sábado, fevereiro 27, 2010

30 dinheiros

Foi-me penosa a semana, muito penosa. Pese aquilo que já vi, nem mesmo assim me custa menos ver a facilidade com que alguns se vendem por 30 dinheiros, ou até menos.
Houve tempos em que olhei para o meio onde por opção profissional me movimento como um espaço privilegiado de partilha, de superação pessoal, de dedicação, de respeito pelos outros e pelo mundo. Hoje sei com mais segurança que nunca que os oásis são acidentes: estão condenados pela afirmação esmagadora da aridez, do vento agreste que empurra a areia para os lugares mais recônditos, logo que uma fresta fica aberta.
Resta-me deixar de olhar para o lado. Resta-me, simplesmente, seguir em frente. Hoje, como sempre, prefiro continuar só que estar mal acompanhado.
Foi-me penosa a semana, muito penosa. Custa-me que não subsista lugar para as pessoas, na sua individualidade, na sua ânsia de carinho e aspiração de felicidade, sempre precária.
Onde estão os momentos de convívio, as manifestações de amizade que nos reuniam algumas tardes em redor de um prato de rissóis? O caminho que percorremos fomos nós que o escolhemos ou alguém o decidiu por nós? E se o decidiu por nós, quais são os valores maiores, de humanidade, que o justificam?
Neste turbilhão de desumanidade, prefiro continuar caminho sozinho. Fico melhor só que mal acompanhado.

J. Cadima Ribeiro

terça-feira, fevereiro 23, 2010

domingo, fevereiro 21, 2010

Romagem de saudade

Estou de regresso de Leiria, onde estive outra vez em breve romagem de saudade. A saudade levou-me a lugares emblemáticos: à praia velha, que estava particularmente bela, deserta que se apresentava do muito lixo que a conspurcou durante muitos anos, ao pequeno vale encantado encrostado na mata nacional que ruma à praia velha, a S. Pedro de Moel, ao pinhal do meu avô José Pedro... Terá sido o meu avô que esteve mais presente na minha memória durante esse tempo. O seu/nosso pinhal é inseparável da sua memória. Cruzando-o, não sou capaz de deixar de recordar-me das visitas que lhe fazíamos, juntos, sobretudo no Verão, acompanhados pelo cantar das cigarras.
Estas visitas provocam-me sempre sentimentos múltipos, gratificantes uns, amargos outros. Gostei de reencontrar o meu irmão. Tive dificuldade em transmitir-lhe as palavras de ânimo de que porventura precisa e que tanto merece que lhe sejam ditas. Evitei cruzar-me com os poucos outros familiares que me inspiram boas recordações, talvez receando que me dessem notícias que se sugerissem também elas amargas.
Hei-de lá voltar com mais tempo e com espírito mais liberto, com mais força para combater os múltiplos fantasmas que me assaltam logo que paro o carro, e com maior vontade de trocar abraços com aqueles que estiveram ausentes desta visita. Quando será a próxima visita, não sei, mas hei-de lá voltar!

J. Cadima Ribeiro

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

O tempo (2)

Houve tempos em que o tempo passava do frio para o calor, do calor para o frio, sempre a saltitar.
Houve alturas em que o tempo passava para matar ou curar; passava devagar, para nos ver sofrer. Era sádico, esse tempo, o nosso tempo.
Houve tempos em que o tempo saltitava. Às vezes, chegava até o tempo do amor. Esclareça-se: não era o tempo que amava!
Agora, o tempo passa sem razão, quer dizer, passa por passar, dá passos em frente sem saber por onde andar. Parece-me perturbado, este tempo, o nosso tempo.

