segunda-feira, junho 09, 2008

Minha Querida Helena

Hoje não te escrevo. Estou tão cansado que me falta a energia para te exprimir o que sinto e para te gritar quanta falta me fases. No presente estado de alma, recolheria até energia de palavras desagradáveis que me dirigisses - à semelhança de tantas outras no passado, algumas vezes injustas. Daí haveria de retirar a força para dar o próximo passo e, quiçá, contributo para tornar menos doloroso este sentimento de perda que me assiste.
Há ocasiões em que o trabalho, pouco que seja, me esgota. Lembro-me de outras em que o trabalho se esgotava sem que lhe sentisse o peso. Não é, sei-o bem, apenas uma questão de esforço. É, muito mais, um problema de motivação, de crença que valha a pena enfrentar o dia seguinte, estado de espírito que me escapa nesta altura e de que não estou certo de ser capaz de libertar-me. A não ser... A não ser que...
Estou sem esperança. Estou sem ânimo. Sinto-me profundamente cansado, a ponto de me falhar a energia sequer para te gritar a falta que me fases. Por isso, hoje não te escrevo.
Não te farão falta, no entanto, as minhas palavras escritas. Porque se fizessem não te seria indiferente o meu cansaço. Porque se te faltassem, não me deixarias a agonizar. Por contrapartida, eu não tenho dúvida em dizer-te quanta falta me fases. Gritá-lo-ia, até, se tivesse energia para tal.
Hoje não te escrevo. Se recobrar forças para esse empreendimento, escrever-te-ei noutra ocasião, para te dizer quanta falta me fases e quão tamanho é este amor que te devoto. Se recobrar forças para tanto, gritar-te-ei até a falta que me fases, mesmo duvidando que venhas a escutar o meu grito.

Braga, 23 de Agosto de 2004

José Cadima

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