quinta-feira, agosto 28, 2008

Minha Querida Helena

Sabendo-te longe, penso em ti. Estivesses tu perto e mais pensaria em ti. É estranho o que nos torna próximos, e mais intrigante é o que me faz correr para ti. Talvez em razão dessa estranheza, por vezes, sinto-me tentado a fugir-te.
Leio as tuas cartas e questiono-me sobre o que fazer com o teu amor, o que fazer contigo, desconfortado com esse amor que me dedicas, eu que me habituei a dores múltiplas e a amores que me trazem sofrimento. Certo de vir a desapontar-te, chego a perguntar-me se não teria sido preferível que essa paixão nunca tivesse despertado, que o acaso não te tivesse levado a olhar para mim como objecto de amor.
Não, não sei corresponder aos teus anseios, à tua sede de carinho. Objecto de amor, fico sem graça, mesmo se sem graça sempre estive, incapaz de dar-te o xicoração que mereces e incapaz de to negar por nele me reencontrar com uma dimensão escondida de mim. Refiro-me àquela dimensão que revela o ser carente de amor que sou.
Perturbado, passo em revista os breves momentos do nosso encontro, ainda tão recente, já tão intenso. Recordo o jogo com que pensei escapar-te, fugindo a admitir quanto me cativava imaginar-me desejado, objecto do teu amor. Soçobrei, fiquei aquém do que era exigível para resistir aos laços com que quiseste envolver-me. Frágil, outra vez. Frágil sempre, talvez quando fosse mais necessário que me mostrasse forte, inacessível na minha carência angustiada.
Sabendo-te longe, desejava-te perto, bem colada a mim.
Um beijo grande de saudade,

José Cadima

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi a carta de amor mais bonita que me escreveram até hoje, apesar dos meus 19 anos de existência.

A tua Helena