus braços,
entrelaçar-me em ti
como se fossemos raízes de uma árvore.
Não sei se é porque a Primavera
já por aí se anuncia,
se é porque as árvores
estão na emergência de florir.
Só sei que, ontem, anteontem,
sonhei esquecer nos teus braços
tantos dias fatigantes,
desencantados que me têm fustigado.
Ontem, anteontem,
quis ter-te mais, muito mais perto de mim.

José Cadima

sábado, março 20, 2010

Agora que o Inverno está no fim...




Agora que o Inverno está no fim, talvez faça sentir mostrar imagens que recordam a neve que nos visitou (em Braga, digo), fortuitamente, há poucos meses.

sexta-feira, março 19, 2010

A alma que o diabo tentou comprar

O diabo perguntou-me:
- Qual seria o preço da tua alma? O que queres tu por ela?
As lágrimas vieram-me aos olhos. Senti pena deste pobre demónio. Então respondi, alto e bom som:
- Para que queres tu a minha alma? Para a amar? Para a chorar? Para sentir tudo aquilo que sinto e sofri, pois sinto com mil vezes mais força que muitos outros dores, mágoas e repreensões, e até um “não” me faz chorar? Se a tiveres, aviso-te que terás dor, choro e desespero, tal como eu tive. Mas, se a queres, fica com ela! Achas que eu a quero?! Mil “nãos” recebi e cada um deles eu chorei. Fica com ela! Serei eu a beneficiar, e tu chorarás e inundarás o teu inferno de lágrimas que apagarão todos os fogos.

Desci a cabeça. Parei de olhar o diabo nos olhos. As lágrimas desceram na minha face. Foi então que murmurei:
- Fica com ela, por favor!
O diabo afastou-se, entrando na escuridão. No meu último olhar já não o vi. Só vi uma lágrima cair, salpicando o chão.

José Pedro Cadima

quarta-feira, março 17, 2010

Memória: Ó mar salgado…(2)

Ó mar salgado
sei-te bem para lá do dobrar da rua, hoje,
mas nem por isso te pressinto longe.
Perto, perto tive-te ontem,
ao mesmo tempo salgado e doce,
como mo sugeriram os teus lábios
Ameaçado?
Ameaçado, sim, de certo modo,
por saber não serem suficientemente altas
as trincheiras que quis erguer
para me proteger
das tuas investidas
envoltas em veludo,
em abraços meigos,
em beijos que transpiram paixão.
Confesso-te: achaste-me impreparado
para uma luta
feita com tais armas.
Receio não me restar solução
outra que não seja render-me,
por mais que me custe,
por mais que, sem o querer,
querendo-o, me sinta fluir para ti.

José Cadima

domingo, março 14, 2010

O passo seguinte (2)

Não é por caminharmos
que se dá a nossa evolução.
Não é por apressarmos o passo
que vamos mais longe.

É porque imaginamos
o passo seguinte.
É porque projectamos
uma trajectória para diante.

Sentir medo
mas sentir-lhe o apelo;
ousar seguir caminho.

Materializado o primeiro passo,
está esboçada a oportunidade de dar outros.
Evoluímos quando somos capazes
de projectar o passo seguinte
ancorados na materialidade do passo antecedente.

José Pedro Cadima

quinta-feira, março 11, 2010

Querer mais

Há qualquer coisa
que não me deixa descansar.
Garanto-vos ver demónios
passearem-se por meus azares
e seus servos
por linhas do meu destino.
Será por eu querer demais?
É erro ter demais, sei-o.
Sei, também, que mais cansaço
traz mais aflição,
mas eu só corro por ti!

José Pedro Cadima

(poema extraído do livro Sonhos a Um Espelho, Papiro Editora, 2009, Lisboa, p. 101)

terça-feira, março 09, 2010

Ontem

Ontem, anteontem,
pela noitinha,
senti vontade de voltar a sonhar.
o mundo, este mundo que é a nossa aldeia
pareceu-me menos mesquinho,
mais sensível a valores nobres
como a amizade, o respeito pelos outros, o amor.
Talvez tivesse sido o sonho
a ditar-me um tal sentimento.
Quis renascer outra vez!
Quis correr para os teus braços
e esquecer tantos dias fatigantes,
desencantados que me têm fustigado.
Quis…
Estranha, inesperadamente,
ao retornar hoje ao meu local de trabalho
encontrei uma planta florida,
como que a querer dizer-me que a Primavera está aí.
Estranhei o contraste,
Mirei demoradamente esta flor
que sei durar um só dia
e questionei-me sobre que sinal
quereria enviar-me.
Quis renascer outra vez, ontem…

José Cadima

sábado, março 06, 2010

Amoras não são “fruta”