José Pedro Cadima

domingo, fevereiro 14, 2010

O Dia dos Namorados

O Dia dos Namorados não é um dia como qualquer outro. Ai não que não é!…
Em primeiro lugar, é um dia em que a maior parte dos casais tenta participar de uma forma ou de outra, sejam namorados recentes, acabadinhos de entrelaçar, sejam o Sr. José e a D. Maria que até já festejaram as bodas de ouro, ainda que a maior parte dos anos tenham discutido afincadamente … Nada que se compare ao dia internacional da mulher, ao dia da árvore ou mesmo da SIDA. Não, o envolvimento no Dia dos Namorados só é comparável à comemoração do Carnaval.
Na realidade, o assédio comercial é tão grande, que é muito difícil não querermos participar num dia que apela ao amor e que relembra o gorduchinho Cúpido, com ar de maroto a atirar flechas que nos acertam em parte conveniente e que passam a química necessária para nos babarmos e passarmos a idolatrar alguém.
Mas, sinceramente, ou é porque já estou a ficar velha ou então o tal Dia tem vindo a perder a piada… Digam-me se não tenho razão! Depois de o cavalheiro ir a correr (se for num dia da semana – felizmente não precisarão de correr hoje, domingo) comprar uma simples flor ou um ramo à florista mais próxima, para a versão mais “pobre” em termos comerciais, claro está, eis que depois do reencontro depara o cavalheiro e a cavalheira com um restaurante (escolhido a dedo e que garantia grande intimidade) cheio de cavalheiros e cavalheiros que procuraram o mesmo. A desilusão só pode ser grande!
Há uns oito anos atrás estava em Lisboa, num destes Dias, e pude presenciar durante quase uma hora a correria em direcção a uma qualquer florista e depois a desilusão e o espreitar para as outras mesas, num restaurante de Lisboa, tentando ver se a prenda era melhor do que…
Mas no Dia de Namorados há várias situações que importa lembrar e sobre as quais não podemos falar de forma cientifica, não em relação a cada situação, mas sim à percentagem de casais que se enquadra em cada uma delas. Se não, vejamos:
1-Uma parte razoável (gosto desta palavra, pois “a maioria” não me parece que seja a realidade) efectivamente ao entregar uma rosa vermelha (alguns com ela cravada nos dentes, para parecer mais romântico) à sua amada e uma prenda qualquer estão na verdade a querer reafirmar o seu amor por outra pessoa.
2-Existirá uma outra parte, também razoável, que enquanto entregou uma rosa vermelha e um colarzito de pérolas à esposa, terá dado um de valor superior à sua amante, para a calar, pois não poderá passar a parte mais romântica do dia com ela ou porque efectivamente é a ela que ama mais…mas por uma qualquer razão pouco emocional não é com ela que estará naquele momento especial…
3-Há uma parcela minoritária que não gozará o Dia, mas que efectivamente não precisa de dias para comemorar o seu amor…
4-Há ainda uma outra parcela minoritária que não gozará o Dia, porque não tem dinheiro para o fazer e/ou porque já não tem nada para festejar e assume publicamente tal facto.
Para mim, o facto da minha filha querer fazer um jantar quase surpresa e querer deixar-me desfrutá-lo só com o meu namorad0 tem muito mais significado... Ainda não tenho a certeza se funcionará, mas revela, pelo menos, que outra pessoa repara e confirma o nosso amor…
.
Leonor

