sexta-feira, dezembro 13, 2024

Minha Querida Helena (10)

 Minha Querida Helena,

Embora de licença sabática, esgotei-me em trabalho no pretérito fim-de-semana. Almejava recuperar atrasos acumulados, ganhar espaço e concentração para tarefas que tenho há muito agendadas e, last but not least, não criar ansiedade pela inviabilidade de te contactar. Recorrentemente, acudia-me à memória o envelope com os exames médicos que realizastes no Porto, que, justamente, acabaste de levantar, e era-me impossível desligar esse facto da ausência de um telefonema teu na passada 6ª feira. Imaginação fértil a minha, não deixarás tu de intuir.

Como uma desgraça nunca vem só – como bem diria a voz do povo – eis que, chegados a 2ª feira, deparo-me com a completa falha de ligações telefónicas no campus universitário. Por via desse infausto evento, fiquei pois impossibilitado de concluir se a nossa ruptura de contacto seria apenas fruto de uma conjugação infeliz de circunstâncias ou resultado de vontade assumida, tua.

Que fazer? Como já questionava Lenine, vai para uma centena de anos. Sinceramente, minha querida, já não sei. Não sei que fazer; não sei que concluir; e, o que é mais, não sei como dar-te ânimo, até porque, sem o teu conforto, o ânimo me vai faltando.

Se me permites o desabafo, acredito que a resposta às fragilidades que enuncio – as tuas e as minhas -, se quiseres, a resposta ao que fazer de Lenine, está mesmo só em ti. Sem o teu grito de Ipiranga, o teu estado de alma não pode senão deteriorar-se (a tua débil condição de saúde já te fragiliza quanto baste); sem o teu sorriso não saberei sorrir.

Minha querida, nem que seja apenas em memória do nosso amor, ensaia de novo a tua corrida, tal qual o fizeste, há dias, em Ponte de Lima! Repara que, se tu tivesse perguntado antes, ter-me-ias dito não ter forças para tanto e, afinal, foste capaz ... e foi bonito ver-te, qual pomba solta...

 

José Cadima

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