1. O texto da minha última crónica teve um acolhimento muito curioso entre os(as) seus(suas) leitores(as): alguns(algumas) receberam-na em absoluto silêncio; outros(as) fizeram questão da comentar, mas recorrendo aos canais tradicionais, tipo bilhetinho postal ou conversa pessoal. Esse facto, conjugado com a relativa acalmia na vida turbulenta que tenho, deu-me pretexto para uma conversa, entre duas cervejas e um prato de tremoços, com o meu bom amigo José Cadima (pai) sobre as aventuras e desventuras de ser editor de “jornais de parede” que apelam a dimensões da vida subjectiva de cada um ou que mantêm uma abordagem mais ficcional e intimista do mundo. Acabei surpreendido por algumas coisas que me disse. Sublinho o termo surpreendido já que, amiúde, tenho dito que poucas coisas continuam a surpreender-me.
2. Do que soube, retenho aqui particularmente a menção que me fez àquele que terá sido o texto que mais escândalo terá provocado nestes vários anos que o blogue em que publico este texto leva de edição (não, não foi nenhum das crónicas que assinei, para meu desconforto). Não me lembro do título do texto, creio até que se trata de um texto poético da autoria de uma colaboradora “recente”. O texto tem como elemento singular referir-se à colheita de amoras, aliás, daí a epígrafe que escolhi para esta crónica. E de onde resulta o escândalo? Pois, simplesmente, da ilação que alguns(as) leitores(as) fizeram de que o autor – neste caso, a autora – dizendo amoras, queria, na verdade, fazer alusão a “fruta”, isto é, terão os(as) caros(as) leitores(as) tomado amoras por “fruta” , madura, supõe-se. Em nenhum momento passou pelas brilhantes cabeças desses(as) leitores(as) que pudesse existir um fruto chamado amoras (mais silvestres ou menos silvestres) que pudesse ser colhido pelo(a) autor(a) do texto ou pelos meus estimados amigos editores do blogue.
3. Isto dizendo, que moral da história podemos retirar? Porventura, que os(as) caros(as) leitores(as) deste blogue (uma amostra seguramente representativa da sociedade portuguesa contemporânea), vêem televisão a rodos e seguem de perto a intriga quotidiana que se vive nos sub-mundos do futebol, da política, do poder judicial, etc. Na verdade, é disto que se vem alimentando a sociedade portuguesa nos últimos anos, à falta de pão, e de razão na gestão da coisa pública [escrito isto, ponho-me a imaginar o que ocorrerá à mente dos(as) ditos(as) leitores(as) quando “chocarem” com o termo “coisa pública”]. De “faces ocultas” ou com vozes distorcidas, imagino já os(as), apesar disso, meus(minhas) caros(as) leitores(as) corados(as) de vergonha, segredando no ouvido do(a) colega(a) ou amigo(a) a ousadia do cronista.
4. Pois é, a verdade é que o meu caro amigo José Cadima (pai) acabou sendo falado a propósito do que nunca imaginaria e viu o “jornal de parede” que edita com José Cadima (filho) alvo de inesperada publicidade, o que, contraditoriamente, nesta dimensão, acaba por ser coisa simpática. Ao que se sabe, os portadores de “boas notícias” quiseram mesmo ir além da cidade sede do blogue no espalhar da “boa nova”, sabendo-se que esta chegou a outras cidades deste lindo Portugal, como o Porto, por exemplo. O Porto não podia aliás escapar sabido que é daí originário o grande mestre vendedor de “fruta” do país, hoje em dia alvo de intensa imitação por fervorosos seguidores lisboetas, de cor “encarnada” ao peito.
5. Numa realidade social actual em que 60% dos portugueses inquiridos dão por seguro que Sócrates (o grande filósofo) é um grande mentiroso mas, na sua maioria, admitem continuar a votar nele (no filósofo, sem vergonha alguma), foi também sem grande surpresa que soube que entre os(as) grandes escandalizados(as) com os escritos divulgados pelos meus estimados amigos José Cadima e José Cadima se encontravam alguns(algumas) seus(suas) colegas de ofício. Entre eles, particularmente, alguns(as) membros de associações de famílias numerosas ou, quiçá, membros de várias famílias e muito estimados(as) maridos(esposas) a atravessar por ocasionais dificuldades conjugais, como é próprio das boas famílias. Amoras? Cartas de amor? Isso são coisas do domínio estritamente íntimo. Autênticas ou ficcionais, nunca, por nunca se vertem em jornais, e muito menos nestes jornais modernaços que nos chegam pela Internet quando sentimos um irresistível apelo a espreitar o que por aí vai! Vá lá, que se publiquem mas depois de mortos os seus autores. Cartas de amor, quem as não escreve…
6. Pois é, dizia, para quê ficção quando temos tantos “apitos dourados”, “faces ocultas”, “freeports” e não sei quantos casos mais tão reais, tão ali ao virar do ecran? Num tal caldo de cultura, podem lá existir amoras que não sejam “fruta”? Pode lá alguém escrever uma carta de amor ou um texto poético que não vá para lá de uma carta de amor ou de um texto lírico? Obviamente que não! Nem os(as) homens(mulheres) bem formados(as) e as famílias sólidas, coesas que temos ainda em abundância, felizmente, o permitiriam. Se algum dia as silvas vierem a dar amoras, pois que estas apodreçam no silvado. Colhê-las? Nunca! Para mau exemplo já temos o da Eva que, tendo o Adão todo para si, quis também ter a maçã.

