sexta-feira, novembro 24, 2006

Minha Querida Helena

Depois de muita ansiedade, cedendo a um impulso, resolvi ligar-te. Procurava o conforto da tua voz, na dúvida sobre o desconforto das palavras que me dirigisses. Sinto-me reconfortado por esse gesto, pese embora as notícias de abandono que me veiculaste.
Permaneço na dúvida sobre se a tua desistência reiterada é fruto de um momento menos bom da vida (que todos temos, de quando em quando) ou a forma que encontraste de me penalizar. Nota porém que, a ser esta última a tua motivação, estás a admitir a força do laço afectivo que me prende a ti.
Gostei que tivesses admitido que me ligaste – para escutar a minha voz - disseste - se bem que pareça estranho que, querendo ouvir-me, tenhas desligado logo que atendi. Se me permites que o diga, acho isso mais auto-flagelação que qualquer outra coisa, mas talvez seja isso mesmo que pretendas. A tua recusa em cuidares da tua saúde, a tua insistência em descuidares o arranjo dos teus cabelos, o teu fecho para o mundo – que procuras activamente, embora depois, do nefasto que isso te é, reclames - vão nesse sentido.
Não precisavas ter-te posto incomunicável depois disso. Não precisas, aliás, recear denunciar a tua insegurança. Eu não receio fazê-lo. Antes, junto de ti a minha insegurança esvai-se. Tu és a minha segurança e a minha insegurança!
Amor meu, que posso eu fazer para te arrancar de novo um sorriso? Amor meu, que podemos nós fazer para que o sonho volte a ser possível?
Fala comigo, meu amor! Faz de mim o teu confidente, o teu refúgio, tanto quanto tu és o meu – quero dizer, tanto quanto eu preciso que voltes a ser o meu ... amor...

Braga, 9 de Julho de 2004


José Cadima

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