domingo, maio 29, 2011

Resíduo (II)

O amor é
um detalhe,
um quase nada
nas nossas vidas
plenas de incidentes.
O que nos junta é o vício
e a busca, ansiosa, de conforto.

O amor é
um sentimento maldito:
reclama de nós entrega;
esconde frustração e dor.

Perscrutando o horizonte,
não te enxergo.
Admito que andes por aí,
resíduo…

José Pedro Cadima

sexta-feira, maio 27, 2011

Intoxicação noticiosa

"Intoxicação noticiosa e debates entre dirigentes partidários foi coisa que abundou nas derradeiras semanas, de que nunca senti falta"

J. Cadima Ribeiro

quarta-feira, maio 25, 2011

Lua-de-mel

Falas de Lua-de-mel.
Dizes que nunca a tiveste.
Por vezes, sinto que sim,
que deixaste de fazer tanta coisa.
Mantiveste-te inacessível a tantas aventuras.
Finalmente, tentas fazê-las.
Envolves-me em mel,
mesmo que a lua não tenha ainda aparecido.
Sinto-me doce.
Quero a Lua,
mas será que preservarei o mel?

C.P.

domingo, maio 22, 2011

Um breve regresso ao passado

Já lá vai bastante tempo desde a ocasião em que eu frequentava com regularidade os aeroportos deste mundo, particularmente os europeus. Não sendo o momento que atravesso um retorno a esse passado distante, muito longe disso, esta memória não deixou de ocorrer-me quando, há uns dias, passi pelos corredores longos e movimentados do aeroporto de Frankfurt.
Não senti saudade desses tempos. Não fiquei confuso. Simplesmente, reencontrei-me com um ambiente que não deixou de se me oferecer familiar e, talvez por isso, me tenha transportado para outros tempos e outras “esperanças”.
Não se falava ainda da possibilidade de José Sócrates vir um dia a ser primeiro-ministro, para desgraça de Portugal, nem se especulava com a possibilidade de Teixeira dos Santos vir a ser ministro das finanças, para desgraça do país e descredibilização dos professores de Economia, sendo certo que parte destes merecê-lo-á, dada a facilidade com que, por quaisquer 30 dinheiros, se vendem. Na maioria das vezes já nem os 30 dinheiros reclamam. Contentam-se com aparecer na televisão por 10 minutos.
Perdão! Não era da política portuguesa (leia-se: da porca da política portuguesa) que era suposto eu falar aqui, nem sequer da incompetência com que a economia portuguesa vem sendo gerida de há muitos anos a esta parte, estivesse a tutela do governo entregue a Guterres, a Durão Barroso, a Santana Lopes ou a José Sócrates. Dos ministros da finanças e da economia respectivos não falará provavelmente a história, de tantos e tão cinzentos que foram na sua maior parte, se bem possa vir a recordar alguns pelo contributo decisivo que deram para a desgraça da economia do país. Obviamente, fizeram-no sempre pelas melhores razões e assumindo um rosto muito sério.
Sem sombra de dúvida, eram outros tempos aqueles que, neste percurso por aeroportos, recordo. Pensávamos (eu e uns quantos mais) que haveria lugar para uma entrega empenhada às nossas tarefas profissionais mas que havia também lugar para a esperança, e o sentimento do dever cumprido. Hoje, talvez continuemos a prosseguir empenhadamente as nossas tarefas (eu, pelo menos, faço-o) mas é duvidoso que nos sobre o entusiasmo e, seguramente, escapou-se para lugar incerto a esperança, apesar de eu acreditar que nos deveria ser preservado, acima de quase todas as coisas, o direito à esperança.
Na correria própria de um grande aeroporto, continuo a ver pessoas que sorriem, continuo a perceber colorido na expressão cosmopolita das gentes que o frequentam e nas vestes com que se apresentam. Entretanto, em razão das expressões faciais que transportam ou em razão do estado de espírito que me anima, não percebo alegria, entusiasmo, esperança. Entusiasmo, crença existirão porventura nalguns namorados com que ocasionalmente me cruzo. Apetece-me, então, desejar-lhes que os preservem por muito, muito tempo.

JC

domingo, maio 15, 2011

Maré (III)

A maré vai alta.
Ainda há pouco o mar se sugeria sereno.
Foi o vento,
foi um vento que lhe deu.

Eras a maré
contra a qual tinha que lutar.
Eras a corrente
que me arrastava para o mar alto.
Eras o meu tormento
e o meu prémio derradeiro.

Estranguladora e libertadora,
eras a morte da minha criatividade,
a minha paz eterna.

José Pedro Cadima

quarta-feira, maio 11, 2011

Dizer-te (II)

São tantas as saudades
que sinto de ti
que parece que partistes há muito,
muito tempo.
Amor da minha vida,
mar salgado,
deixa-me dizer-te quanta falta me fazes.
Deixa-me dizer-to vezes sem fim.
Liberta-te desses mostrengos
que te atormentam,
e, libertando-te deles,
liberta-me também.
Mar salgado,
deixa-me dizer-te
quanto me és preciosa,
quanto falta me fazes,
para sempre.
Meu amor, liberta-te desses mostrengos,
liberta-te e liberta-me, para sempre!

K

sábado, maio 07, 2011

A cor do mar (II)

Mar verde,
que és tão belo,
que fizeste ao azul
para ele de ti fugir?
Mar verde,
que és imenso e ondulante,
que fizeste ao azul
com que me cruzei há instantes?
Mar verde,
que me enches de esperança,
vem enrolar-te nos meus pés,
vem trazer-me a frescura que me escapa,
vem com tuas conchas segredar-me ao ouvido
que, amanhã, ao raiar da aurora, voltarás a ser azul dourado.

José Pedro Cadima

sexta-feira, maio 06, 2011

É bonito o poema

É bonito o poema.
Transpira emoção e dor,
a dor que se perceberia
mesmo que a tua mão não se sugerisse trémula
e as lágrimas não ameaçassem irromper a cada instante,
ao escrevê-lo.
É bonito o poema,
este poema de amor que escreveste
para denunciar o nosso amor de sempre,
porque existiu mesmo antes de nos encontrarmos,
como bem se percebe quando os nossos olhos se cruzam
ou quando dávamos as mãos.

K

domingo, maio 01, 2011

A 1 de Maio, apeteceu-me recordar "Gargalhadas amargas"

O mundo agita-se, roda

e o que eu mais quero é sossego

(e vislumbrar no horizonte sinais de esperança).

Se a agitação é própria do prazer que é a vida,

a tranquilidade não o é menos.


Sentir, sofrer, amar!

Eu sou só um,

e se a agitação me estimula

também me embriaga

e me tortura.

Na mesma medida em que anseio o frémito

desta Terra de oportunidades,

rejeito-lhe a inequidade,

a mesquinhez que grassa.

Daí que sejam amargas

as gargalhadas que por vezes liberto.


José Pedro Cadima