segunda-feira, janeiro 06, 2025

Minha Querida Helena (28)

Minha Querida Helena, 

Embora exausto, não me sinto tão ansioso e desencantado quanto me senti em diversas outras ocasiões ao longo da minha vida. Com surpresa relativamente ao que podia antecipar, sinto uma razoável tranquilidade. Se me questionassem a esse respeito, talvez dissesse viver um certo sentimento de paz íntima.

Poderá, porventura, ser a calmaria que antecede a tempestade. Será, porventura, expressão de um despojamento de que não me  imaginava capaz. Ou, então, sinal de um cansaço e de uma saturação que iam para além das forças que me sustêm. Tanta luta. Tanto desencontro. Tanta ânsia de atenção e carinho. Tamanha carência de amor.

A ânsia de carinho não se esvaneceu, é claro. A tranquilidade pode não ser senão uma face que ignorava do desencanto: para quem era acusado de querer ter duas mulheres, não deixa de ser irónico encontrar-se sem nenhuma ou, melhor, não ser certo que a sua necessidade de ser amado venha a ser reconhecida por alguma.

Onde pára a minha pequerrucha? Onde pára a minha alma gémea? Será que o seu sexto sentido não lhe dá já notícia dos sobressaltas de alma do seu amado? Eventualmente, interferências radioeléctricas mais fortes que o usual toldam-lhe a recepção dos sinais. Ou será a distância (a afectiva incluída)? Onde pára a minha Helena?

Olhando os sinais, pelo meu lado, tenho o sentimento que as Helenas me voltam a ser esquivas, e interrogo-me porquê. A única resposta que encontro parece remeter para o amor que lhes dediquei (dedico). Quanto eu as(a) amei (amo)! Esse parece ser o meu fado e a razão profunda do meu desencanto. Quem me dera que o amor que senti e sinto tivesse sido/fosse antes algo que se assemelhasse a uma brisa do mar, numa noite serena de Verão!


José Cadima

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