Minha Querida Helena,
Depois de muita ansiedade, cedendo a um impulso, resolvi ligar-te.
Procurava o conforto da tua voz, na dúvida sobre o desconforto das palavras que
me dirigisses. Sinto-me reconfortado por esse gesto, pese embora as notícias de
abandono que me veiculaste.
Permaneço na dúvida sobre se a tua desistência reiterada é fruto de um
momento menos bom da vida (que todos temos, de quando em quando) ou a forma que
encontraste de me penalizar. Nota porém que, a ser esta última a tua motivação,
estás a admitir a força do laço afectivo que me prende a ti.
Gostei que tivesses admitido
que me ligaste – para escutar a minha voz- disseste – se bem que pareça
estranho que, querendo ouvir-me, tenhas desligado logo que atendi. Se me
permites que o diga, acho isso mais auto-flagelação que qualquer outra coisa,
mas talvez seja isso mesmo que pretendas. A tua recusa em cuidares da tua
saúde, a tua insistência em descuidares o arranjo dos teus cabelos, o teu fecho
para o mundo – que procuras activamente, embora depois, do nefasto que isso te
é, reclames - vão nesse sentido.
Não precisavas ter-te posto
incomunicável depois disso. Não precisas, aliás, recear denunciar a tua
insegurança. Eu não receio fazê-lo. Antes, junto de ti a minha insegurança
esvai-se. Tu és a minha segurança e a minha insegurança!
Amor meu, que posso eu fazer
para te arrancar de novo um sorriso? Amor meu, que podemos nós fazer para que o
sonho volte a ser possível?
Fala comigo, meu amor! Faz de
mim o teu confidente, o teu refúgio, tanto quanto tu és o meu – quero
dizer, tanto quanto eu preciso que
voltes a ser o meu ... amor...
José Cadima
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