Minha Querida Helena,
Embora de licença sabática,
esgotei-me em trabalho no pretérito fim-de-semana. Almejava recuperar atrasos
acumulados, ganhar espaço e concentração para tarefas que tenho há muito
agendadas e, last but not least, não
criar ansiedade pela inviabilidade de te contactar. Recorrentemente, acudia-me
à memória o envelope com os exames médicos que realizastes no Porto, que,
justamente, acabaste de levantar, e era-me impossível desligar esse facto da
ausência de um telefonema teu na passada 6ª feira. Imaginação fértil a minha,
não deixarás tu de intuir.
Como uma desgraça nunca vem só
– como bem diria a voz do povo – eis que, chegados a 2ª feira, deparo-me com a
completa falha de ligações telefónicas no campus universitário. Por via desse
infausto evento, fiquei pois impossibilitado de concluir se a nossa ruptura de
contacto seria apenas fruto de uma conjugação infeliz de circunstâncias ou
resultado de vontade assumida, tua.
Que fazer? Como já questionava
Lenine, vai para uma centena de anos. Sinceramente, minha querida, já não sei.
Não sei que fazer; não sei que concluir; e, o que é mais, não sei como dar-te
ânimo, até porque, sem o teu conforto, o ânimo me vai faltando.
Se me permites o desabafo,
acredito que a resposta às fragilidades que enuncio – as tuas e as minhas -, se
quiseres, a resposta ao que fazer de Lenine, está mesmo só em ti. Sem o teu
grito de Ipiranga, o teu estado de alma não pode senão deteriorar-se (a tua
débil condição de saúde já te fragiliza quanto baste); sem o teu sorriso não
saberei sorrir.
Minha querida, nem que seja
apenas em memória do nosso amor, ensaia de novo a tua corrida, tal qual o
fizeste, há dias, em Ponte de Lima! Repara que, se tu tivesse perguntado antes,
ter-me-ias dito não ter forças para tanto e, afinal, foste capaz ... e foi
bonito ver-te, qual pomba solta...
José Cadima
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