sábado, dezembro 30, 2006

Desespero

E o momento da morte funde-se com o da vida formando uma camada de desespero incompreensível.

José Pedro Cadima

sexta-feira, dezembro 29, 2006

Carente de ti

Em cada momento
que te abraço
sinto-me mais forte,
mais perto de ti,
mais perto até de mim.
Grito por ti
quando estás longe
porque me sinto perdido
e fraco, muito fraco,
carente de ti.

José Pedro Cadima

quarta-feira, dezembro 27, 2006

O medo

O medo sente-se
como nada sentido:
a respiração;
os nervos aos saltos...

A consciência dos erros,
a certeza da inconsciência;
o medo de tudo;
o medo que te apanhem.

Será que o medo teme algo?
Se temer,
será o próprio medo.

José Pedro Cadima

segunda-feira, dezembro 25, 2006

O parque

Lembraste do parque?
Aquele com vista para o Tejo?
Nós os dois,
num banco sentados,
trocando beijos,
com tanto amor.
Só quero reviver
esse doce momento.

José Pedro Cadima

sábado, dezembro 23, 2006

Coração falante

Ahahahaha!
Apanhei-te outra vez,
e neste meu poder
sempre te vou apanhar.
Não sou fraco.
Não sou como tu.
Tenho a quem fazer sofrer.
Sei matar-te sem morrer.
Sou o coração
que te prende à dor.

José Pedro Cadima (2005)

Querido Pai Natal

Queria pedir-te alguma sanidade, pois é isso que mais me falta. A paz no mundo não me aquece nem me arrefece. É apenas uma utopia que muitos desejam sem sequer saber porquê. A guerra não é aqui; não vai cá chegar.
Quereria pedir-te alguma noção de tudo o que se passa. Sinto-me perdido; sinto-o de verdade. Não vejo dia em que não anoiteça, nem noite em que não veja o sol nascer. Todo o meu corpo suporta este cansaço, queixando-se apenas da saudade dos lençóis e não da cama.
Não te peço nada disso, por mais poder que tenhas. Não fui suficiente bom menino e castiguei o meu corpo com todas estas penosas noções. Em breve emergirá a verdade de tudo. Em breve perderei o resto da sanidade que me resta.
Não sei em que ano estamos. Talvez seja o ano dois mil ou o quatro mil. Pouco importa. A esperança média de vida não chega a um século e o ano faz apenas parte de uma data marcada para efeitos gerais. Também não me lembro do dia em que faço anos e já lá vão tantos que nem a minha idade sei. Pouco me importa se sou adolescente, adulto ou idoso. Continuo a ser eu. Pouco me importa se faço anos em Janeiro ou Agosto. Continuo a ter a mesma mãe.
Talvez o Pai Natal me pudesse dar a entender todas estas coisas e porque é que as marcamos. Talvez, nessas circunstâncias, também me possa dar a vontade de saber as datas que realmente importam: em que dia e mês nasci; em que ano estamos; entre outras. Talvez, quando lho perguntar, mo possa dizer.
Tamanho foi o meu desinteresse para com a vida que já não sei se isto é viver. Sei que se parece com tal: respiro, mexo-me, alimento-me, vejo, oiço e agora até escrevo à sua pessoa, que tão pouca gente sabe porque nos visita duas vezes por ano, uma vestida de velho outra de coelho.
Já lhe pedi tantas coisas. Sei que foram mais aquelas em que me deu algo. Ter tanto fez-me mal. Talvez a culpa seja sua. Mas também outros têm tanto e ainda lhes dão mais e não perdem o interesse em receber. Talvez tudo isto seja apenas fraqueza minha.
O meu desinteresse arrasta-se tanto que além das datas do meu nascimento, o ano em que estamos, a idade do senhor que ninguém conhece, não sei também identificar muitos dos feriados patrióticos que se avizinham aí. Serei por isso um traidor da pátria? E se o for? Serei traidor de mim mesmo por não me lembrar do dia em que nasci? Que importa!? Talvez não importe. Não tenho datas. Não sei o nome das pessoas que conheço, e escrevo uma carta à única pessoa que ainda me visita.
Já não sei as datas e confesso-lhe que se não tivesse ouvido um passarinho cantar que amanhã era dia vinte cinco, e feriado, nunca lhe escreveria esta carta interesseira a pedir que neste Abril me traga um pouco de sanidade.

José Pedro Cadima (2006)

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Sinto paixão

Sinto paixão
e enrolo sentimento.
Fico parado a olhá-los.
Vejo o tempo passar
mas, no amor,
faço eu o tempo andar.

José Pedro Cadima (2005)

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Silêncio

O silêncio
funde-se
com os meus ruídos:
os do papel
e do lápis,
enquanto escrevo.
E, mais tarde,
o que escrevo
é lido,
e, sendo-o, ao silêncio,
juntam-se doces
ou pálidas
emoções.

José Pedro Cadima (2004)

domingo, dezembro 17, 2006

Beijar-te

Era capaz de beijar o teu corpo todo,
e depois voltar a fazê-lo.
Era capaz de te olhar nos olhos,
e contemplar a beleza que deles irradia, durante horas.
Era capaz de te abraçar,
e sonhar que esse momento durasse para sempre…

José Pedro Cadima (2004)

sexta-feira, dezembro 15, 2006

A tua beleza

Escrevo poemas sobre ti
pois a tua beleza
me inspira,
e dá-me força
para continuar
a sorrir e a sonhar.

Escrevo
na expectativa do teu amor,
ansiando que não me enganes
com mentiras,
mas me encantes com verdades.

Escrevo pois tenho o dom da palavra,
tal como o dom de amar
e admirar
quem ama.

