quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Numa árvore

Numa árvore,
a raiz é a alma
e as folhas os sonhos.

Já é Outono,
e as folhas caíram,
e a raiz está seca
do calor do Verão.

O tronco aguenta-se
encostado a outras árvores
que ainda estão na Primavera.

Na árvore que sou,
estou no Outono,
mas espero ser
a Primavera de alguém.

José Pedro Cadima

Vampiros…

Saiam vampiros
do vosso covil!
Ouçam os suspiros;
são mais de mil.

Matem, mutilem
toda, toda a gente.
Neste desesperado desdém,
entretanto bebe-se aguardente.

Ninguém se importa.
É só mais uma morta.
Noutro dia foi um morto.
Tudo parece ser desporto.

José Pedro Cadima

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Tenho medo!

Caminho pela estrada
escura e suja
para tentar chegar a algum lado.

Tenho medo de perceber
o que o futuro me reserva.
Tenho medo:
para a morte, é cedo!

Tenho medo
de ser como quem odeio,
mas quero ser quem tu amas,
para ainda mais me odiar.

José Pedro Cadima

domingo, fevereiro 25, 2007

Acordo a sentir teus beijos

Acordo a sentir teus beijos.
Adormeço a imaginar teus abraços.
Ao saudar-te, posso jurar
que sinto teus lábios.

Estremeço só de me lembrar de ti.
Sinto teus os meus cabelos pela manhã
e pareço sentir tua boca
ao beber água cristalina ao pôr-do-sol.

Vejo-te onde quer que me encontre
e chamo por ti como se chamasse pela vida.
Estou louco.
Estou louco por ti!

José Pedro Cadima

sábado, fevereiro 24, 2007

O valor dos sentimentos

Que valor
têm os sentimentos
se ninguém os respeita?

Que valor
tenho eu
se sou todo sentimento?

Que valor
tens tu
se só sinto algo por ti?

José Pedro Cadima

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Não sou o teu amor

Odeio-me!
Não sou o ser magnífico
que procuras.

Odeio-me!
Não sou o sonho
que buscas.

Odeio-me,
por não me amares!

José Pedro Cadima

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Diz-me o teu sonho

Diz-me o teu sonho.
Diz-me o teu sonho
para o tentar realizar,
talvez assim
nos possamos mutuamente ajudar.
Diz-me o teu sonho!
Diz-me algo
que não tenhas ouvido,
ainda que não tenha nada de grandioso,
nada de bíblico.
Diz-me o teu sonho!

José Pedro Cadima

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Mergulhado num poço

Salto do alto, sim senhor.
Salto do alto por amor.
Caio fundo, meu senhor;
caio fundo mergulhado em dor.

Não há escadas para subir
e cá em baixo estou.
Não consigo sorrir,
miserável eu sou!

No fundo do poço
ninguém me ouve.
No fundo do fosso
ninguém … me ouve…

José Pedro Cadima

domingo, fevereiro 18, 2007

sábado, fevereiro 17, 2007

O sabor de uma nova paixão

Em mim, já só sinto amor,
já só sinto paixão.
Em mim, sinto o sabor
de uma nova desilusão.

E como se não fosse já cruel
este invenerável mundo,
vieste tu com asas de papel,
qual fada, tocar-me bem fundo.

José Pedro Cadima

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Mais um grito

É noite e está frio.
Sinto mais um arrepio.
Faltam-me palavras para expressar
sentimentos que alguém ousou roubar.

De olhos quase vidrados,
olho lá para fora,
guardo minha alma aos bocados,
que tenta ir-se embora.

De verdade, tenho medo,
não encontro consistência nas palavras,
enquanto perco proximidade a um qualquer conto de fadas.

Então grito
até sair tudo de mim:
frio, medo e pozinhos de perlim-pim-pim.

José Pedro Cadima

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Minha Querida Helena

Espero que te encontres bem.
Após alguns poucos dias de silêncio, retomo o contacto na expectativa de não te maçar excessivamente. Aliás, com esta ausência quis evitar que as minhas cartas te cansassem como te cansou o meu amor. Infelizmente, não estou seguro de ser bem sucedido. Não me privarás dessa esperança!
Sem as tuas cartas a minha solidão foi (ainda) mais completa. Não te digo, todavia, nada que tu não saibas; não digo nada que a minha pequerrucha não conheça bem. Falo, no entanto, da minha pequerrucha e de ninguém mais... envolto num mar de saudades tão grande quanto o oceano que algumas vezes mirámos aconchegados um no outro. Por onde andará a pequerrucha que me enche de saudades?
Privar-me das tuas cartas foi também o modo que encontrei de testar a minha resistência à dor ou, se quiseres, um modo de auto-flagelação. Sigo-te nisso, de alguma forma: disse-te vezes sem conta que não entendia o gozo que parecias retirar do sofrimento que, por vezes – vezes demasiadas - te aparecia espelhado no rosto e que tanto me afligia. Pois bem, resolvi experimentar a tua receita. Dessa experiência não retirei, entretanto, mais que amargura e dor, pelo que mantenho a afirmação da falta de sentido dessa auto-penalização.
Volto ao teu contacto, meu amor, mas sinto-me muito debilitado. Daí que as minhas palavras não possam deixar de te soar arrastadas e eu seja incapaz de te assegurar por quanto tempo mais o alento me assistirá. Dá-me energia a expectativa de que as leias, mas é quase só isso que me assiste, e, concordarás, é parco para alimentar uma alma sequiosa da sua alma gémea.
Minha querida Helena, ... am...

