O rapaz esperava sentado nas escadas, um pouco impaciente. A rapariga tinha ido à casa de banho. O rapaz olhava tudo, até as outras raparigas que passavam. Aproveitava ou tentava aproveitar este pequeno tempo de liberdade, mas não conseguia. Queria a sua apaixonada. Que ela voltasse depressa. Por isso mesmo tinha comprado bilhetes para o cinema, para a ter bem próxima de si.
A rapariga, na casa de banha, estava nervosa vá-se lá saber porquê! Desde sempre, esta adorável menina tinha exprimia nervosismo por tudo e por nada. Até houve um ano em que, sem querer, pisou e matou um lagarto ou, pelo menos, assim pensou, pois tinha-lhe saído e cauda (quando esta parou de mexer, a menina havia chorado copiosamente). Agora, na casa de banho, ela apenas pintava os olhos e via-se ao espelho, para estar mais apresentável.
Nunca tinha ido ao cinema com um namorado. Era o seu primeiro namoro “a sério”, porque este tinha beijo com sabor. A nenhum dos outros tinha ela dado um beijo com a língua. Apenas a este namorado, e agora iam para o cinema ficar umas horas aos beijos. Não era por acaso que tinha sido escolhido o filme com mais tempo que estava em exibição.
A rapariga aproximou-se do rapaz e estendeu-lhe a mão para ele a ver. Este, estava concentrado a ler os resumos dos filmes numa pequena brochura mas, ao ver a mão da sua amada, rapidamente lhe deu a mão e se levantou, engoliu em seco e esticou-se devagar para lhe dar um beijo. Um toque de lábios, apenas. A língua? Essa guardá-la-ia para depois.
Entraram de mãos dadas. A sala estava escura e grande. Tinha pouca gente. Isto sim era cinema, para eles. Sentiam arrepios na espinha, estavam nervosos mas desejavam-se e, degrau a degrau, desceram a sala de cinema até dois terços dela. Sentaram-se num canto da fila para não darem tanto nas vistas e esperaram…Ainda davam os anúncios e nem o rapaz nem a rapariga eram capazes de abrir a boca e agir naturalmente. Parece que para ambos era a primeira vez que acontecia tal experiência…
O filme começou, as primeiras imagens de filme começaram a aparecer: o director, o produtor, os actores mais importantes, e, por detrás, surgiam as imagens do início do enredo. Era sobre um mundo mágico, sobre amor e harmonia. Eles não haviam escolhido o filme por isto mas sim devido à duração. Seria isso ironia? Talvez, mas os jovens não prestaram atenção ao filme e ele, que estava mais impaciente que nervoso, fazendo contraste com ela que estava mais nervosa que impaciente, deu-lhe um beijo, um magnífico e sedutor beijo.
A rapariga, que não estava preparada, abriu a boca rapidamente, num acto quase de quem se propunha trincar algo, mas este contraste não durou muito. Logo após, a sincronia pareceu perfeita. Beijo atrás de beijo, eles foram cumprindo o que o destino lhes reservara para aquele lugar. Beijarem-se, beijarem-se, beijarem-se … As mãos do rapaz, que eram mais curiosas do que a sua língua, que apenas se mantinha na boca da rapariga, procuraram o resto do corpo da sua apaixonado e, com um puxão na perna dela, fizeram com ela ficasse com a mesma em cima do colo dele. Os Beijos não paravam. As mãos dela ganharam vida pouco depois, mas eram muito menos curiosas que as dele: apenas lhe amarraram o cabelo, puxando-o para ela.
Num certo momento, as portas abriram-se e a música passou a ser outra que não a do genérico do filme… Eles pararam… Olhavam-se apaixonadamente. Nunca tinham sido tanto um do outro… Dentro deles gritava-se a palavra amor.
Quando, mais velhos… Não… Não se casaram, nem se lembravam deste momento. Apenas se lembravam das zangas que tiveram. Do amor não… porque isso… Isso é só nos filmes…
José Pedro Cadima
A rapariga, na casa de banha, estava nervosa vá-se lá saber porquê! Desde sempre, esta adorável menina tinha exprimia nervosismo por tudo e por nada. Até houve um ano em que, sem querer, pisou e matou um lagarto ou, pelo menos, assim pensou, pois tinha-lhe saído e cauda (quando esta parou de mexer, a menina havia chorado copiosamente). Agora, na casa de banho, ela apenas pintava os olhos e via-se ao espelho, para estar mais apresentável.
Nunca tinha ido ao cinema com um namorado. Era o seu primeiro namoro “a sério”, porque este tinha beijo com sabor. A nenhum dos outros tinha ela dado um beijo com a língua. Apenas a este namorado, e agora iam para o cinema ficar umas horas aos beijos. Não era por acaso que tinha sido escolhido o filme com mais tempo que estava em exibição.
A rapariga aproximou-se do rapaz e estendeu-lhe a mão para ele a ver. Este, estava concentrado a ler os resumos dos filmes numa pequena brochura mas, ao ver a mão da sua amada, rapidamente lhe deu a mão e se levantou, engoliu em seco e esticou-se devagar para lhe dar um beijo. Um toque de lábios, apenas. A língua? Essa guardá-la-ia para depois.
Entraram de mãos dadas. A sala estava escura e grande. Tinha pouca gente. Isto sim era cinema, para eles. Sentiam arrepios na espinha, estavam nervosos mas desejavam-se e, degrau a degrau, desceram a sala de cinema até dois terços dela. Sentaram-se num canto da fila para não darem tanto nas vistas e esperaram…Ainda davam os anúncios e nem o rapaz nem a rapariga eram capazes de abrir a boca e agir naturalmente. Parece que para ambos era a primeira vez que acontecia tal experiência…
O filme começou, as primeiras imagens de filme começaram a aparecer: o director, o produtor, os actores mais importantes, e, por detrás, surgiam as imagens do início do enredo. Era sobre um mundo mágico, sobre amor e harmonia. Eles não haviam escolhido o filme por isto mas sim devido à duração. Seria isso ironia? Talvez, mas os jovens não prestaram atenção ao filme e ele, que estava mais impaciente que nervoso, fazendo contraste com ela que estava mais nervosa que impaciente, deu-lhe um beijo, um magnífico e sedutor beijo.
A rapariga, que não estava preparada, abriu a boca rapidamente, num acto quase de quem se propunha trincar algo, mas este contraste não durou muito. Logo após, a sincronia pareceu perfeita. Beijo atrás de beijo, eles foram cumprindo o que o destino lhes reservara para aquele lugar. Beijarem-se, beijarem-se, beijarem-se … As mãos do rapaz, que eram mais curiosas do que a sua língua, que apenas se mantinha na boca da rapariga, procuraram o resto do corpo da sua apaixonado e, com um puxão na perna dela, fizeram com ela ficasse com a mesma em cima do colo dele. Os Beijos não paravam. As mãos dela ganharam vida pouco depois, mas eram muito menos curiosas que as dele: apenas lhe amarraram o cabelo, puxando-o para ela.
Num certo momento, as portas abriram-se e a música passou a ser outra que não a do genérico do filme… Eles pararam… Olhavam-se apaixonadamente. Nunca tinham sido tanto um do outro… Dentro deles gritava-se a palavra amor.
Quando, mais velhos… Não… Não se casaram, nem se lembravam deste momento. Apenas se lembravam das zangas que tiveram. Do amor não… porque isso… Isso é só nos filmes…
José Pedro Cadima
(excerto de texto intitulado “Ano de abertura”)
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