quinta-feira, outubro 23, 2008

O verdadeiro prazer - III

Dia 3: Ontem, nem pensei. Limitei-me a deixar correr as palavras “então até amanhã Alexandre” na minha cabeça, à procura de uma imagem em que me segurar, à procura de encontrar algo a que me agarrar. Hoje, depois de, a partir das dezasseis horas de ontem, ter entrado de férias, a voz voltou:
“Nunca tinhas sentido tal ansiedade, não é verdade? É normal que assim fiques. Mantém a coragem na expressão do teu rosto e nas tuas palavras”.
“Hoje, ao saíres, vais consumar o acto: vais seduzi-la. Vais mostrar que és capaz, mostrar a ti mesmo que consegues!”
“- Assim farei, porque tu mo dizes. Se contigo até aqui cheguei, é contigo que lá vou chegar.”
De novo no sítio de ontem, à mesma hora, com o mesmo atraso por parte dela. Por fim, ela chegou e lá fomos em silêncio até ao parque, alimentando uma conversa fútil, comigo apenas a seguir as boas regras do falar nas alturas certas, dizendo as coisas certas. Ela parecia encantada, enquanto eu, observando-a desta forma distante, começava a ver nela uma pessoa algo enfadonha mas ainda com um “charme” que me atraía. Entretanto, as regras que ia seguindo, não me deixando ser eu, em sentido autêntico, deixavam-me desconfortável.
Fomos até uma parte mais escondida daquele belo parque.
“Atrasa o teu passo. Deixa-a ultrapassar-te e abraça-a por trás! Ela vai adorar…”
Assim fiz, mais uma vez. Mais uma miserável vez, segui uma ordem que me levaria à vitória. Não me senti confortável, no entanto. Antes, senti senti um esboço de revolta na minha alma. Todavia, neste caso, os fins justificavam os meios.
A respiração dela e a minha ficaram em alvoroço com esse abraço. As mãos dela cobriam as minhas e o meu corpo apertava-se contra o dela e o dela contra o meu. Era mútuo o agitar dos sentidos. Rodeei-a, segredando-lhe ao ouvido:
- Não esperavas nada disto de mim, minha rosa, flor do meu jardim?
Enquanto isso, questionava-me sobre se não estaria a ser lamechas.
Ela corava e eu beijava as suas bochechas coradas. Ela sorria e eu beijava-lhe as covinhas da cara. O beijo boca a boca aproximava-se. Eu consegui-a vê-lo ao longe, a correr. Chegaria depressa!
As minhas mãos subiram quase até aos seus seios e a sua cabeça inclinou-se para trás. Eu, entretanto, inclinei-me para um dos lados e, no momento em que a sua cabeça se virou para mim, estávamos com os nossos lábios frente a frente.
“Não o faças! Agora que tens o poder da sedução, vinga-te! Não foi ela que te repudiou um dia? Não foi ela que te fez sofrer uma vez ou até mais vezes? Foi, não foi? Ela nem bela chega a ser. Tu nem tens a certeza de querer tê-la! Mostra-te superior. Terás quem te mereça. Não uma mulher fútil… Retirarás daí outro prazer. Acredita que esse será bem maior. A mente sobre o corpo, não é o teu tipo? Não é o que ansiavas? Vais beijá-la ou rejeitá-la, à semelhança do que ela te fez, antes? ..."
"...Ensinei-te a obedecer às minhas ordens, para teu bem. Agora, apenas te deixo este conselho: faz a tua escolha!”
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José Pedro Cadima

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