terça-feira, julho 13, 2010

Paranóia

A paranóia pega-se
como uma doença infecciosa.
É surpreendente o receio que tens
de quem olha para ti,
de quem te vê como és.
No que me diz respeito, ver-te
é bastante para me inspirar
expressões de carinho,
para me levar a querer acariciar-te.

Mas a paranóia pega-se,
e o meu receio
não é o teu
mas sinto-o como tu.
Aquilo que imaginas dos outros
quando te olham sem sentir
vejo-o em mim
quando marcas o silêncio.
#
Urge que acredites
que o arco-iris é mais que ilusão óptica.
Distante que pareça,
é possível abraçá-lo.
.
José Pedro Cadima

1 comentário:

Anónimo disse...

Temo sofrer dessa mesma paranóia. E sim, o contágio é fácil.
Sem me querer prolongar, e porque fala no olhar, partilho consigo uma das minha leituras do dia de hoje.

Com os olhos



Talvez um dia. Talvez um dia alcancemos essa voz, já sem o peso da luz sobre os ombros. Os olhos chegarão então ao fim da sua tarefa; os olhos, instrumentos felizes da realidade mais real. Porque ver sempre foi tocar. Tocar uma a uma cada coisa com os olhos, antes da mão se aproximar para recolher os últimos brilhos de setembro. Vede como se afasta com fulva lentidão de tigre.

(Eugénio de Andrade, Poesia)