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quinta-feira, julho 03, 2014

Dependência

Em certas madrugadas,
certos dias, fazes-me mais falta.
Falta-me a suavidade da tua pele,
o teu encostar no meu peito,
o teu silêncio.
Em certos dias sinto mais a tua ausência,
como ontem, como anteontem,
como em vários outros dias precedentes.
A tua ausência custa-me cada vez mais,
sobretudo quanto te pressinto perto, inalcançável.
Tornei-me obsessivamente dependente dos teus
abraços, da tua mão na minha mão,
dos teus cabelos, que me afrontam, tantas vezes,
e não sei como fugir disso.
Frágil como nunca, sinto o perigo,
luto por preservar uma réstia de autonomia
que me permita a sobrevivência,
que não estou seguro que valha a pena.

K

domingo, maio 11, 2014

Estás em festa, pá

Estás em festa, pá.
Fico contente,
embora te preferisse ter junto de mim.
Os dois, seria festa bastante.

Estás em festa, pá.
Fico contente,
se bem que me pergunte
porque te agarras tanto a personagens do passado.
O presente é já aqui
e parece-me bem mais gratificante.

Tanto mar, tanta terra a separar-nos,
sendo embora certo o repouso que o mar nos dá
quando, de mão-dada, percorremos as suas areias,
olhamos a sua ondulação.

Tanto mar a puxar-nos um para o outro,
a entrelaçar-nos,
a lembrar-nos promessas de retorno,
a convidar-nos para pores-do-Sol sempre diferentes,
quase sempre deslumbrantes.

Estás em festa, pá.
Fico contente.
Mais contente estaria se, ao invés,
andássemos por aí mirando o deslumbrante das papoilas
que a brisa vai agitando,
calcorreando campos plenos de malmequeres amarelos,
brancos, roxos, e de tantas outras flores
ressuscitadas pela Primavera que corre.

Estás em festa, pá.
Fico contente!

K

terça-feira, abril 15, 2014

Flutuando (2)

Não longe de mim, há os que nadam,
os que saltitam, os que brincam com a água.
Eu flutuo.
Liberto do corpo,
vagueio pelos lugares mais desencontrados,
em busca de lugar algum.
Soa-me estranha esta ausência de materialidade.
Resta-me o pensamento,
que, liberto, tão depressa te procura quanto parte,
ao encontro do dia que passou
ou em busca do dia de contornos incertos que virá.
Soa-me estranho este espaço para deixar vaguear o espírito,
esta ausência de uma materialidade asfixiante
que nos enche o dia-a-dia de nada.
Flutuo, levito.
Sou só espírito, sou só vontade de ausência.
Trazendo-me à relação com a água, com a Terra,
chegas-me tu, de quando em quando.
Chegas-me da ponta mais afastada do arco-íris
e, por isso, a tua presença interrompe
mas não questiona a minha ausência de substância,
que se reconstitui logo que te afastas em braçadas largas.
Liberto do corpo que me pesa,
sou liberdade,
sou pássaro que plana empurrado pelo vento.
Hoje, fica-me longe o mundo que vivi ontem,
anteontem e em tantos outros dias precedentes.

José Cadima

quarta-feira, abril 09, 2014

São rosas, senhora! (2)

São rosas.
São mal-me-queres.
São flores de laranjeira.
Rosas brancas, amarelas, vermelhas
e outras de matizes variados.
Por isso, não deixam de ser rosas.
As flores de laranjeira são de tonalidade mais monótona,
o que não lhes retira encanto, nem cheiro.
Brancos são também os flocos de neve.
Na sua deambulação em direção ao solo,
esvoaçam, rodopiam, separam-se e unem-se
até resultarem num manto branco.
Nos mal-me-queres, mais do que nas rosas,
contam as pétalas:
mal-me-queres, bem-me-queres,
mal-me-queres, bem-me-queres, mal...
Não há flor que não tenha o seu encanto.
Não há flor que não tenha o seu encanto, ou há?

K

segunda-feira, abril 07, 2014

Em descompasso

Ele abraçou-me com carinho
Cingiu-me a si, em doce deleito
Ergueu o rosto 
E o seu olhar fixou o meu
Há vários anos que não o via
Esse olhar certeiro
Era novamente amor?
Em descompasso fiquei...

Katty

sábado, março 01, 2014

És a minha flor

És a minha flor
Que eu toco e cheiro todos os dias
Depois de retirar-te os espinhos
Transformas-te numa rosa sedosa
Tentas e transformas-te
Numa rosa menos brava
Numa rosa vermelha-carmim

K

domingo, fevereiro 16, 2014

Longe da agitação da urbe

Falas-me de ti.
Falas-me de mim.
Falas…
Uma extensa mancha de água à nossa frente:
o rio.
Logo a seguir, o mar,
revolto, agitado, neste caso.
Mais tranquilos estamos nós, nesta altura,
perto da imensidão da água,
longe da agitação da urbe.
Escuto as tuas palavras,
Espreito as gaivotas
recolhidas da sua ilha ocasional,
tempestade que vai no mar.
Fazem-me falta estes momentos
em que só o azul prateado da água,
as gaivotas recolhidas em terra contam.
O rio sugere-se cada vez mais prateado,
e a urbe mais distante.
Fica o espaço para nós
que nos falha quase sempre.

K

domingo, fevereiro 02, 2014

Frenesim

Na cama, junto de mim,
pressinto  a tua presença.
Dormes, sonhas,
quedas longe.
De outro local, não muito distante,
chegam-me sinais de frenesim,
suspiros de agitação intensa.
Queria-te perto.
Queria-te agitada
mas sou incapaz se quebrar o teu sono.
Ficas longe, queria-te perto.
Questiono-me se sonhas
ou estás simplesmente ausente.
Há horas em que a ausência
é repouso bastante.
Há momentos em que, para nos libertamos,
precisamos de ser capazes
de deixar-nos envolver num frenesim intenso,
que nos tira o folgo,
que nos alheia de tudo o mais.
Pressinto-te perto de mim,
embalada por sono profundo.
De local não muito afastado,
chegam-me sinais de frenesim imenso,
que a crueza do silêncio da noite não permite abafar.

K

quinta-feira, janeiro 23, 2014

O silêncio

É no silêncio
que te revejo
É no silêncio
que me apercebo
de quanto te amo
É no silêncio
que sinto o quanto somos iguais
Que fazer com o silêncio?
Alimentá-lo, parece-te bem?

C.P.