O mundo funda-se em muita coisa. Porquê? Porque é o mundo de muita gente: o meu mundo; o teu mundo; o mundo dele; o mundo dos outros. Não há o nosso mundo, pois o meu sou incapaz de partilhá-lo seja com quem for, ou talvez tente partilhá-lo, talvez consiga partilhá-lo mas facilmente me refugio num sítio aonde ninguém consegue chegar.
O meu mundo talvez seja diferente. Talvez seja maléfico, porque muitos o achariam impossível de viver, e eu ouso dizer que não sei viver nele.
Às vezes, o meu mundo parece-me seres tu. Mas é mentira… Tu és apenas uma tempestade. Disse apenas? Queria dizer que eras o próprio tempo, uma das causas que permite ou não a vida no meu mundo.
O tempo passa com o tempo (deveria passar, não deveria?), chuva, sol, neve, nevoeiro, mas a tempestade grande és tu. Sei lá porquê! Só sei que não percebo.
Quando não eras minha, angustiava-me que o não fosses. Sentia nojo de seres doutro. Quando eras minha, incomodava-me teres sido doutro. Sentia raiva de não teres sido minha, primeiro. Quando passares a ser novamente de outro, sentirei nojo de teres sido minha e de seres de outro, depois.
Sinto nojo de mim mesmo por pensar assim. Sinto-me nojento por ter desejado partilhar alguma coisa contigo. Incomoda-me ter tido alguma ligação a ti e, ao mesmo tempo, sinto-me mal por ter-te deixado fugir. Repito: sinto nojo por pensar assim!
Sinto nojo de mim por ter um orgulho fugidio quando o assunto és tu. Parece que ele se esconde. Parece que se abaixa para te deixar passar por cima de mim. Parece que gosta de se mostrar naqueles momentos em que te faço mal e, por isso, sinto nojo de mim. Mete-me nojo o meu orgulho. Mete-me nojo o meu orgulho pela forma como me rebaixa perante mim e te magoa a ti. Desgosta-me gostar tanto de ti. Desgosta-me pensar e sentir assim.
Metes-me nojo por pensares assim. Pensar como tu pensas, ver as coisas como tu vês, mete-me nojo… Pura e simplesmente, mete-me nojo. Mete-me nojo a maneira como inclinas a cabeça. Parece que nada do que te digo está certo ou, às vezes, parece que estará certo demais. Mete-me nojo não estar certo. Mete-me ainda mais estar. Enjoa-me querer-te e enjoa-me não te querer. Sinto insuportável esta confusão.
É seguro que não estamos apaixonados… Isso faz-me sentir o que já sabemos mas, por dentro, o sentimento é tão de compaixão, tão à mesma de desejo, tão pouco do género fazer tudo à volta brilhar que não pode deixar de me desgostar, de me enojar. Essa é a realidade que não precisa de ser imaginada.
No fundo… tudo me mete nojo. Mete-me nojo amar-te. Mete-me nojo achar que tudo acabou. Mete-me nojo pensar em recomeçar. Mete-me nojo o meu orgulho, o teu pensamento, as minhas maneiras, as tuas maneiras. Mete-me nojo a nossa amizade. Mete-me nojo aquilo em que ela se fundamenta, que, porventura, será no nojo.
Porque é não há o nosso mundo?
José Pedro Cadima
O meu mundo talvez seja diferente. Talvez seja maléfico, porque muitos o achariam impossível de viver, e eu ouso dizer que não sei viver nele.
Às vezes, o meu mundo parece-me seres tu. Mas é mentira… Tu és apenas uma tempestade. Disse apenas? Queria dizer que eras o próprio tempo, uma das causas que permite ou não a vida no meu mundo.
O tempo passa com o tempo (deveria passar, não deveria?), chuva, sol, neve, nevoeiro, mas a tempestade grande és tu. Sei lá porquê! Só sei que não percebo.
Quando não eras minha, angustiava-me que o não fosses. Sentia nojo de seres doutro. Quando eras minha, incomodava-me teres sido doutro. Sentia raiva de não teres sido minha, primeiro. Quando passares a ser novamente de outro, sentirei nojo de teres sido minha e de seres de outro, depois.
Sinto nojo de mim mesmo por pensar assim. Sinto-me nojento por ter desejado partilhar alguma coisa contigo. Incomoda-me ter tido alguma ligação a ti e, ao mesmo tempo, sinto-me mal por ter-te deixado fugir. Repito: sinto nojo por pensar assim!
Sinto nojo de mim por ter um orgulho fugidio quando o assunto és tu. Parece que ele se esconde. Parece que se abaixa para te deixar passar por cima de mim. Parece que gosta de se mostrar naqueles momentos em que te faço mal e, por isso, sinto nojo de mim. Mete-me nojo o meu orgulho. Mete-me nojo o meu orgulho pela forma como me rebaixa perante mim e te magoa a ti. Desgosta-me gostar tanto de ti. Desgosta-me pensar e sentir assim.
Metes-me nojo por pensares assim. Pensar como tu pensas, ver as coisas como tu vês, mete-me nojo… Pura e simplesmente, mete-me nojo. Mete-me nojo a maneira como inclinas a cabeça. Parece que nada do que te digo está certo ou, às vezes, parece que estará certo demais. Mete-me nojo não estar certo. Mete-me ainda mais estar. Enjoa-me querer-te e enjoa-me não te querer. Sinto insuportável esta confusão.
É seguro que não estamos apaixonados… Isso faz-me sentir o que já sabemos mas, por dentro, o sentimento é tão de compaixão, tão à mesma de desejo, tão pouco do género fazer tudo à volta brilhar que não pode deixar de me desgostar, de me enojar. Essa é a realidade que não precisa de ser imaginada.
No fundo… tudo me mete nojo. Mete-me nojo amar-te. Mete-me nojo achar que tudo acabou. Mete-me nojo pensar em recomeçar. Mete-me nojo o meu orgulho, o teu pensamento, as minhas maneiras, as tuas maneiras. Mete-me nojo a nossa amizade. Mete-me nojo aquilo em que ela se fundamenta, que, porventura, será no nojo.
Porque é não há o nosso mundo?
José Pedro Cadima
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