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sexta-feira, novembro 02, 2012

terça-feira, dezembro 13, 2011

Tu(Eu)

Senti-me mal. Apeteceu-me chorar. Apeteceu-me correr rua abaixo até não me restar energia para mais. Não fui capaz!
Decidi tomar um banho. A água morna acalmou-me, mas não chegava. Peguei num pente. O pente deslizou-me sobre os cabelos encaracolados. Arrancou montes deles. Penteei o cabelo para a frente para me tapar os olhos. Aos poucos, as pontas encaracolaram-se para cima e deixaram-me ver a minha cara no espelho.
Senti uma vez mais necessidade de gritar; senti que se não gritasse acabaria para abafar. Explodi!
É por isso que hoje não resta de mim senão o que está à vista.

José Pedro Cadima

quarta-feira, setembro 28, 2011

O meu mundo

O mundo funda-se em muita coisa. Porquê? Porque é o mundo de muita gente: o meu mundo; o teu mundo; o mundo dele; o mundo dos outros. Não há o nosso mundo, pois o meu sou incapaz de partilhá-lo seja com quem quer que seja, ou talvez tente partilhá-lo, talvez consiga partilhá-lo, mas facilmente me refugio num sítio aonde ninguém consegue penetrar.

José Pedro Cadima

quinta-feira, outubro 02, 2008

O mundo do nojo

O mundo funda-se em muita coisa. Porquê? Porque é o mundo de muita gente: o meu mundo; o teu mundo; o mundo dele; o mundo dos outros. Não há o nosso mundo, pois o meu sou incapaz de partilhá-lo seja com quem for, ou talvez tente partilhá-lo, talvez consiga partilhá-lo mas facilmente me refugio num sítio aonde ninguém consegue chegar.
O meu mundo talvez seja diferente. Talvez seja maléfico, porque muitos o achariam impossível de viver, e eu ouso dizer que não sei viver nele.
Às vezes, o meu mundo parece-me seres tu. Mas é mentira… Tu és apenas uma tempestade. Disse apenas? Queria dizer que eras o próprio tempo, uma das causas que permite ou não a vida no meu mundo.
O tempo passa com o tempo (deveria passar, não deveria?), chuva, sol, neve, nevoeiro, mas a tempestade grande és tu. Sei lá porquê! Só sei que não percebo.
Quando não eras minha, angustiava-me que o não fosses. Sentia nojo de seres doutro. Quando eras minha, incomodava-me teres sido doutro. Sentia raiva de não teres sido minha, primeiro. Quando passares a ser novamente de outro, sentirei nojo de teres sido minha e de seres de outro, depois.
Sinto nojo de mim mesmo por pensar assim. Sinto-me nojento por ter desejado partilhar alguma coisa contigo. Incomoda-me ter tido alguma ligação a ti e, ao mesmo tempo, sinto-me mal por ter-te deixado fugir. Repito: sinto nojo por pensar assim!
Sinto nojo de mim por ter um orgulho fugidio quando o assunto és tu. Parece que ele se esconde. Parece que se abaixa para te deixar passar por cima de mim. Parece que gosta de se mostrar naqueles momentos em que te faço mal e, por isso, sinto nojo de mim. Mete-me nojo o meu orgulho. Mete-me nojo o meu orgulho pela forma como me rebaixa perante mim e te magoa a ti. Desgosta-me gostar tanto de ti. Desgosta-me pensar e sentir assim.
Metes-me nojo por pensares assim. Pensar como tu pensas, ver as coisas como tu vês, mete-me nojo… Pura e simplesmente, mete-me nojo. Mete-me nojo a maneira como inclinas a cabeça. Parece que nada do que te digo está certo ou, às vezes, parece que estará certo demais. Mete-me nojo não estar certo. Mete-me ainda mais estar. Enjoa-me querer-te e enjoa-me não te querer. Sinto insuportável esta confusão.
É seguro que não estamos apaixonados… Isso faz-me sentir o que já sabemos mas, por dentro, o sentimento é tão de compaixão, tão à mesma de desejo, tão pouco do género fazer tudo à volta brilhar que não pode deixar de me desgostar, de me enojar. Essa é a realidade que não precisa de ser imaginada.
No fundo… tudo me mete nojo. Mete-me nojo amar-te. Mete-me nojo achar que tudo acabou. Mete-me nojo pensar em recomeçar. Mete-me nojo o meu orgulho, o teu pensamento, as minhas maneiras, as tuas maneiras. Mete-me nojo a nossa amizade. Mete-me nojo aquilo em que ela se fundamenta, que, porventura, será no nojo.
Porque é não há o nosso mundo?