J. C.

quinta-feira, março 04, 2010

Vejo-o em teus olhos

Em teus olhos vejo
a próxima resposta.
Nem precisas de falar;
já está tudo dito!
Vejo o que estás a sentir.
Sei-o até melhor que tu.
Vejo o que estás a pensar.
Incrível, não é?
Dói-me ver a tua resposta,
e fico com medo de perguntar.
Dói-me saber em quem tu pensas;
dói-me saber que não é em mim.

José Pedro Cadima

(poema extraído do livro Sonhos a Um Espelho, Papiro Editora, 2009, Lisboa, p. 72)

segunda-feira, março 01, 2010

As leituras do cronista

1. A falta de tempo raramente me permite estar atento ao que se vai dizendo e escrevendo por aí. Mesmo quando episodicamente arranjo tempo para escrever uma das minhas crónicas, não raro pouco acompanhamento dou aos comentários que acabam por chegar. Dada a natureza das matérias que trato, também não seria expectável ter grandes reacções. Verdade seja dita que, ao contrário doutros que escrevem para ser falados, a mim pouca diferença me faz que comentem os meus textos, quero dizer, o que escrevo é sobretudo para mim, memória que gosto de fazer de emoções, factos e bizarrias do tempo que vivemos. Dessa forma, fico liberto da obrigação futura da escrita de livro de memórias.
2. Por simples acaso e oportunidade de circunstância, nestes derradeiros dias, acabei a dar alguma atenção a um ou outro texto que os meus bons amigos editores deste blogue se vão dando ao trabalho de produzir e, sobretudo, aos comentários que, em crescendo, lhe aparecem anexados. Isso fez-me descobrir quanta gente interessante e preocupada com o bem-estar do seu semelhante (ou diferente, quiçá) por aí anda e, também, gente (pressupostas mulheres) “raivosa” doutra gente, alguma mais raivosa que outra, está bom de ver. Ficou-me uma certa raiva, por assim dizer, de não ser o alvo da cobiça (pressuposta cobiça, se bem entendi).
3. Deixo claro que em tempos já longínquos, dava eu os primeiros passos como cronista, também fui alvo de algumas atenções femininas e até, confesso, de alguns olhares mais furtivos. Mas esse era tempo com outro recato. Só alguma leitora mais atrevidota me fazia chegar uma nota escrita (um bilhetinho) denunciando a atracção que eu, ou melhor, a minha escrita, lhe provocavam. A nenhuma lhe ocorreu vir para esta praça pública mostrar inveja dos sucessos amorosos do cronista ou daquelas que lhe roubavam o coração. Também é verdade que, nessa altura, a Internet navegava ainda por outras paragens, mas nem por isso deixa de ser uma menos retinta verdade o que digo.
4. Feito consultório sentimental ou divã de psiquiatra, acaba este blogue por adquirir uma dimensão que os seus editores, os meus bons amigos José Cadima e José Cadima, não tinham antecipado. Não é que a lógica de serviço público não estivesse no seu espírito. Foi, aliás, a este título que fui convidado para trazer o meu contributo. Mas consultório sentimental… Fico contente por assim ter acabado por resultar. Desse modo, satisfaz-se quem tem conselhos para dar e generosidade bastante para o fazer gratuitamente, e quem está carente de um conselho amigo (umas vezes mais amigo que outras) ou está necessitado de se acolher num divã de psiquiatra. Talvez se perca alguma da dimensão cultural inicialmente visada mas, como bem diz o povo, o óptimo é muitas vezes inimigo do bom.
5. Como dizia, gostei de ler os comentários. Sendo verdade que, por essa via, a ideia de ser eu a abrilhantar o blogue com as minhas crónicas de análise social cai em grande medida por terra, não deixa também de ser verdade que as sedes de interesse que assim se introduzem se amplificam imenso, com consequentes ganhos em matéria de número e variedade de leitores. Digo isto a pensar no sucesso do projecto dos meus bons amigos editores do blogue. Pessoalmente, já que escrevo sobretudo para mim, esse resultado acaba por se me sugerir embaraçoso. Todavia, atento ao compromisso que assumi, homem de palavra que sou, vou continuar por cá por algum tempo mais, fazendo figas, em todo o caso, para que os meus escritos passem tão discretos como sempre. Posto que preservarei o carácter episódico do registo, espero bem que assim resulte.

J. C.