terça-feira, fevereiro 04, 2014

Flutuando

Na água, não longe de mim, há os que nadam, os que saltitam, os que brincam. Eu flutuo, plano. Liberto do corpo, vagueio pelos lugares mais desencontrados, em busca de lugar algum.
Soa-me estranha esta ausência de materialidade. Resta-me o pensamento, que, liberto, tão depressa te procura quanto parte, em correria, ao encontro do dia que passou ou em busca do dia de contornos incertos que virá.
Soa-me estranho este espaço para deixar vaguear o espírito, esta ausência de uma materialidade asfixiante que nos enche o dia-a-dia de tudo, de nada. Flutuo, levito. Sou só espírito, sou só vontade de ausência.
Trazendo-me à relação com a água, com a terra, chegas-me tu, de quando em quando. Chegas-me da ponta mais afastada do arco-íris e, por isso, a tua presença interrompe mas não questiona decisivamente a minha ausência de substância, que se reconstitui logo que te afastas em braçadas largas.
Liberto do corpo que me pesa, sou liberdade, sou pássaro que plana empurrado pelo vento. Hoje, fica-me longe o mundo que vivi ontem, anteontem e em tantos outros dias precedentes.

José Cadima

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