domingo, dezembro 22, 2024

Minha Querida Helena (19)

Minha Querida Helena,

Cansado, repouso com as tuas cartas. Angustiado, tento convencer-me que esta separação que tu forçaste te vai proporcionar, pelo menos, a tranquilidade de espírito que tanto procuravas e mereces. Resta saber se este cansaço que me tolhe é expressão de um esforço que, nalguma dimensão, se pode afigurar portador. Resta confirmar se a tranquilidade que procuravas e mereces fica garantida com esta ruptura tão penosa e, mais do que isso, te vai permitir alcançar uma vida emocionalmente mais preenchida, quer dizer, mais feliz.

Desfilando memórias, recordo as vezes que me disseste quanto desejaste um beijo meu, há uma vintena de anos atrás, quando tal era para mim insondável e para ti uma infracção imperdoável. Deambulando pelas minhas memórias, recordo o encanto, o enlevo do nosso reencontro à pouco menos de uma dezena de anos. Não me julgava já capaz de viver uma paixão. Não acreditava já estar ao meu alcance encontrar a outra metade de mim com que todos sonhamos – assim o julgo. Afinal foi possível.

Finalmente, não quero crer que tudo não tenha passado de um sonho; se bem que um sonho que não me arrependo de ter tido. Afinal, a vida é constituída também por sonhos: nuns somos capazes de voar; noutros acabamos esmagados. É curioso, não é, como o nosso ânimo balança entre dois extremos como o são a euforia e o absoluto desalento? É intrigante, não é, como os nossos sonhos alternam o terror absoluto com a leveza suprema?

Cansado, volto-me para ti – quisera, antes, voltar para ti. Angustiada, cansada, fragilizada foges de mim, procuras com tão penosa rejeição recuperar a dimensão do sonho que nos permite voar ou, pelo menos, prescutas reganhar a tranquilidade de espirito que mereces.

Quisera, antes, voltar para ti, meu amor!


José Cadima 

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