Minha Querida Helena,
Não encontrando outra forma de comunicar contigo, virei-me para a escrita desta carta. No desespero da tua ausência, a possibilidade de te ter ao telefone converteu-se para mim num refúgio seguro, por mais efémero e etéreo que se ofereça. Quando mesmo isso me escapa, resta-me esta pobre consolação do desabafo, na incerteza de alguma vez ser lido.
Dirás tu que tudo podia ser diferente. Digo eu que sim, se soubéramos conviver na sociabilidade quotidiana da mesma forma que convivem os nossos olhos, as nossas mãos entrelaçadas... Se soubéramos estar, digo, para além das amarras que a vida nos tece, chamem-se elas filhos, parentes, colegas ou conveniências e convenções.
E o amor? Questionarás tu. Minha querida, o amor é a componente mais frágil da relação humana dos nossos tempos. Tão frágil que nos faz definhar em cada dia que não estamos juntos – e cada vez são mais dias - mas não sensibiliza os que assistem ao nosso esgotamento.
Quisera estar contigo. Quisera alcançar a paz que a tua voz me trás. Quisera... Meu amor! Meu amor.
José Cadima