Na água, não longe de mim, há os que nadam, os
que saltitam, os que brincam. Eu flutuo, plano. Liberto do corpo, vagueio pelos
lugares mais desencontrados, em busca de lugar algum.
Soa-me estranha esta ausência de materialidade.
Resta-me o pensamento, que, liberto, tão depressa te procura quanto parte, em correria, ao encontro do dia que passou ou em busca do dia de contornos
incertos que virá.
Soa-me estranho este espaço para deixar vaguear
o espírito, esta ausência de uma materialidade asfixiante que nos enche o
dia-a-dia de tudo, de nada. Flutuo, levito. Sou só espírito, sou só vontade de
ausência.
Trazendo-me à relação com a água, com a terra,
chegas-me tu, de quando em quando. Chegas-me da ponta mais afastada do
arco-íris e, por isso, a tua presença interrompe mas não questiona decisivamente
a minha ausência de substância, que se reconstitui logo que te afastas em
braçadas largas.
Liberto do corpo que me pesa, sou liberdade,
sou pássaro que plana empurrado pelo vento. Hoje, fica-me longe o mundo que
vivi ontem, anteontem e em tantos outros dias precedentes.
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