1. Descobri há poucos anos que sou um homem muito interessante, quer dizer, interessante para as mulheres, aparte todos os dotes intelectuais e o altruísmo com que a natureza me prendou, o que não me parece pretensiosismo admitir nesta hora. Os meus leitores e as minhas leitoras de crónicas passadas já sabiam destes últimos dotes mas talvez não suspeitassem do primeiro. Imaginem lá como me posso sentir eu nesta ocasião, convencido que sempre estivera de não deter atributos físicos que agarrassem as garotas por quem tanto tempo suspirei, louras, morenas, ruivas mas, sobretudo, autênticas gatas de garras afiadas. Vista a coisa agora, tenho que concluir que talvez o problema estivesse ainda assim em mim, ao não saber, digamos assim, segredar-lhes ao ouvido as palavras belas que mereciam escutar. Tenho, por outro lado, que verberar a educação que recebi, que não me preparou convenientemente para a vida, como agora sai provado, e chorar os afectos de que não beneficiei e que fizeram de mim o homem carente e triste em que me tornei, até recentemente, digo.
2. Ser um homem “charmoso”, mesmo não sendo o Cristiano Ronaldo, tem imensas coisas boas: alimenta-nos o ego, permite-nos fazer inveja a amigos, a conhecidos e a desconhecidos quando nos passeamos de louraça pela mão (com as morenas também resulta mas menos), e torna-nos muito mais queridos para outras louraças e, sobretudo, para morenas e ruivas (tanto mais quanto mais pesado tenham o respectivo rabo). Tem entretanto sérios inconvenientes, não querendo mesmo assim seguir o Cristiano Ronaldo na mania que tem de dar presentes caros às namoradas. Um dos maiores inconvenientes que venho sentindo resulta da obrigação de manter prestações impecáveis em todos os momentos, trate-se de levar o gato à rua, acompanhar as crianças ou as amigas da nossa “mais que tudo” ou fazer abdominais. É preciso também ter muito cuidado quando se bebe uma boa cerveja (e não abundam, as boas cervejas), não vá a espuma correr-nos pelo canto da boca ou, quando nos recostamos no sofá lá da casa, parecer que deixámos que se gerassem umas gorduritas na barriga. Tudo pesado, ainda assim vale a pena. Sabe bem voltar a ter um colo onde nos acolhermos.
3. Demorei um bocado a adaptar-me, isto é, a reconhecer-me no “gato” que afinal era sem disso me dar conta mas, como é sabido, é da nossa natureza ajustarmo-nos mais rapidamente às coisas boas que às menos boas. Se sempre me custou não me poder chegar às garotas que me alegravam a vista na minha passagem pelo liceu, em pouco tempo acabei por aceitar ser o alvo da cobiça de algumas delas mais sensíveis ao desgaste do tempo e das vidas menos recomendáveis porque enveredaram (professoras do ensino secundário, empregadas de escritório, donas de casa, mães de miúdos e garotas intratáveis, entre variadas profissões). Há ocasiões até em me custa já perceber como puderam aquelas minhas amigas de antanho resistir a todo o meu encanto. Vendo-as agora, no entanto, alegra-me constatar a força de vontade que me permitiu resistir aos seus cantos de sereia.
J. C.
2. Ser um homem “charmoso”, mesmo não sendo o Cristiano Ronaldo, tem imensas coisas boas: alimenta-nos o ego, permite-nos fazer inveja a amigos, a conhecidos e a desconhecidos quando nos passeamos de louraça pela mão (com as morenas também resulta mas menos), e torna-nos muito mais queridos para outras louraças e, sobretudo, para morenas e ruivas (tanto mais quanto mais pesado tenham o respectivo rabo). Tem entretanto sérios inconvenientes, não querendo mesmo assim seguir o Cristiano Ronaldo na mania que tem de dar presentes caros às namoradas. Um dos maiores inconvenientes que venho sentindo resulta da obrigação de manter prestações impecáveis em todos os momentos, trate-se de levar o gato à rua, acompanhar as crianças ou as amigas da nossa “mais que tudo” ou fazer abdominais. É preciso também ter muito cuidado quando se bebe uma boa cerveja (e não abundam, as boas cervejas), não vá a espuma correr-nos pelo canto da boca ou, quando nos recostamos no sofá lá da casa, parecer que deixámos que se gerassem umas gorduritas na barriga. Tudo pesado, ainda assim vale a pena. Sabe bem voltar a ter um colo onde nos acolhermos.
3. Demorei um bocado a adaptar-me, isto é, a reconhecer-me no “gato” que afinal era sem disso me dar conta mas, como é sabido, é da nossa natureza ajustarmo-nos mais rapidamente às coisas boas que às menos boas. Se sempre me custou não me poder chegar às garotas que me alegravam a vista na minha passagem pelo liceu, em pouco tempo acabei por aceitar ser o alvo da cobiça de algumas delas mais sensíveis ao desgaste do tempo e das vidas menos recomendáveis porque enveredaram (professoras do ensino secundário, empregadas de escritório, donas de casa, mães de miúdos e garotas intratáveis, entre variadas profissões). Há ocasiões até em me custa já perceber como puderam aquelas minhas amigas de antanho resistir a todo o meu encanto. Vendo-as agora, no entanto, alegra-me constatar a força de vontade que me permitiu resistir aos seus cantos de sereia.
J. C.
1 comentário:
Caro J.C.
Nunca pensei que tivesse coragem para contar publicamente momentos tão íntimos da sua vida, que, pela leitura que faço, foi muito pouco interessante até há algum tempo atrás.
Muito menos o sabia altruista. A verdade é que o conheço muito mal, apenas das crónicas com que nos premeia, mas "altruismo" não parece casar com "mal dizer"! Não lhe parece?!... E altruistas há muito poucos neste mundo! Não concorda?
Quanto aos seus dotes intelectuais não dúvido nada deles. Mas quanto ao facto de se ter tornado interessante, não me poderei pronunciar, pois não é "visível" através da sua escrita, mas acredito que a escrita seja um dos seus maiores dotes e que o torna verdadeiramente interessante.
Fiquei, não obstante, admirada por ter tido (ter) interesses tão diversificados quando era mais jovem e mesmo nesta fase madura da sua vida. Não será uma mistura explosiva?! Louras, morenas e ruivas, ainda que pareça ter preferência pelas louras (louraças como as apelida).
Pois é bom que o avise que as louraças que vai vendo por aí, são falsas louras. Existem dois motivos para passarem, mais tarde ou mais cedo, a serem louraças:
1-Têm quase sempre sucesso assegurado junto dos homens, porque entre outros motivos, são a encarnação dos anjos que estão lá longe no céu;
2-Necessitam de encobrir as "brancas" que vão aparecendo um pouco por todo o cabelo e essa cor é seguramente a que melhor camufla as atrevidas "brancas".
Desculpe o meu atrevimento em lhe contar estas misérias, mas sendo eu morena por natureza, senti-me na obrigação de lhe contar!
Leitora assídua das suas crónicas
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