Minha Querida Helena,
Acordei hoje com uma violenta
dor de cabeça de que não me libertei até esta hora em que te escrevo, e são
17,00. Não dormi de mais nem de menos. Deitei-me ontem pelas 23,00 horas,
porque me sentia um pouco cansado e com sono, e levantei-me hoje cerca das oito
e meia da manhã. Acordei três vezes durante a noite, algo que é comum, e, com
mais ou menos dificuldade, adormeci algum tempo
depois.
Ontem, trabalhei até à hora de
me deitar mas parei quando senti que precisava terminar. A tarde passei-a a ler
o jornal, aguardando a ocasião de encontrar concentração para o trabalho que
tinha por realizar. Nos dias precedentes senti-me cansado mas não tive dores de
cabeça. Estranhei apenas o cansaço que me assolava, sem razão aparente, mas
mais estranho esta maldita dor de cabeça. Admito que as coisas estejam ligadas
mas, assim sendo, ou se trata do afloramento de um cansaço de que não cheguei a
recuperar de todo ou as razões são de outra índole, não sabendo eu precisar a
causa próxima. Num e noutro caso, isto incomoda-me e não apenas a dor de cabeça
que me atormenta nesta precisa hora.
Durante a manhã conclui a
tarefa em que peguei ontem ao fim da tarde. Outras ficaram a aguardar vez. Já
durante a tarde assumi funções de tutor e ocupei-me das dificuldades de domínio
da língua portuguesa com que se confronta o José Pedro – refiro-me à pontuação
e à acentuação das palavras. Percebo-lhe as dificuldades, porque também passei,
mas incomoda-me que me faça refém delas constituindo-me no único agente a quem
cumpre fornecer-lhe ajuda. Tentei ser criativo, pelo menos, propondo-lhe o
exercício de um diário ficcional, que me proponho corrigir com ele
regularmente. A primeira peça do “diário de bordo” construímo-la os dois.
Pareceu-me motivado para o exercício – também é verdade que a proposta levava
em linha de conta a sua motivação para a escrita, que mantém embora lhe faltem
instrumentos básicos, conforme se pode daqui concluir.
Gostava de acreditar que vai
funcionar e mais gostava que funcionasse mesmo. Libertava-me de uma
preocupação, pelo menos. O alívio não sei se seria muito grande, atendendo a
que sobrariam pelo menos mil, mas seria grande, ainda assim: uma a menos.
Talvez fosse bastante para que a dor de cabeça que sinto me passasse e ficasse
só cansaço igual ao que senti ontem e antes de ontem, cuja razão de ser não
alcancei, ainda.
Não como dor de cabeça mas
como memória grata, fui sempre recordando os fugazes instantes do nosso
encontro de 6ª feira pp. Instantes fugazes de mais para me transmitirem a
energia que bastasse para afastar o cansaço que entretanto voltei a sentir
desde há um par de dias. Vou ansiar por nova dose, desejavelmente reforçada. Se
ela me achegar em tempo e quantidade bastantes, talvez este mal-estar seja
superável. Doutro modo, receio que não sóbre tutor, nem investigador, nem
companheiro, nem ser carente de ti, meu amor.
Fica registado, para que
conste.
Recebe um abraço apertado e um
beijo deste que padece de muitos males mas, especialmente, da tua ausência,
José Cadima
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