Pese o carinho com que me tratas, pese as palavras doces que me diriges, sinto em ti alguma amargura quando reclamas da forma como te trato. Reclamas que me escuso a usar a palavra amor. Queixas-te de que o amor que me dedicas é maior que aquele com que te (não) correspondo.
Desculpa que questione esse teu modo de pensar o amor. Para mim, o amor não é coisa de palavras ou, pelo menos, de grandes declarações, até porque facilmente tropeço nelas; sobretudo se de palavras ditas se trata. A palavra escrita já me dá mais conforto e, por isso, nela me refugio amiúde, como faço agora. O amor, minha querida Helena, é para mim uma coisa do domínio exclusivo das emoções, das emoções fortes, digo, tal qual a raiva, o desprezo, a recusa assumida de algo que me é imposto. O amor, sinto-o bem vivo, aos pulos, quando te acolho nos meus braços, quando te aperto contra mim, querendo tornar esse abraço mais forte mas receando, ao mesmo tempo, esmagar-te. Sim, isso é amor mesmo, mesmo se fico no limiar de te magoar fisicamente.
Aceito, amor meu, que te exprimas de forma distinta da minha. Aceita, por seu turno, que eu me exprima à minha maneira. Não sei ser senão à minha maneira, mesmo quando isso é razão de desconforto para outros e, nessa medida, para mim. Não sei ser de outra maneira… Não sei e, confesso-te, também já não quero.
No passado, cheguei, amiúde, a encarar teatralizar os meus gestos, as minhas palavras. Conclui logo que não tinha jeito para o teatro. Aparte isso, a minha vida tinha já drama suficiente. Pena tenho que me tenha feito amargo em expressão desse drama. Se me tivesse sido possível escolher, teria preferido vestir o fato do actor de comédia, sem me tornar comediante.
Não sei ser diferente do que sou. Percebendo-o, talvez consigas que fiquem menos amargas as minhas palavras e pensamentos. Sonho que sim. Sonho que sim, como sonho contigo, meu amor.
Recebe um xicoração muito grande,
José Cadima
Desculpa que questione esse teu modo de pensar o amor. Para mim, o amor não é coisa de palavras ou, pelo menos, de grandes declarações, até porque facilmente tropeço nelas; sobretudo se de palavras ditas se trata. A palavra escrita já me dá mais conforto e, por isso, nela me refugio amiúde, como faço agora. O amor, minha querida Helena, é para mim uma coisa do domínio exclusivo das emoções, das emoções fortes, digo, tal qual a raiva, o desprezo, a recusa assumida de algo que me é imposto. O amor, sinto-o bem vivo, aos pulos, quando te acolho nos meus braços, quando te aperto contra mim, querendo tornar esse abraço mais forte mas receando, ao mesmo tempo, esmagar-te. Sim, isso é amor mesmo, mesmo se fico no limiar de te magoar fisicamente.
Aceito, amor meu, que te exprimas de forma distinta da minha. Aceita, por seu turno, que eu me exprima à minha maneira. Não sei ser senão à minha maneira, mesmo quando isso é razão de desconforto para outros e, nessa medida, para mim. Não sei ser de outra maneira… Não sei e, confesso-te, também já não quero.
No passado, cheguei, amiúde, a encarar teatralizar os meus gestos, as minhas palavras. Conclui logo que não tinha jeito para o teatro. Aparte isso, a minha vida tinha já drama suficiente. Pena tenho que me tenha feito amargo em expressão desse drama. Se me tivesse sido possível escolher, teria preferido vestir o fato do actor de comédia, sem me tornar comediante.
Não sei ser diferente do que sou. Percebendo-o, talvez consigas que fiquem menos amargas as minhas palavras e pensamentos. Sonho que sim. Sonho que sim, como sonho contigo, meu amor.
Recebe um xicoração muito grande,
José Cadima
1 comentário:
Meu amor
Perdoa-me por ter posto em causa o amor que sentes por mim.
Podes fazê-lo apenas por escrito. E sabes fazê-lo tão bem!
Desculpa a violência a que te quis sujeitar...
A tua Helena
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