quinta-feira, maio 01, 2008

Minha Querida Helena

Depois de um enorme vale de lágrimas vertidas por ti e por mim, sigo neste comboio a caminho de Lisboa. A mente deixei-a contigo. Como é possível que o nosso amor incomode tanta gente? Que tem de especial o nosso amor? O ser muito, muito grande? Mas não é mesmo assim que devem ser os amores?
Percorrendo, em pensamento, as últimas palavras que me dirigistes e revendo tudo o que dissestes antes, pergunto-me, adicionalmente, porque é que o nosso amor tem que ser um amor proibido. Será por ser tão intenso que o desgaste a que estamos sujeitos nos extenua desta maneira? Como posso eu querer-te tanto e penalizar-te tanto?
Meu amor: a cabeça fervilha-me de pensamentos e de dúvidas. A única certeza que tenho é que já não sou capaz de conceber o meu dia-a-dia sem ter-te como refúgio e como ancoradouro. Desgraçada que é a minha vida, perderá o sentido que lhe resta sem as amarras que me lanças.
É irónico que num momento juntemos pertences tão simbólicos como o são um cravo do sul, um loureiro e um jarro roxo e no instante seguinte me digas que o xicoração que me deste, quase roubado, foi o último. Como pode ser o último se o nosso cravo do sul e o nosso loureiro permanecem viçosos? Dás por perdido o jarro roxo e, com ele, as demais plantas, símbolos preciosos da nossa união? Não dês, minha querida. Luta para que vivam, mesmo que seja para que nos sobrevivam. Essa será mais uma prova da força deste amor.
Neste comboio, a caminho de Lisboa e contigo como objecto único de pensamento, pergunto-me como será a seguir, logo, quando chegar ao hotel, ou amanhã à noite, quando regressar. Irei telefonar-te? Atenderás tu o telefone se eu tiver a coragem ou a fraqueza de te ligar? E depois?
E depois? Decidido está que 3ª feira comprarei bilhetes para o espectáculo com o José Mário Branco, a 24 de Abril, havendo bilhetes - ficaria muito frustrado se não os houvesse. Está decidido que comprarei dois bilhetes. Depois logo se verá se te terei a meu lado ou se o banco vizinho ficará vazio durante o espectáculo.
Não, não quero questionar-me sobre como resistirei à emoção daquele momento se não puder ter a força de te sentir a meu lado. Não, não quero imaginar como o nosso cravo do sul poderá resistir à minha ausência. Não, não quero pensar … Helena, minha querida.

José Cadima

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