terça-feira, fevereiro 04, 2025

Minha Querida Helena (57)

Minha Querida Helena,

Longe, sinto-te longe, isto é, fazes-me falta acrescida. Longe, precisava-te perto, queria-te comigo mais ainda do que te necessito no quotidiano. Imagina, meu amor, a felicidade que podíamos desfrutar juntos, bem longe das rotinas e da mesquinhez do dia-a-dia.

Nestes poucos dias aqui em Barcelona, circunstâncias diversas mantiveram-me afastado de quase tudo. Surpreender-te-á, talvez, a pacatez da vida que aqui levei e a distância que mantive em relação a quase tudo. Não fiquei frustrado por isso. Lamentar, lamentarei tão só não te ter tido junto de mim, comungando dessa pacatez e tornando os meus dias mais aconchegados e, sobretudo, preenchidos por ti.

Já lá vai o tempo em que esta cidade me entusiasmava, no seu movimento, no seu colorido. Permanece uma cidade aberta, ainda é mais colorida que o comum das cidades mas já não se me sugere tão alegre: há nas ruas demasiados pedintes para que nos inspire contentamento; mesmo os prédios, a arquitectura se me oferece crescentemente cinzenta. Quiçá a cidade não esteja assim tão diferente e quem o esteja seja eu? Quiçá?! Talvez tudo me parecesse diferente se estivesses comigo. Talvez a sentisse mais fulgurosa, mais alegre.

Nesta hora, estou de regresso. Não lamento o tempo que aqui passei nem lamento ter estado ausente. Lamento apenas não te ter tido comigo, preenchendo os meus dias deste retiro e fazendo deles um pouco mais alegres, um pouco mais cheios, muito mais aconchegados. Sabes (sei que sabes – já te o repeti tantas vezes): tu és componente incontornável das minhas alegrias e frustrações. Quisera que fossem só alegrias! Longe, quisera ter-te comigo!

 

José Cadima

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