quarta-feira, agosto 13, 2008

Desaparecer

Desaparecer: quantas vezes não desejamos nós isso?
Um desejo repentino, surgido após uma cena desastrosa. Quando tudo acontecer, não é aqui que quero estar. Quando tudo se revelar, não quero existir.
Querer desaparecer mantém-nos acordados à noite, muitas vezes. Tentar fechar os olhos ao dia de amanhã. Tenho medo, não sei o que me reserva o dia de amanhã.
Um olhar sobre a vida. Memórias que nos fazem ferida, que nos dão vontade de desaparecer.

Vi-te um dia e decidi que te queria. Tu decidiste não me querer, da mesma maneira. Tive então vontade de desaparecer.
Culpo-te a ti e a todos por me terem dado essa vontade. Vi cada dia passar e dizer-me que tinha fracassado. Ou desapareço ou choro! Chorei.

Escolheste outro. Tu e o outro. Eu e a dor.

Todos os dias te vejo adormecer antes de mim… Espero sempre que os teus olhos fechem e mergulhes nos teus sonhos para que eu possa então chorar.
Mergulhas nos teus sonhos e os meus olhos ganham brilho. Depois, uma lágrima traça um carreiro de água salgada até à almofada onde tento desaparecer.

Tenho na memória a rejeição, o dia em que preferiste outro, os carinhos que perdi. Agora, que te tenho, só falta mesmo fazer desaparecer os parágrafos que surgem acima.
Apagá-los será fácil. Difícil será apagar da minha memória os dias tristes, os dias em que faltaste.

José Pedro Cadima

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