domingo, agosto 31, 2008

Minha Querida Helena

Sentado à mesa do restaurante, olho a mulher de cabelos louros que se senta, só, à mesa do piso inferior, à beira da doca, e penso em ti. Nos seus cinquenta anos (estimo), entretendo-se com o telemóvel, que pensará aquela mulher? Que angústias a assaltam? Porque se refugia no mexer nervoso no seu telemóvel cor-de-rosa? Cuidada no vestir, cuida-se porquê?
Só, à mesa, olhando o agitar das águas fronteiras, sentir-se-á só, como eu, porque me faltas tu, ou está simplesmente só?
Congratulo-me que se tenha ido embora entretanto. Assim, a tua ausência é-me menos penosa, a tua lembrança é menos permanente. Porque me trouxe a mulher que se encontrava lado a lado com a água desta doca a tua memória? Porque me sinto eu só ou porque me custa a tua ausência?
Quem se sentará de seguida na mesa agora deserta? Outra mulher loura, só, mexendo nervosamente num telemóvel cor-de-rosa ou de outra cor qualquer? São estranhos estes destinos que nos trazem longe e perto e nos confrontam com as angústias, supostas, dos outros, que, porventura, são sobretudo as nossas angústias.
Hoje, meu amor, sobretudo hoje, nesta hora, teria preferido ter-te aqui comigo, para que a imagem da mulher sentada, só, na mesa da frente, não me fizesse lembrar a minha solidão, as minhas angústias, a falta que me fazes, particularmente em ocasiões como esta.
Um beijo grande,

José Cadima

1 comentário:

Anónimo disse...

Estou sempre a teu lado. Olha bem em volta e verás...

Esta tua carta ainda é mais emotiva do que a outra. Emocionaste-me...

A tua Helena