sábado, fevereiro 13, 2010

Afinal, ler os jornais ainda vale a pena

A conjugação de múltiplos afazeres com a percepção de que os jornais só tratavam de assuntos fúteis levou-me nos derradeiros anos a abdicar da respectiva leitura sistemática, coisa que fiz décadas a fio, especialmente do Expresso, apesar do director que tinha (José António Saraiva). Para a dita falta de tempo não concorreu o que me toma a redacção de singelas crónicas de análise do quotidiano como esta, já que, como é sabido, esse foi exercício que não cultivei senão muito esporadicamente no período recente.
Desfolhando fortuitamente o Jornal de Negócios de ontem, vejo agora ter sido pouco fundado o sentimento que alimentei sobre o que se escreve nos jornais ou, pelo menos, nalguns deles. Há, de facto, matéria que vale a nossa atenção e escritos que nos esclarecem e iluminam. É disso exemplo o texto de onde pude extrair passagens como as que reproduzo de seguida:
- “Cá por mim, sempre detestei pregadores moralistas, pelo que descansem os leitores que não vão gramar um sermão da montanha. Vão gramar, sim, o enjoo de quem está cansado de falta de saneamento básico, político-social, nestes tempos em que ´palavra de honra` já só é uma imprecação, não um juramento inabalável” (F. Braga de Matos, JN, 12 de Fev. 2010);
- “Estamos cada um por si, excepto nas associações de pequenos interesses que é o máximo de agregação social que se consegue vislumbrar, e que tem por finalidade sacar o maior bocado a que se pode deitar mão” (F. Braga de Matos, JN, 12 de Fev. 2010);
- “Não passam de gente de ejaculação precoce, num frenesim de parecer que chegaram ao fim, em auto-presumido sucesso” (F. Braga de Matos, JN, 12 de Fev. 2010).
É verdade, trata-se tudo de passagens do mesmo texto. Daí pode inferir-se sobre a respectiva abrangência e riqueza analíticas. Não são sequer as passagens mais significativas posto que outras há que dizem que “Pergunto-me se muito não tem a ver com esses ´post-moderninhos`, de cabeça vazia ou tóxicos na mão que, curiosamente, se encontram em lugares de influência e até predominância […], com esses legisladores que evitam o erro ortográfico (graças ao ´word`), mas não o de sintaxe, e fazem jorrar reformas, leis confusas e contraditórias, sem sedimentação ou ajustamento social” (F. Braga de Matos, JN, 12 de Fev. 2010).
Sendo um artigo de inquestionável interesse, como sublinho, em função da respectiva densidade, acaba por não ser um texto fácil. Essa dificuldade interpretativa sugere-se logo no início, como seguramente os(as) meus(minhas) queridos(as) leitores(as) terão percebido a partir dos excertos que retenho. Na verdade, se S. Agostinho tivesse feito os seus sermões aos peixes “da montanha”, seria muito duvidoso que estes o pudessem escutar. Por outro lado, permito-me também duvidar que o sujeito que sofre de “ejaculação precoce” se sinta satisfeito ou bem sucedido no quadro da cópula almejada. Pode até ejacular sem conseguir ultrapassar as primeiras defesas, o que, para além de frustrante, pode mesmo deixá-lo envergonhado perante a(o) parceira(o), tanto mais se esta(e) for fortuita(o).
Não sendo claros na generalidade dos casos os destinatários da crítica veiculada, de passagens como “fazem jorrar reformas, leis confusas e contraditórias, sem sedimentação ou ajustamento social”, pode inferir-se visar o analista o ministro Silva, ou o outro da justiça, cujo nome não me ocorre nesta ocasião, ou o ministro Gago, que se sabe ser especialista em fazer de conta que é um grande reformador e homem de ciência, ou, quem sabe… Entretanto, quando invoca “associações de pequenos interesses que é o máximo de agregação social que se consegue vislumbrar, e que tem por finalidade sacar o maior bocado a que se pode deitar mão”, será mais fácil perceber a ligação que visará estabelecer aos nomes de Sócrates, Ferreira Leite e Portas, em particular, que, para além de se arrastarem pelas cadeiras do poder há uma eternidade, são useiros e vezeiros em partilharem orçamentos de estado, submarinos e cavalos de Tróia, para além de lugares de administração em empresas públicas e aparentadas.
A passagem sobre os “´post-moderninhos`, de cabeça vazia ou tóxicos na mão” é, todavia, a que mais me intriga, já que não me ocorre quem são os fumadores que o governo ou a actual assembleia da República albergarão. Será o Alegre? Questiono-me porque, a ser fumador, vejo-o mais de charuto cubano na boca e, sendo cubano, não se lhe poderá chamar tóxico. Por sua vez, com todo aquele marketing do “jogging”, o Sócrates não deverá ser fumador, embora se possa admitir que sofra de ejaculação precoce, coitado.
Seja como for, o que importa mesmo aqui sublinhar é que ainda se faz boa análise social nos jornais. Apraz-me constatá-lo. Fico por isso confrontado com a necessidade de retomar velhos hábitos de leitura.

J. C.

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O ser que sou

Entendo-me tão bem com o ser que sou que me causa tédio ver-vos falar daquilo que não sabem.
Porque sou sincero e porque assumo os erros que cometo, sou eu quem erra.
Rejeito a hipocrisia. Não vou ser eu quem fará escolhas pela humanidade, embora as faça para mim. Rejeito quem se arroga decidir sobre a vida de outros quando nem a sua sabe gerir.
Não vou gritar nunca por utopias não realizáveis. Eu cá luto pelas minhas e faço-o em silêncio para ver se se concretizam.
Respeito todas as escolhas, desde que vos façam felizes. Não me obriguem é a aceitar as vossas, porque, como sabem, eu sou o que sou!

José Pedro Cadima

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Ser perfeito

Ai, meu bom amigo, que nem a tua presença me faz sentir melhor. É como se fosse mau ter emoções. Se não sentisse nada, seria deus na terra.
Nesse passo para ser deus, a minha sabedoria é já quase infinita, e as minhas considerações sempre justas.
Neste entretanto, pena tenho eu de não ser perfeito, o que torna isto de viver um grande desafio.

José Pedro Cadima

sábado, fevereiro 06, 2010

Fantasma (2)

Vamos dar as mãos;
vamos apertar-nos um contra o outro
de modo que possamos parecer um só,
mais robusto, mais forte.
Vejo, escondido na noite,
um fantasma
que desaparece por baixo de candeeiros
com formas humanas.
Intimidar-se-ão, também, os fantasmas?

José Pedro Cadima

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Resíduo

O amor é
um elemento residual.
O que nos junta
é o vício e o conforto.

O amor é
um sentimento maldito:
reclama de nós entrega,
esconde dor.

Perscrutando o horizonte,
não te enxergo.
Admito que andes por aí,
resíduo…

José Pedro Cadima

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Qual deles escolho?

Sentir-te
Amar-te
Adorar-te
Qual deles escolho?
Todos envolvem Riscos
Riscos que quero Correr
Mas que não deixam de atemorizar-me
Correr até não poder mais
Parar para te Beijar
Beijar-te para Sentir-te
Sentir-te e …
Amar-te ou Adorar-te?
Lá estou eu outra vez...
Qual deles escolho?...

C.P.