quarta-feira, maio 30, 2007

Preciso de ti

Tinha eu tantos planos,
planos para toda a eternidade,
mas parece que tudo acaba amanhã.

Tenho tanto medo disso.
Tenho medo de,
quanto mais me aproxime de ti,
mais tu me faças chorar.

Preciso ouvir-te dizer que me amas.
Sei que é mentira
mas, mesmo assim, anseio as tuas palavras.

Preciso que o digas;
preciso que mo faças acreditar.
Preciso que me mintas,
como se da mais imaculada verdade se tratasse.

José Pedro Cadima

segunda-feira, maio 28, 2007

O Porto

Neste rio de água suja
dos crimes humanos,
vejo uma cidade de prédios velhos
ou de monumentos?
Neste rio, vejo uma cidade de pedra já podre
ou serão, apenas, os meus olhos a vê-la assim?
Pode dizer-se que é antiga
ou será mais uma velharia de um país velho,
que já foi grande
e agora é pequeno
e velho, como esta cidade?

José Pedro Cadima

sábado, maio 26, 2007

As quatro estações do ano

Tu és como as quatro estações:
és a minha branca
e linda neve do Inverno;
és a minha suave
e virgem flor de Primavera;
és o meu doce
e suculento fruto de Verão;
és o meu belo
e magnifico pôr-do-sol de Outono.

José Pedro Cadima

quinta-feira, maio 24, 2007

Um namoro de Abril

Foi dia dois de Abril,
porque tudo antes era mentira
ou desejava eu que fosse.

Foi dia dois de Abril,
porque eu te desejei
e tu me disseste que me desejavas mais, ainda.

Foi dia dois de Abril,
porque depois seria demasiado tarde,
que te fiz jura de amor eterno.

Foi dia dois de Abril,
porque tu assim quiseste
e eu loucamente desejei este namoro.

José Pedro Cadima

terça-feira, maio 22, 2007

O meu coração

Se me perguntarem
quem é que em mim manda,
responderei apenas “o meu coração”,
pois é ele e só ele
que escolhe quem amo.

José Pedro Cadima

domingo, maio 20, 2007

Gritei

Eu gritei, não ouviste?

Fizeste-me apenas ruído de mosca.
Quem me dera ser importante.

Pisaste-me, passaste-me por cima,
sobrepuseste o teu querer ao meu
(o meu sempre foi melhor, não duvides)
e, agora, como uma criança
imatura e com remorso,
questionas-me sobre o que quero.

Quem me dera ser importante para ti!

José Pedro Cadima

quinta-feira, maio 17, 2007

Podias ter tido a lua

A lua cheia acordou mais cedo
e a primavera correu para chegar a tempo
mas, mesmo assim, foi tarde:
quando chegou, já tu tinhas destruído tudo.

Para trás pouco ficou.
Eu gostava tanto, mas tanto de ti
que o que ficou foi um pouco de muito,
desse muito que, sendo tão pouco,
era, mesmo assim, demasiado.

Agora, tenho pouco para te dar;
agora, apenas como namorado me podes ter.
Podias ter-me tido como escravo, adepto e fanático.
Podias ter-me tido como teu adorador, dedicado e carinhoso.
Podias ter tido a lua, o sol e, até, o meu amor!

A lua cheia acordou mais cedo
e a primavera correu para chegar a tempo
mas, mesmo assim, foi tarde:
agora, tenho pouco para te dar!

José Pedro Cadima

terça-feira, maio 15, 2007

O tempo

Houve tempos em que o tempo
passava para de comer nos dar.
Passava do frio para o calor,
do calor para o frio, sempre a variar.

Havia alturas em que o tempo
passava para matar ou curar;
passava devagar, para nos ver sofrer.
É sádico, o tempo, o nosso tempo.

Houve tempos em o tempo saltitava.
Ás vezes, chegava até o tempo do amor.
Esclareça-se: não era o tempo que amava!

Agora, o tempo passa sem razão;
quer dizer, passa por passar,
dá passos em frente sem saber por onde caminhar.

José Pedro Cadima

domingo, maio 13, 2007

A vida pára

Não há nada que eu te possa dizer
para que te sintas melhor.
E seria estúpido dizer-te
que a vida continua,
pois tu sabes tão bem como eu
que a vida pára
naquele exacto momento
em que se deixa de amar alguém.

