Minha Querida Helena,
Já está: o congresso chegou ao
fim e com ele encerrou-se mais um ciclo anual. No meu íntimo é, de facto,
assim, quer dizer, o congresso da ERSA, realizado a cada última semana de
Agosto, constitui o momento simbólico de fecho de um ano de trabalho e o
anúncio do início da nova época. Senti-o assim também este Agosto, pese a sua
realização em Portugal e o meu afastamento das celebrações sociais que o evento
integrou. Percebi-o assim mesmo que me ache demasiado desgastado, em
termos físicos e de ânimo, para enfrentar o novo ciclo que se anuncia.
Em boa verdade, o congresso
encerrou para mim ontem; um dia antes da subida em barco do rio. Não me achei
com forças para enfrentar aquele desafio e, receando soçobrar perante o olhar
público, retirei-me. Sou dos que prefiro chorar em silêncio a expor a minha
desgraça ao mundo. Provavelmente, estarei ultrapassado neste jeito de ser mas é
desse modo que sei exprimir-me.
A ti, conto-te isto por te
tomar como um complemento de mim, um espelho em que posso observar a minha
imagem; se bem que receie cada vez mais que, à mingua de luz, mesmo o espelho
se recuse a refletir-me a figura, especialmente, o rosto e os olhos
entristecidos.
Falo-te disto neste dia, e
talvez te devesse falar, antes, do mês que é
decorrido desde a derradeira ocasião em que pude ter-te sentada a meu
lado, por acaso num banco de jardim, perscrutando o correr das águas de um
outro rio, mais dado à contemplação e à celebração da vida (tal qual o sinto,
pelo menos). Digo isto sabendo que não há data simbólica que te escape, pelo
que ouso pensar que nos reencontremos nessa invocação. Melhor para ti se assim
não for: quererá significar que vencestes a distância que separa um abraço
esboçado de um aceno de despedida. Eu, por contrapartida, recordo ainda como se
fora à bocadinho o teu calor transmitido nesse encosto de corpos.
Melhor fora que não lembrasse
e, daí, não sentisse a vontade de repetir esse aconchego. Melhor fora...
José Cadima
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