sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Minha Querida Helena

Temerosamente, digitei o teu número. Respondeste-me questionando porque não te tinha ligado antes. O meu coração estremeceu de alegria, embora, crendo não te ter ouvido bem, a tenha silenciado. Fiquei na expectativa doutros sinais. Perguntaste-me porque não toquei à tua companhia, quando, deambulando, acabei por me achar ontem em Viseu, visitando a feira do livro. Acreditei então ter-te entendido bem.
Disseste-me, também, que tinhas estado a arrumar os teus papéis e a casa. Pretendi ver nisso um sinal de retorno à vida, um indício de que posso ter esperança de ver novamente balouçar-te nos lábios um sorriso. Desejaria antes uma gargalhada mas um sorriso é sempre um sorriso ... meu amor.
Envolvido nos meus pensamentos, de coração aliviado, interrogo-me sobre se o que percebi em ti será um momento de acalmia ou o emergir de um novo ciclo. Desejaria que as nuvens tivessem descarregado tudo quanto houvessem que largar e o azul do céu se afirmasse com todo o brilho próprio desta Europa do sul. Assiste-me a esperança de que retomes a rua, os livros, os teus poemas, a força que ousavas pôr nas tuas atitudes e convicções. Se, nesse frémito de vida, quiseres buscar repouso nos meus braços tanto melhor para mim mas importante, importante mesmo é ter-te de regresso à luta.
Li no jornal de hoje as desventuras de um país à espera de ter Governo e as acrimónias dos que, na sua segurança, não perdoam a insegurança do Presidente da República e, mais do que a insegurança, a generosidade posta por ele na sua decisão de entregar a formação do governo a um macaqueador da política. Não tenho a este propósito a segurança dos que aqui invoco e, tenho, por contrapartida, grande consideração pelos que conseguem pôr bondade onde a maioria põe interesses, hipocrisia, mesquinhez. Vou ficar a aguardar. Vou esperar pelo que dá este macaquear da política americana no melhor estilo reaganiano. A necessidade de eleições parece-me também a mim certa, mas lá para a primavera do próximo ano. Até lá, vou ficar na expectativa (desejara que fora a expectativa de termos um governo e um projecto económico para Portugal mas, por esses, vamos ter que aguardar muito mais).
Li o jornal embora o meu pensamento estivesse centrado em ti, nesta esperança de um sorriso teu, meu amor.

Braga, 11 de Julho de 2004


José Cadima

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