José Pedro Cadima

sábado, maio 12, 2007

O raiar do sol (2)

Cheguei à rua, irado com a vida, com as minhas escolhas, com as escolhas dos outros. Tinham sido feitos estragos na minha pessoa, no meu orgulho e coração.
- Toma atenção!
Não tomei, fingi não ouvir. As manchas de dor estragavam a camisa branca reflectora daquilo que não era digno. Eu não era digno.
Tombei por fim a cabeça para traz, aproveitando o sol que raiava.
- Vejo que te decides por fim a ouvir-me!
- Desde que me tires estas ideias da cabeça, ouço-te sempre que quiseres.
- Muito bem. Cumprirás essa promessa?
- E porque não?
- Está feito! Virás ouvir a minha mensagem de tempos a tempos, e verás que te faço sentir melhor – disse o sol raiando de felicidade.
- Que tal começar já hoje?
- As pessoas olham o chão – e começou, sem dizer se ia realmente começar. Sem explicação, começou de imediato embalado em minha pressa – cada uma delas preocupada com uma pedra, com o padrão dela.
“Olham uma flor e vêem o insecto que se alimenta dela. Faz-lhes nojo… e pena: nojo de ter um insecto a tocar-lhe, dai a nossa reticência em tocar-lhe, até mesmo quando o insecto já saiu; pena pela falta de escolha da flor que se viu obrigada àquela associação quando uma imatura semente se decidiu cair ali.”
Olhei o sol. Queimaram-se-me os olhos.
- Presta atenção ao que digo mas não ao que sou. O mesmo não deverás fazer com os que te rodeiam. Continuando a mensagem de hoje, podem até tocar na flor, acariciá-la, mas parecem-me piores que insectos. Tiram-lhe toda a vida ao arrancá-la, de uma só vez.
- A tua mensagem parece-me mais um julgamento!
- E é... Mas não passa de uma introdução, de um discurso entre o bem e o mal. Uma análise às más decisões. Todos temos que saber distinguir para, por fim, percebermos a individualidade de cada escolha. Como a da própria mensagem que te transmito aqui.
- Sol... Raia-me apenas silêncio na face!
José Pedro Cadima
(16 de Abril de 2007)

sexta-feira, maio 11, 2007

Tu e eu

Teu contacto era tão distante,
tuas palavras, afónicas,
teu toque, inexistente…

Meu pensamento, frustrado,
minhas lágrimas, dolorosas,
meu sentimento, tristeza…

Tu e eu!

José Pedro Cadima

quarta-feira, maio 09, 2007

A parede não chora

Não me encosto em ninguém.
Encosto-me à fria parede,
que me ensinou tudo o que sei.

Mas desonro seus ensinamentos
já que a parede não chora,
enquanto eu me desfaço em lágrimas.

Com ela, tudo aprendi:
a ignorar a passagem do tempo;
a achar o frio agradável.

Quero ser uma parede,
uma parede grande,
para que se encostem em mim,
e eu… em ninguém!

José Pedro Cadima

segunda-feira, maio 07, 2007

Choro o que tenho que chorar

Por momentos,
apago-me do mundo.
Não choro muito,
nem choro pouco.
Choro só o que tenho que chorar.

José Pedro Cadima

sábado, maio 05, 2007

O homenzinho cor-de-rosa

Existia um homenzinho cor-de-rosa
que reflectia uma luz esplendorosa.
Na medicina, do cancro achou a cura.
Na pastelaria, deu nome à doçura.

Um dia, encontrou o amor.
Ela era comparável à mais bela flor.
Então, a mais bela flor ele foi procurar;
no bosque mais escuro foi penetrar.

Enfrentou árvores monstruosas,
esquivou-se do maior gigante,
enganou bruxas horrorosas,
e saiu de lá com a flor, triunfante.

A ela lhe deu a flor, única e bela.
A flor era quase tão deslumbrante quanto ela.
Mas ela rejeitou-a, e no chão a flor caiu
e, desse gesto, o coração do homem se partiu…

José Pedro Cadima

quinta-feira, maio 03, 2007

Os deuses

Chorei toda a noite,
e hoje chove.

Incrível o que fazem os deuses
para que não me sinta só!

José Pedro Cadima