domingo, maio 22, 2011

Um breve regresso ao passado

Já lá vai bastante tempo desde a ocasião em que eu frequentava com regularidade os aeroportos deste mundo, particularmente os europeus. Não sendo o momento que atravesso um retorno a esse passado distante, muito longe disso, esta memória não deixou de ocorrer-me quando, há uns dias, passi pelos corredores longos e movimentados do aeroporto de Frankfurt.
Não senti saudade desses tempos. Não fiquei confuso. Simplesmente, reencontrei-me com um ambiente que não deixou de se me oferecer familiar e, talvez por isso, me tenha transportado para outros tempos e outras “esperanças”.
Não se falava ainda da possibilidade de José Sócrates vir um dia a ser primeiro-ministro, para desgraça de Portugal, nem se especulava com a possibilidade de Teixeira dos Santos vir a ser ministro das finanças, para desgraça do país e descredibilização dos professores de Economia, sendo certo que parte destes merecê-lo-á, dada a facilidade com que, por quaisquer 30 dinheiros, se vendem. Na maioria das vezes já nem os 30 dinheiros reclamam. Contentam-se com aparecer na televisão por 10 minutos.
Perdão! Não era da política portuguesa (leia-se: da porca da política portuguesa) que era suposto eu falar aqui, nem sequer da incompetência com que a economia portuguesa vem sendo gerida de há muitos anos a esta parte, estivesse a tutela do governo entregue a Guterres, a Durão Barroso, a Santana Lopes ou a José Sócrates. Dos ministros da finanças e da economia respectivos não falará provavelmente a história, de tantos e tão cinzentos que foram na sua maior parte, se bem possa vir a recordar alguns pelo contributo decisivo que deram para a desgraça da economia do país. Obviamente, fizeram-no sempre pelas melhores razões e assumindo um rosto muito sério.
Sem sombra de dúvida, eram outros tempos aqueles que, neste percurso por aeroportos, recordo. Pensávamos (eu e uns quantos mais) que haveria lugar para uma entrega empenhada às nossas tarefas profissionais mas que havia também lugar para a esperança, e o sentimento do dever cumprido. Hoje, talvez continuemos a prosseguir empenhadamente as nossas tarefas (eu, pelo menos, faço-o) mas é duvidoso que nos sobre o entusiasmo e, seguramente, escapou-se para lugar incerto a esperança, apesar de eu acreditar que nos deveria ser preservado, acima de quase todas as coisas, o direito à esperança.
Na correria própria de um grande aeroporto, continuo a ver pessoas que sorriem, continuo a perceber colorido na expressão cosmopolita das gentes que o frequentam e nas vestes com que se apresentam. Entretanto, em razão das expressões faciais que transportam ou em razão do estado de espírito que me anima, não percebo alegria, entusiasmo, esperança. Entusiasmo, crença existirão porventura nalguns namorados com que ocasionalmente me cruzo. Apetece-me, então, desejar-lhes que os preservem por muito, muito tempo.

JC

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