Braga, 17 de Agosto de 2004

José Cadima

Tal como…

Tal como
árvores livres
de folhas,
são os corações vazios
de amor.
As folhas cobrem o chão
e as lágrimas as minhas almofadas.

Tal como
árvores livres
de folhas,
aqui estou eu
de almofadas encharcadas.

Está frio,
muito frio,
por dentro, no coração,
e muito frio, por fora,
na rua.

Prédios cheios de gente,
como corações
plenos de amor.

Pessoas com fome,
tal como corações
carentes de amor.

José Pedro Cadima

domingo, fevereiro 11, 2007

Era de poetas

Estamos numa era de poetas.
Não sou o único;
não sou o primeiro,
nem serei o último.
Há os que escrevem
e há os que pintam,
mas trata-se sempre
de algo ditado pelo nosso íntimo.

José Pedro Cadima

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Eclodir de dor

Escrevo para desabafar.
Sim, porque tudo o que vejo
me dá motivo para pensar,
falar e, mais que falar, gritar,
dizer o que sinto.
Escrevo para dizer o que sinto,
dizer a verdade ou, até, mentir,
mas deixar sair tudo...
Só assim sou capaz de impedir que essa dor
ou, mesmo, o desejo de felicidade
ecludam dentro de mim.

José Pedro Cadima

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Cego de tristeza…

Estou cego agora…
Não sou mais nenhum herói.
Porque incomodas tu
esta ferida que tanto me dói?

Não me peças mais
para te encontrar um caminho.
A liberdade acabou!

José Pedro Cadima

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Minha Querida Helena

Por vezes, é tão difícil falar contigo. Há ocasiões em que tenho a sensação que só te escutas a ti. Digo-o não no sentido figurado - de que o teu pensamento prevaleça sobre o de outrém (o meu) - mas no exacto sentido em que, pura e simplesmente, ignoras o que te procuro transmitir, e fico a repetir palavras, a exprimir emoções crescentemente irritado e tentando controlar a vontade de bater com o telefone. Nessas ocasiões, concluo sempre, e algumas vezes digo-to, que não devia ter telefonado. O problema é que não sou capaz de antecipar quando não te devo ligar e, uma vez entrados nessa conversa de surdos, é tarde de mais para recuar, se bem que o devêssemos fazer. Cortando, estabelecendo a ligação a partir do início, a possibilidade de sucesso da comunicação é inquestionavelmente outra.
Curiosamente, isso acontece mais em ocasiões em que procuro exprimir-te a preocupação que tenho com a tua saúde ou com a tua estética, o que configura a ideia, que já te tenho repetido, de que essas são peças da tua estratégia de auto-flagelação, sendo certo que, magoando-te, me magoas também, embora as consequências desse gesto sejam bem mais gravosas para ti.
Quando finalmente consigo que me ouças, dizes-me amiúde que sou eu que sou incapaz de julgar a ordem das prioridades: a prioridade de alguém que chega e que espera atenção sobre a prioridade de agendar uma consulta médica; a prioridade de arrumar a sala sobre a prioridade de realizar um tratamento no hospital; a antecedência absoluta de uma visita ao café da D. Felizmina, de um cigarro sobre a visita ao cabeleireiro.
Não entendes tu que essa tua ordem de prioridades me confunda e me contrarie? Porque não aceitas tu, minha querida, que eu queira ver-te fresca e bonita? Onde está a irrazoabilidade deste meu querer?
Helena querida, fico a ansiar o teu sorriso.

Braga, 14 de Julho de 2004


José Cadima

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Amar

Quando se sofre
aprende-se a amar
quem nos ama.
Nessa altura,
aprende-se também a desculpar
quem não nos amou.

José Pedro Cadima

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O amor é…

O amor
é uma simples palavra.
Daquelas muitas
que não valem nada.

O amor
só existe como sentimento,
forte e confuso,
mas sempre sofredor.

O amor
é nada mais que uma expressão
vinda do coração.

Mas, no fim,
nem a palavra,
nem o sentimento,
nem a expressão
servirão para algo
se recebermos um não.

José Pedro Cadima

domingo, fevereiro 04, 2007

Espero um sinal de inspiração

Tempos parados;
sentidos estrangulados,
vazios de emoção.

Procuro inspiração.
Ponho o lápis na mão
e traço mais uma linha,
esperando um arrepio na espinha.

Só quero um sinal,
algo bom,
como uma bola de cristal.

José Pedro Cadima

sábado, fevereiro 03, 2007

Zonas escuras

Venham os demónios!
Nunca passei por mais;
nunca passei por menos;
apenas passo por sítios diferentes,
com zonas escuras,
que me deixam a pensar em ti.

José Pedro Cadima

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Como se fosse ódio

Sem querer, apaixono-me,
e de cada vez que isso acontece
sinto que morro.
Sempre louco, nunca sóbrio,
eu amo como se fosse
ódio.

José Pedro Cadima

Quero-te!

Não percebes o que te digo
pois já o digo sem to dizer.
Já não sei o que sinto,
nem o que mais fazer
e o desejo de ti aumenta sem o querer.

Quero-te!
Que mais há para dizer?
Que mais posso fazer?
Quero-te!
Podes tentar percebê-lo?

José Pedro Cadima

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Momentos de lágrimas

Se há momentos
em que se percebe tudo,
é no momento
em que se chora.

Se há algo a dizer
que fique por dizer
e se faça silêncio,
é ao cair de cada lágrima.

Se há algo a fazer,
fá-lo sem ninguém
realmente o perceber,
e, sobretudo, abraça
e chora com quem chora!

José Pedro Cadima