Minha Querida Helena,
Há momentos em que nos
sentimos esmagados. Para mim, acabado de regressar de tua casa, este é um
desses momentos. A tua desistência, a tua doença e a tua atitude deixaram-me
num tal estado. Não é a primeira vez que sou atingido deste modo tão
fulminante. Não é, por isso, que me encontro melhor preparado. Em boa verdade,
há factos ou situações para as quais não parecemos jamais preparados. Diria,
entretanto, que me sinto mais impreparado do que alguma vez me encontrei;
talvez por estar mais velho, mais desgastado; talvez por ter deixado de olhar
para diante com o optimismo doutros tempos.
Sempre lidei com grande
desconforto com o que não era capaz de entender ou com dificuldades que
escapavam à minha capacidade de dar contributo para a sua superação. Os
problemas só existem quando nos escapam os instrumentos para a sua resolução.
Doutro modo, não são problemas; são desafios.
Esmagado, digo; confesso-me
esmagado e dolorido: não é em vão que vimos escapar-nos por entre os dedos um
amor sofrido de muitos anos; não é em vão que se assiste ao assumir de uma
atitude de desistência de qualquer esperança por parte da mulher que dá calor à
nossa vida – desistência que raia a própria sobrevivência física. Esmagado,
confuso, desesperado olho em redor e não vejo senão desolação, desesperança,
vazio quando, em vez disso, precisaria sentir o teu calor, o teu estímulo, o
teu entusiasmo para seguir caminho contigo, meu amor de ontem, de hoje, do
resto da minha vida.
Volta para mim minha querida!
Não deixes que o vazio se apodere de nós! Não deixes que eu desista porque tu
desististe. Lembra-te que a desistência não era palavra que constasse do nosso
dicionário. Não desistas, meu amor: volta para mim!
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