José Pedro Cadima

domingo, setembro 21, 2008

Crianças no Cinema

O rapaz esperava sentado nas escadas, um pouco impaciente. A rapariga tinha ido à casa de banho. O rapaz olhava tudo, até as outras raparigas que passavam. Aproveitava ou tentava aproveitar este pequeno tempo de liberdade, mas não conseguia. Queria a sua apaixonada. Que ela voltasse depressa. Por isso mesmo tinha comprado bilhetes para o cinema, para a ter bem próxima de si.
A rapariga, na casa de banha, estava nervosa vá-se lá saber porquê! Desde sempre, esta adorável menina tinha exprimia nervosismo por tudo e por nada. Até houve um ano em que, sem querer, pisou e matou um lagarto ou, pelo menos, assim pensou, pois tinha-lhe saído e cauda (quando esta parou de mexer, a menina havia chorado copiosamente). Agora, na casa de banho, ela apenas pintava os olhos e via-se ao espelho, para estar mais apresentável.
Nunca tinha ido ao cinema com um namorado. Era o seu primeiro namoro “a sério”, porque este tinha beijo com sabor. A nenhum dos outros tinha ela dado um beijo com a língua. Apenas a este namorado, e agora iam para o cinema ficar umas horas aos beijos. Não era por acaso que tinha sido escolhido o filme com mais tempo que estava em exibição.
A rapariga aproximou-se do rapaz e estendeu-lhe a mão para ele a ver. Este, estava concentrado a ler os resumos dos filmes numa pequena brochura mas, ao ver a mão da sua amada, rapidamente lhe deu a mão e se levantou, engoliu em seco e esticou-se devagar para lhe dar um beijo. Um toque de lábios, apenas. A língua? Essa guardá-la-ia para depois.
Entraram de mãos dadas. A sala estava escura e grande. Tinha pouca gente. Isto sim era cinema, para eles. Sentiam arrepios na espinha, estavam nervosos mas desejavam-se e, degrau a degrau, desceram a sala de cinema até dois terços dela. Sentaram-se num canto da fila para não darem tanto nas vistas e esperaram…Ainda davam os anúncios e nem o rapaz nem a rapariga eram capazes de abrir a boca e agir naturalmente. Parece que para ambos era a primeira vez que acontecia tal experiência…
O filme começou, as primeiras imagens de filme começaram a aparecer: o director, o produtor, os actores mais importantes, e, por detrás, surgiam as imagens do início do enredo. Era sobre um mundo mágico, sobre amor e harmonia. Eles não haviam escolhido o filme por isto mas sim devido à duração. Seria isso ironia? Talvez, mas os jovens não prestaram atenção ao filme e ele, que estava mais impaciente que nervoso, fazendo contraste com ela que estava mais nervosa que impaciente, deu-lhe um beijo, um magnífico e sedutor beijo.
A rapariga, que não estava preparada, abriu a boca rapidamente, num acto quase de quem se propunha trincar algo, mas este contraste não durou muito. Logo após, a sincronia pareceu perfeita. Beijo atrás de beijo, eles foram cumprindo o que o destino lhes reservara para aquele lugar. Beijarem-se, beijarem-se, beijarem-se … As mãos do rapaz, que eram mais curiosas do que a sua língua, que apenas se mantinha na boca da rapariga, procuraram o resto do corpo da sua apaixonado e, com um puxão na perna dela, fizeram com ela ficasse com a mesma em cima do colo dele. Os Beijos não paravam. As mãos dela ganharam vida pouco depois, mas eram muito menos curiosas que as dele: apenas lhe amarraram o cabelo, puxando-o para ela.
Num certo momento, as portas abriram-se e a música passou a ser outra que não a do genérico do filme… Eles pararam… Olhavam-se apaixonadamente. Nunca tinham sido tanto um do outro… Dentro deles gritava-se a palavra amor.
Quando, mais velhos… Não… Não se casaram, nem se lembravam deste momento. Apenas se lembravam das zangas que tiveram. Do amor não… porque isso… Isso é só nos filmes…

José Pedro Cadima
(excerto de texto intitulado “Ano de abertura”)

quarta-feira, agosto 27, 2008

Abdicar

Abdicar… Aí está algo realmente difícil. Só a palavra já inspira medo.
Abdicar… A sua força derrubaria não uma montanha mas uma serra inteira. O seu peso puxaria o sol até mim.
Já perdi tudo, já perdi tudo tantas vezes… Agora abdico, abdico daquilo que uma vez perdi e de que, quando tomei a certeza que era meu, abdiquei.

Acendo um cigarro (eu não fumo, apenas me vejo com um cigarro nos momentos mais mórbidos; talvez seja em razão da proximidade da morte), vejo o fumo sair e, subitamente, começa a chover (o tempo é sempre o mesmo, a chuva cai dos meus olhos!). Apago o cigarro e percebo que estou descalço, nu e num deserto gelado, na noite mais fria do ano (sentimento constante).

Abdiquei da lua pois não encontrei nada mais belo. Desejei ser outro. Desejei que tudo fosse diferente. Depois desejei ser eu mesmo e ter tudo como agora. Tornei isto num ciclo de desejos. Por fim, passei a contradizer-me. Agora tento perceber qual deles sou e como está tudo.

O vento gelado sopra e trás com ele neve. O meu corpo não cede. O fumo daquele cigarro é como a dor que sinto: algo acabado de tirar do coração, sempre quente.
A dor é que me mantém vivo. É a prova de que sinto. Se não houvesse dor, não havia nada.
Dirijo-me para norte. Qualquer Canguru ficará feliz por me ver e acolher em sua casa.

Abdiquei ainda no outro dia de um pouco de tempo da minha vida. Foi por uma boa razão: meter o ombro deslocado no sítio. Tive, pois claro, o custo de oportunidade: não vi de que é que tive que abdicar mais. Quando souber o que foi, chorarei por isso.

Estou a ver ao fundo a casa gelada.
- Abdicarás do teu deserto gelado para entrar nesta bela casa? – perguntou o Canguru.
- Ó meu filho da puta… Põe-te no caralho!

José Pedro Cadima

domingo, junho 29, 2008

Sonhos...

Sonhos...
Sonhos? Eu?
Acho que não...
Amiude, nem dormir satisfatoriamente sou já capaz.
Quem me dera...

José Cadima