“Alguém que me é próximo sugeriu que me ocupasse numa destas crónicas das temáticas da saúde e da segurança social. Chocou-me a sugestão. Na verdade, é difícil descortinar como é eu poderia trazer para uma rubrica votada à análise política de fundo e à cultura assuntos tão rasteiros.
Rasteiros, digo, pois é bem sabido que saúde e segurança social andam ambas pelas ruas da amargura. Em tempo de triunfo de liberalismos e liberais feitos à pressa, em tempo de glorificação de construtores de auto-estradas e de centros culturais de Belém e da Feira sobra pouco para garantir a assistência na doença e o bem-estar dos cidadãos.
É de certo modo compreensível que assim seja, posto que doença é coisa de que ninguém gosta de falar e que o aproximar da idade da reforma é também o aproximar do termo da vida. Muito mais atractivo é, em época de Verão, deitar o olho às mulheraças em «top less» espraiadas ao sol ou aos programas de férias propostos pelas agências de viagens. Infelizmente, meninas de maminhas ao léu continuam a aparecer pouco aqui pelas praias do Minho e, pelo que se reporta a férias tropicais, falta-nos, à maioria, o conforto dos milhões do Fundo Social Europeu e do PEDIP, versão Mira Amaral.
Há também outra faceta nesta coisa do investimento na saúde dos portugueses que não abona a favor do tema, que tem que ver com a circunstância deste tipo de aplicação de fundos cair na categoria do chamado investimento imaterial. Quer dizer, é dinheiro deitado à rua já que uma vez gasto não fica nem tabuleta comemorativa nem obra para a posteridade. Nisso tem, portanto, muito a perder relativamente a auto-estrada, ponte ou quartel de bombeiros.
Os cidadãos eleitores sabem isso, e é essa a razão profunda porque nutrem um especial desprezo pela vida. Sobretudo pela vida dos outros, como se prova pelas estatísticas de acidentes rodoviários e de trabalho. Outro indicador que vai em idêntico sentido é a forma afável como continuam a acolher nas suas terras os ministros da saúde e do emprego e segurança social.
Tratasse-se dos seus congéneres das obras públicas ou da indústria, por exemplo, e a coisa ficaria bem diferente: «fujam que aqui vai calhau!» .”
J. C.
(reprodução integral de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/08/05, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)
Rasteiros, digo, pois é bem sabido que saúde e segurança social andam ambas pelas ruas da amargura. Em tempo de triunfo de liberalismos e liberais feitos à pressa, em tempo de glorificação de construtores de auto-estradas e de centros culturais de Belém e da Feira sobra pouco para garantir a assistência na doença e o bem-estar dos cidadãos.
É de certo modo compreensível que assim seja, posto que doença é coisa de que ninguém gosta de falar e que o aproximar da idade da reforma é também o aproximar do termo da vida. Muito mais atractivo é, em época de Verão, deitar o olho às mulheraças em «top less» espraiadas ao sol ou aos programas de férias propostos pelas agências de viagens. Infelizmente, meninas de maminhas ao léu continuam a aparecer pouco aqui pelas praias do Minho e, pelo que se reporta a férias tropicais, falta-nos, à maioria, o conforto dos milhões do Fundo Social Europeu e do PEDIP, versão Mira Amaral.
Há também outra faceta nesta coisa do investimento na saúde dos portugueses que não abona a favor do tema, que tem que ver com a circunstância deste tipo de aplicação de fundos cair na categoria do chamado investimento imaterial. Quer dizer, é dinheiro deitado à rua já que uma vez gasto não fica nem tabuleta comemorativa nem obra para a posteridade. Nisso tem, portanto, muito a perder relativamente a auto-estrada, ponte ou quartel de bombeiros.
Os cidadãos eleitores sabem isso, e é essa a razão profunda porque nutrem um especial desprezo pela vida. Sobretudo pela vida dos outros, como se prova pelas estatísticas de acidentes rodoviários e de trabalho. Outro indicador que vai em idêntico sentido é a forma afável como continuam a acolher nas suas terras os ministros da saúde e do emprego e segurança social.
Tratasse-se dos seus congéneres das obras públicas ou da indústria, por exemplo, e a coisa ficaria bem diferente: «fujam que aqui vai calhau!» .”
J. C.
(reprodução integral de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/08/05, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)
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