quarta-feira, dezembro 03, 2008

“Quem eu gostaria que ganhasse”

“Discute-se hoje muito em Portugal o que vai acontecer em termos eleitorais em Outubro p.f., embora eu tenha dificuldade em perceber onde reside o interesse do assunto; tirando, claro está, o caso daqueles indivíduos que forem escolhidos para figurar nas listas dos partidos que vão estar representados em S. Bento.
É certo que já em tempos eu também me referi ao assunto, tendo manifestado o meu desejo de assistir à rotação das moscas. Nessa expressão de vontade, transparece muito da minha formação originária, de inspiração cristã: tal como Noé reteve dois bichos de cada espécie para sobreviverem à tempestade, piedosamente pugnei pelo direito à vida das moscas das diferentes variedades.
Os leitores mais atentos (se é que ainda os há, quero eu dizer, a espécie) terão notado, entretanto, a falta de convicção com que o fiz. Confesso que não foi em razão da descrença que mantenho relativamente aos ideais cristãos.
Se notaram, digo eu, estavam plenamente certos, uma vez que, sendo eu um sujeito de ideais, não se entendia bem a opção pelas meias-tintas; ou pelos troca-tintas, como alguns preferem dizer. Isso esclarecido, impõe-se que faça claro perante os leitores, e a nação inteira, ao fim e ao cabo, quem eu gostaria que ganhasse, realmente.
Nesse ensejo, estou também a dar o meu contributo para o esclarecimento do cidadão eleitor, que as leis eleitorais e a prática política corrente assumem não passarem de bestas que importa matraquear durante meses a fio, no sentido que, chegada a altura certa, tomem a decisão acertada.
Pois bem, a meu ver a opção a tomar não pode ser outra que não seja ficar em casa a ler descontraidamente as análises e as conjecturas eleitorais ou, melhor ainda, aproveitar o dia para ir dar uma volta a um qualquer outro lugar que não seja a senhora da asneira, isto é, neste caso, a secção de voto. Isto tudo porque eu gostaria que quem ganhasse nas próximas eleições parlamentares fosse você, caro leitor.”

J.C.
(reprodução integral de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/08/12, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro J.C.

Ri-me muito com a imagem das moscas...
Parece-me muito bem conseguida.
Mas corro o risco de não me esquecer mais dessa imagem e passar a chamar, por descuido, de Sr. Mosca um qualquer político com que me cruze por aí. Pode vir a ser constrangedor!...
Até porque são daqueles insectos que ainda não entendi para que servem e para que existem!
Para "estacionar" na trampa e só às vezes mexerem nas coisas boas?
E os Srs. Moscas atormentam-nos todo o ano: Outono, Inverno,... ao contrário das verdadeiras moscas...