segunda-feira, outubro 13, 2008

O verdadeiro prazer - I

Dia 1: Choro, choro, choro. Mais valia o suicídio a isto! Mais valia pôr fim a todo este universo que criei em minha volta. Mais valia perder a vida.
“Escuta!”.
A vida não faz sentido. Nasci feio. Nasci o mais feio!
“Escuta!”.
Uh?! Uma vozinha interrompeu o meu pensamento.
"- Quem és tu?!"
“Responde isso a ti mesmo e mais tarde trabalharemos na minha identidade”.
A minha mente perdia-se nesta frase mas, antes de poder sequer responder, a pequena voz, que parecia partir do meu subconsciente, interveio novamente:
“Se te achas capaz de ser aquilo que querias, escuta-me e farás o que te direi. Dar-te-ei o dom da sedução”.
Que resposta poderia eu dar a isto? O que eu queria, a voz já o sabia: queria ter o poder de manipular como me manipulam a mim, que é o que importa neste mundo.
"- Eu aceito… Dá-me a ordem! Eu seguirei tudo!"
“Sai à rua!"
E os seus desejos, que não eram mais que cumprir os meus, foram cumpridos.
“Café lá da escola…”
E lá fui, seguindo cada passo que me era sugerido. Quem estaria lá que eu desejasse tanto?
Entro no café. Ao fundo está a Rita, a bela e única Rita, que tanto eu desejei que olhasse para mim e tanto me deu para trás… Que estou aqui a fazer? Já não a desejo… Pelo menos, não tanto como quando era ela o meu único desejo.
“Se já a desejaste tanto, é impossível que a chama se tenha apagado por completo. Apenas a acalmaste”.
Transpirei, tremi.
“Não tenhas medo, ela quer-te!”.
"- Quer?"
“Sim, quer, e tu também. E vais tê-la porque a mereces”.
Voltei a transpirar.
“Avança!”.
Assim fiz…
- Olá Rita! – disse
- Olá Alexandre… - respondeu com um ar um pouco abatido. Não parecia contente de todo em ver-me….
“Pergunta o que se passa! Junta-lhe humor… Fá-la sorrir e elogia esse facto!”.
"- Perdi-me. O que tu, voz dos céus me pedes é demasiado para mim…"
“O importante é não te deixares incomodar ou amedrontar. Ela ou uma cadeira são a mesma coisa. Tens que conquistar para poderes possuir. Faz o que te digo! Confia. Faz como que te disse!”.
- Que se passa? Pareces abatida… (como vou eu juntar humor a isto!?).
“ Se estás triste por causa do cabelo não te preocupes, ele continua uma lástima!”
– Se estás triste por causa do cabelo não te preocupes, ele continua uma lástima!
Ela riu-se.
- Oh!
- Estava a ver que não conseguia sacar de ti um sorriso hoje.
- Conseguiste! – sorriu
E que belo sorriso…
“Sorri para ela e inclina os teus olhos para ela. Baixa as pálpebras, deixando-as entre-abertas”.
Assim fiz.
- Estás diferente!
A seguir à resposta dela, a voz surgiu para me fortalecer com a sua sabedoria:
“É… Dizem que cresci. A pergunta é se isso será bom! Sê sarcástico!”
E assim fiz.
- É! Dizem que cresci, mas ainda não sei se isso é bom. Se é que me percebes – sorri
- Se calhar até é… - sorriu para mim e bebeu um pouco de sumo de laranja que tinha no seu copo
- Que faço agora!?
“ Tens que ir! Diz que estás atrasado. O tempo é sempre fundamental.”
- Olha, tenho que ir !
“Muitas coisas interessantes me esperam!”
– Muitas coisas interessantes me esperam!
“Não pareças intimidado…”
"- Ok., ok.!"
- Não sou interessante, não é?
“Talvez! Vemos isso noutro dia…”
– Talvez! Vemos isso noutro dia! – sorri.
Despedi-me e fui em direcção à porta.
“Mostra-te interessado! Diz-lhe algo e depois diz para esquecer”
- Olha Rita… e se… nah. Esquece!
- Agora não esqueço! Que querias perguntar?
“Nega tudo…”
– Não era nada…
“Convida-a para saírem amanhã.”
- Diz, senão fico zangada contigo!
- Queres sair amanhã?
- Quero! Tens o meu número?
Então não havia de ter? Tanto tentava chamar-lhe a atenção, tanto transpirava à sua beira, sem que ela me passasse a bola. Tinha o Carlos atrás de si, muito mais giro, muito mais interessante …
- Sim, tenho o teu número! Então, logo digo-te algo!
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José Pedro Cadima

1 comentário:

Quintino disse...

Ler algo sobre sentimentos, misturado com o nosso ser reprimido que se eleva das profundezas quando ninguem está a contar, é algo de unico.
Professor, parabens por este blog, pessoas que mostram sentimentos são raras, mesmo sendo ficção, sei que um dia numa hora qualquer esses sentimentos sairam, pode não ser o alexandre e a Rita, pode não ter sido vivido pessoalmente, mas um olhar mais distante sobre alguem, cria sentimentos que ninguem pode explicar, mesmo quando sao vividos por outros que não nós proprios.