Minha Querida Helena,
Tantos dias passados, rendo-me à evidência: não é simples acaso esta ausência de comunicação; definitivamente, devo concluir que já não gostas de mim (concedo que, em algum momento passado, possas ter gostado). Digo-te, no entanto, que não és a primeira que rejeita o meu amor. A minha história afectiva é, aliás, fortemente marcada por rejeições amorosas. Julgo, até, que de algumas nunca cheguei a recompor-me completamente.
Porventura, sou eu que não
serei merecedor do amor daquelas a quem, em expressão de desígnios insondáveis,
em momentos sucessivos da vida, resolvi confiar o meu coração. Porventura, a
minha sina reservou-me uma vida esforçada, de pequenas vitórias quotidianas,
mas fundamentalmente de desesperança. Talvez daí o tom amargo que carrego, como
que alguns me atiram, qual pedra se atira ao vulgar ladrão.
Ficas a saber, amor meu não
correspondido, que não há nada que eu desejasse mais – salvaguardado o
benefício do teu amor – que assumir um dia-à-dia descontraído, de sorriso
permanente nos lábios, sem que de uma máscara se tratasse. Será, quiçá, o meu
fado, tal e qual o é estar-me reservada o número 13 ou ser o último a ser
contemplado num qualquer sorteio.
Daqui talvez possas entender
quanto é importante para mim perceber os que me rodeiam felizes. É uma forma de
transferência como outra qualquer, isto é, das suas realizações recolho o
conforto que sei me estar vedado. Nalgum momento de intimidade passada havias
vislumbrado em isto de que te falo? Admito que sim, por ser tão óbvio. É, no
entanto, algo de que me inibo de falar, porventura porque é penoso (para mim e
para os demais) confessar-me infeliz. Quem gosta de conviver com gente infeliz?
Para infelicidade já basta a que carrega cada um.
Desculpa-me este instante de
particular fragilidade. Em atenção a algum momento bom passado, desculpa-me por
esta infeliz partilha, e esquece! Esquece,
para que de mim te reste apenas a memória deste amor que te dedico.
José Cadima
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