“2. Já que estamos em ocasião de comentário a matérias de índole futebolística, se bem que só por acidente de percurso, talvez não seja descabido falar do «toto-negócio», que nestes dias foi discutido na Assembleia da República.
Por ocasião da publicação do compromisso assumido, o governo PS fez muita questão de dizer que aquela era uma má solução para as dívidas dos clubes de futebol ao Estado, mas era a única possível. E mais insistia, reagindo à crítica da oposição e da opinião pública, que lhe apresentassem solução alternativa, se a tinham. Pretendia deste modo anular a justeza da indignação sentida com o argumento de que, não existindo outra via, o governo tinha dado expressão de lucidez e bom-senso.
Neste negócio embrulhado, o governo escudava-se, assim, na lógica aristotélica, na sua versão de bolso, que, partindo de uma premissa falsa que estabeleça conexão com outra que seja verdadeira, pretende concluir a veracidade de uma terceira que é, realmente, aquela que justifica todo o exercício de mistificação. Na circunstância, o objectivo derradeiro era (sempre foi) o perdão fiscal, e a ideia agitada de que a partir daí se podia partir para a prisão da «máfia do futebol» não passava de argumento para enganar tolos. Ora, o que é curioso é que este é, de facto, um exercício arriscado já que, usando o mesmo recurso lógico, tudo pode ser posto completamente ao avesso e, neste caso, fazer-se efectivamente justiça.
Bastava para tanto que se começasse por meter na prisão o Sr. Pinto da Costa, o Sr. Valentim Loureiro e uns tantos mais, e a partir daí a cedência dos dinheiros do totobola aos clubes de futebol deixaria de constituir uma demonstração humilhante de fraqueza do poder político perante os «senhores» do futebol, para poder ser vista como o primeiro passo da refundação do futebol em Portugal.”
J. C.
Por ocasião da publicação do compromisso assumido, o governo PS fez muita questão de dizer que aquela era uma má solução para as dívidas dos clubes de futebol ao Estado, mas era a única possível. E mais insistia, reagindo à crítica da oposição e da opinião pública, que lhe apresentassem solução alternativa, se a tinham. Pretendia deste modo anular a justeza da indignação sentida com o argumento de que, não existindo outra via, o governo tinha dado expressão de lucidez e bom-senso.
Neste negócio embrulhado, o governo escudava-se, assim, na lógica aristotélica, na sua versão de bolso, que, partindo de uma premissa falsa que estabeleça conexão com outra que seja verdadeira, pretende concluir a veracidade de uma terceira que é, realmente, aquela que justifica todo o exercício de mistificação. Na circunstância, o objectivo derradeiro era (sempre foi) o perdão fiscal, e a ideia agitada de que a partir daí se podia partir para a prisão da «máfia do futebol» não passava de argumento para enganar tolos. Ora, o que é curioso é que este é, de facto, um exercício arriscado já que, usando o mesmo recurso lógico, tudo pode ser posto completamente ao avesso e, neste caso, fazer-se efectivamente justiça.
Bastava para tanto que se começasse por meter na prisão o Sr. Pinto da Costa, o Sr. Valentim Loureiro e uns tantos mais, e a partir daí a cedência dos dinheiros do totobola aos clubes de futebol deixaria de constituir uma demonstração humilhante de fraqueza do poder político perante os «senhores» do futebol, para poder ser vista como o primeiro passo da refundação do futebol em Portugal.”
J. C.
(reprodução parcial de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 96/07/06, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)
Sem comentários:
Enviar um comentário