domingo, setembro 14, 2008

A Bela Adormecida

À nascença, são-nos concedidos dons e defeitos, somos marcados para certos acontecimentos mas, por vezes, somos apenas marcados. Todo um reino pode sucumbir ao destino de uma só pessoa. Todo um mundo pode chorar pelos feitos de um só homem…

No dia de maior calor, ela subiu a uma torre. Não sabia o que procurava. Não sabia porque ali estava, mas estava traçado que assim fosse. Ela estava marcada…
Era o fuso de uma roca que a esperava. Uma roca espiral, da melhor madeira que se podia encontrar. Tão poderoso que até na morte poderia mandar. Não mandou, já que alguém tinha marcado algo por cima. Já outro destino tinha sido imposto!
Menina curiosa, sempre com a vontade de em tudo tocar, picou-se na roca, que a fez desmaiar; tudo muito mágico mas, mesmo assim, adormecendo um reino e selando um destino.

Experimentou um sentimento estranho, trazendo todas as cores e todas as formas, cheio de arestas mas parecido com uma esfera. Sim, por momentos ela viu a confusão… Abriu-se uma porta, uma comporta, uma escotilha. Estava confusa. Era uma passagem qualquer, era uma entrada que só ela podia penetrar. Era a eternidade. Ela não sabia disso… A curiosidade nem sempre traz informação…
A curiosidade já a tinha levado até ali. Podia levá-la muito mais longe. Como um insecto atrás de uma luz ou outro ser em busca de um objecto brilhante, ela mergulhou. Mergulhou sem saber para o quê, mas mergulhou. A curiosidade não precisa de causa! Mergulhou com toda a determinação e com quanta intensidade pôde. Não sabia de que se tratava, mas mergulhou.

E ainda hoje a Bela Adormecida se encontra no mais profundo sono à espera que um príncipe lhe dê o beijo que a faça acordar.

José Pedro Cadima

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