quarta-feira, maio 06, 2009

Crónicas de Maldizer

Conforme resulta patente, não o tendo pensado ser, acabei por me tornar um colaborador regular deste blogue deste há muitas luas. Pouco criativa, esta foi, talvez, a forma que os seus editores encontraram de preservar a regularidade da publicação num quadro de falta de imaginação e/ou de tempo para produzirem os seus próprios textos, de ficção ou poéticos. Não produzi os textos entretanto reeditados a pensar na respectiva divulgação por um tal canal (como outros lhe chamariam), e sempre me pareceu discutível retomar “hoje” textos de há 14, 15, 16 anos, mas a simpatia que nutro pelos editores do blogue fez-me quebrar resistências e, um a um, lá fui libertando alguns dos textos que tinha em arquivo. Outros, achei por bem não republicar por me parecer poderem dizer muito pouco aos actuais leitores ou por denunciarem em excesso a deriva mental que atravessei por aquela altura.
Pediram-me agora os editores do blogue que retomasse as crónicas, avançando para uma nova série. Sinceramente, não sei o que faça: queria-lhes ser simpático (que também eu o sei ser, de tempos a tempos) mas, em boa verdade, não sei se serei capaz, porque também o tempo passou por mim (e não só pelas crónicas re-editadas), e porque não estou seguro que possa encontrar na sociedade e no evoluir da vida política actual motivos de análise ou, melhor, pretextos suficientemente fortes. Em boa verdade, terão que convir que não será fácil descortinar na cena mundana e política actual objectos analíticos tão interessantes e dignos quanto o eram Manuela Ferreira Leite, Marcelo Rebelo de Sousa, Mesquita Machado ou Aníbal Cavaco Silva. Que magnificas “crónicas de maldizer” me permitiram produzir essas personagens então, passe a imodéstia. Comparados com estes, José Sócrates, Zé Mariano ou Manuela Ferreira Leite, não passam de caricaturas pobres. Vamos ver… Vamos ver se serei capaz. Não queria ser antipático para com os editores. Afinal, só eles poderiam ver algum mérito no meu trabalho já tão antigo e achar que eu teria préstimo ainda como analista da sociedade do presente.
Vamos ver, repito. Não prometo regularidade nem prometo inspiração. Aliás, a inspiração só me pode vir do correr das circunstâncias deste nosso dia-a-dia que, nesta hora, não sou capaz de vislumbrar senão triste, cinzento, enfadonho, povoado dominantemente por gente desinteressante, portanto, sem potencial para se converterem em credíveis objectos das “crónicas de maldizer” que é suposto eu produzir. Que falta me vão a fazer os saudosos Mário Soares, Manuela Ferreira Leite, Aníbal Cavaco Silva, entre outros!

J. C.

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro J.C.

Desculpe, mas não lhe posso perdoar! Sim, perdoar por nos querer deixar... É que já me tinha habituado ao seu maldizer e lucidez. E dáva-me cá um gozo ler as suas crónicas... SÓ POSSO PERDOAR SE SE RENDER ÀS EVIDÊNCIAS E NOS PERMEAR COM NOVAS CRÓNICAS DE MALDIZER, BEM FRESQUINHAS.
Só me parece muito queixoso, como que se estivesse a tentar arranjar um motivo para não as escrever...
Porque é que meteu na cabeça que não há melhor do que a Manuela Ferreira Leite ou o Rebelo de Sousa ou...? Comece pelo irreverente Manuel Alegre ou pelo Obhama e sua esposa! Porque não falar do cão português, que foi para a Casa Branca e que tanto sucesso está a fazer?...