Escrevo como sinal de vida,
buscando a realidade
e almejando a imaginação libertar.
Escrevo como rejeição de amarras
outras que não sejam as do amor.

José Pedro Cadima (2004)

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Onde se esconde o amor ?

E como um tiro
furou o meu peito
e meu coração.

Como uma lança
trespassou-me,
vazando a fonte da minha inspiração.

Como um canibal
comeu o meu sentimento,
que se esconde no último verso de cada terceto.

José Pedro Cadima (2005)

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Minha Querida Helena

Já percebi a tua mensagem! Não precisas mais manter-te incomunicável com o mundo para não correres o risco de ouvir a minha voz do outro lado da linha. Não o queres, não o farei! Para mais, sei-te acompanhada por quem gostas muito, o qual, seguramente, te saberá dar o conforto que sei que te é necessário.
A esta distância, ganhou toda uma outra clareza a insistência que punhas na pergunta que me dirigiste na última ocasião em que estivemos juntos, em fim de jornada. O “agora, para onde é que me levas?”, que eu não percebi, não queria significar outra coisa senão a despedida que tinhas planeado e que imaginaste à medida da derradeira refeição de um condenado. Daí a tua recusa em acompanhar-me no jantar. Por isso, a tua tristeza, mesmo quando, acompanhando as pombas e as gaivotas, por alguns instantes, esvoaçaste ao longo da margem do rio.
Confesso-te que não sinto mágoa por não ter entendido o alcance do teu aceno de naufrago. Nunca gostei de despedidas. Evito-as sempre que posso. Se noutras ocasiões fui cúmplice de outros rituais de despedida, fui-o na ânsia de eternizar esses momentos de comunhão e porque, no fundo, sempre me recusei a creditar que fossem os últimos de uma entrega intima que, embora tu o recuses, foi muito profunda. Falo no passado, para invocar esses instantes, embora se apresente mais adequado usar o presente, querendo reportar-me ao amor que te tenho e que é agora alvo de expressão de recusa tão violenta da tua parte.
Com esse íntimo, questiono-me por quanto tempo mais aceitarás receber estas minhas cartas; quanto tempo passará até que, simplesmente, te recuses recebê-las ou lê-las. Aí, tens sempre a solução simples das rasgares antes de as abrires. Porventura, se isso te dá maior sossego exterior, toma as minhas cartas como correspondência de duas pessoas que cultivam o hábito e o gosto da escrita; dois velhos amigos de saudosas lides literárias.
Para mim, desde que as não tenha de volta, fica-me sempre a esperança que as tenhas lido e o conforto resultante de pensar que continuo a ter alguém com quem posso comunicar e a quem posso transmitir emoções e sensações provindas do fundo do coração.
De mim, meu amor não correspondido, terás todo o carinho e incentivo para que percorras um caminho mais feliz do que o que trilhaste comigo, e a certeza, que gostaria que désseis por certa, de um ombro onde sempre podes repousar.

Braga, 6 de Agosto de 2004


José Cadima

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Felicidade...

As minhas mãos ardem
só da vontade de escrever
e desabafar tudo aquilo
que sinto e relatar tudo o que vejo.
....
(O silêncio; o choro;
o amor; o ódio...)
Quem sabe se um dia
serei capaz de ser feliz...
Tudo o que sinto parece trazer-me mais infelicidade!
E tudo o que procuro não encontro!
Alguma vez serei feliz?
(Choro. Que mais posso fazer?
Que mais farias tu no meu lugar?
Pois é, nada senão chorar...)

José Pedro Cadima (2005)

domingo, dezembro 10, 2006

Mortos…

“Eu morro;
tu morres;
ele morre;
nós morremos;
vós morreis;
eles morrem.”
A vida termina sempre assim.
E mesmo enquanto vivos,
de certa forma, não estamos senão mortos:
mortos de desejo;
mortos de vontade.

José Pedro Cadima (2005)

sábado, dezembro 09, 2006

Cinco dias até lá

Apenas daqui a cinco dias
poderei gozar a tua companhia.
Até lá…
Serão cinco dias sem ti…
Serão cinco dias sem ver a luz,
cinco dias sem ver o sol,
cinco dias de completa escuridão.

José Pedro Cadima (2004)

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Amor que me prende

O teu olhar
prendeu-me,
tal como
o teu amor.

Só tu me fazes feliz.
Só o teu amor,
só o teu carinho
me fazem sorrir.

José Pedro Cadima (2004)

terça-feira, dezembro 05, 2006

Escrevo com sangue

Escrevo com sangue
linhas nunca escritas,
coisas tão certas,
com letras tão ternas.
Na beleza do sangue
acho a beleza da vida.

José Pedro Cadima (2005)

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Melancolia...

Quero algo melancólico...
Não! Quero algo risonho,
para destroçar.
Quero algo espantoso,
para amedrontar.
Na melancolia desta vida,
não há ninguém a quem rezar,
não há nenhum deus
a quem os pecados contar.
Só existo eu.
Só existes tu.
Mais do que isso não há.

José Pedro Cadima (2005)

sábado, dezembro 02, 2006

Respirar a teu lado

Desde que te conheço,
tenho outro tipo de felicidade,
outro sorriso,
outro sofrimento,
outra tristeza,
outra dor.
O desespero é maior,
mas também o é a luz.
Até a minha forma
de respirar é diferente.

José Pedro Cadima (2005)

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Aliviado?

Sim, aliviado.
De certa forma, sinto-me…
Não! Não me sinto…
Oh! Não sei…
Talvez…
Talvez tivesse sido preferível
não lhe dizer,
não me expor,
e, simplesmente, olhá-la
de longe.

José Pedro Cadima (2004)