Se nem
sempre são fáceis as viagens que faço na minha terra, não surpreenderá que
menos o tendam a ser as que faço fora da minha terra, quando não num outro
mundo, materializado em hábitos e posturas diferentes daquelas com que estou familiarizado,
outras paisagens e outras gentes, outras horas e comidas. Falando da Uberlândia,
uma vez mais, aparte as casas “fortificadas” tão comuns, não deixaram de
surpreender-me outras realidades que imaginava bem distantes; a saber:
i)
a abundância de gente gorda, há semelhança do que já
vira muito mais a norte, neste mesmo Continente, e de moças “de rabo pesado”,
algumas bem jovens ainda;
ii)
contraditoriamente, num país tão jovem e a viver um
período de tanto fulgor económico, na aparência que tomam as coisas no curto-prazo,
pelo menos, a informação de que a taxa de natalidade se situa já abaixo do
limiar de reposição de gerações;
iii)
a qualidade de certos equipamentos públicos, como um
certo parque urbano (Sabiá) que encontrei, onde, paradoxalmente ou talvez não,
se reúnem a certas horas multidões que acompanham miúdos irrequietos e/ou percorrem
mais ou menos apressados os trilhos estabelecidos, procurando aligeirar rabos
que se sugerem, amiúde, bem pesados;
iv)
a especulação desenfreada que graça com terrenos
urbanos e urbanizáveis, para lá do multiplicar dos condomínios fechados e
amuralhados que se encontram por toda a parte, na envolvente de uma cidade
crescentemente espraiada;
v)
a abundância de aves, umas mais exóticas que outras, bastantes
das quais se podem encontrar no seio da própria cidade, e de árvores e vegetação
razoavelmente estranha aos olhos de um europeu, mesmo que do Sul;
vi)
a existência entre as árvores de algumas que serão
ainda herança jurássica, em razão dos espinhos nos troncos com que se encontram
ornamentadas; e, notem, não me estou a referir a arbustos mas, antes, a algumas
de considerável porte; e, como última menção,
vii)
o encontro que tive com dois lagartos de considerável
porte, um dos quais resolveu interromper-nos a jornada por um número considerável
de minutos, posto que, a dado passo, hesitou entre permanecer no trilho que percorríamos
ou retornar à floresta vizinha, porventura, menos ensolarada, se é que a
presunção que assumo tem cabimento.
A surpresa
e o exótico, são, como bem se sabe, a mais das vezes, o que mais leva gente a
certas paragens. Sabia-o, embora não tivesse sido esse o motivo principal que
me trouxe a este destino. Confesso entretanto que, tanto quanto o exótico, o
que me atrai em muitos lugares é o seu oposto, isto é, o que é comum, uma
rotina que não seja penosa, a familiaridade com as coisas e as gentes. A jornada
vai ainda a meio, todavia. Por isso, há que guardar espaço para mais surpresas
e mais exotismo. Assumido o desafio, não há recuo possível!
José Cadima
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