Minha Querida Helena,
Retomo o contacto contigo
depois de ausência longa, muito longa, motivada por razões de força maior. Foi
um afastamento penoso mas necessário, forçado por razões próprias de quem fez
caminho cruzando terreno bravio, sempre à beira de soçobrar.
Regresso cansado, de um
cansaço diferente daquele com que parti, mas, ainda assim, cansado. Embora às
vezes nos recusemos a admiti-lo, as viagens são quase sempre fatigantes, sendo
certo que ficar pode ser pior. Ensaio retomar algumas rotinas e, também,
algumas das referências que informaram a minha vida de sempre. Nem todas, já
que algumas me dizem pouco agora e outras receio não ter energia para as
agarrar de novo. Regressei, se bem que não esteja certo de que devesse ter
regressado ou, então, que seja este o momento certo para retornar a este lugar.
É verdade que muitas vezes -
porventura, demasiadas vezes – falta-nos a resposta para as questões que
colocamos, sendo bem melhores aqueles momentos em que não temos questões a
inquietar-nos. Sinto-me cansado, digo, mas, mais do que isso, sinto que me
falta ânimo e energia para enfrentar esta onda que tudo enreda e tudo arrasta,
deixando atrás de si desolação e destroços. Se destroço ainda não sou,
provavelmente pouco mais serei que desolação.
Custa-me a incerteza do que
farei amanhã ou, melhor, do que serei capaz de fazer amanhã, embora no meu
refúgio me sinta tranquilo, relativamente apaziguado com os meus espíritos e
seguro da sua inviolabilidade pelos espíritos alheios. O problema é quando abro
a porta e, desgraçadamente, abro-a vezes excessivas. Não o deveria fazer, eu
sei, mas há referências passadas de que nunca somos capazes de nos libertar por
inteiro (assim me parece).
Estou de regresso, embora não
esteja certo que seja avisado regressar e tenha por seguro que uma dimensão
fundamental de mim terá ficado nas paragens longínquas por onde deambulei
durante este tempo de ausência. Quem chega nunca é o mesmo sujeito que partiu.
No meu caso, chego mesmo a questionar-me quem sou já que dificilmente me
reconheço nesta desolação quase destroço em que me converti.
Gostava de te trazer boas
novas, meu amor de sempre. Gostava mesmo!
José Cadima
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