domingo, agosto 04, 2013

Uma noite para esquecer

Uma casa magnífica, um quarto magnífico, um lugar de tranquilidade difícil de igualar, e nem por isso o sono me assiste, isto é, apesar de tudo ou por tudo isso, eis-me desperto, intranquilo, sem jeito, absolutamente perdido a meio da noite. Deitado porquê se nem por isso me sinto descansar mais? Presumo-te a dormir, a meu lado, mas nem por isso a tua quietude aparente me trás o sossego que me falta, nem por isso o teu sono me contagia. Desejava que sim, do mesmo modo que o teu sorriso me contagia, tantas vezes. Noutro dia consegui-lo-á(s). Noutro dia…
Resta-me voltar a mim, aos meios anseios, aos meus problemas não resolvidos, aos meus medos. O medo de não estar ao meu alcance ajudar alguém que me importa muito ajudar a sair do buraco no tempo em que se deixou cair, por razões que não sei descortinar. O temor de desacreditar que vale a pena resistir, ser quem sou. O receio que, nalgum momento, deixe de fazer sentido lutar contra os fantasmas que, tantas vezes, te levam para longe, mesmo caminhado a par comigo ou sabendo-te deitada a meu lado. Sinto a tua respiração mas não me sinto capaz de respirar contigo, embora desejando consegui-lo, embora ansiando fazê-lo, muito, muito…
Porque tem que ser assim? Porque tem que ser este, também, lugar de desencontro? Para já, desde logo, de desencontro de sonos. Pergunto-me sobre os sonhos e não tenho resposta certa, mais claramente dito, não encontro resposta.
De fonte segura, fica-me a vigília. Até quando? Quando soçobrará este corpo cansado perante o sono, esta intranquilidade perante a serenidade da envolvente tranquila desta casa imensa, cheia de memórias, alimentadora de sonhos?.
Não me ficando grande lugar para sonhos, à força de uma travessia longa de desapontamentos – cinquenta e muitos anos creio permitirem já o uso do qualificativo – queria nesta altura encontrar lugar para o sono, paragem no tempo, encontro possível com o vazio de inquietudes, se o pesadelo não se revelar mais forte. Nesse entretanto, poderia até voltar até ao teu abraço, mas o pesadelo é sempre realidade próxima.
Porquê? Porque me falha a resposta para tantas perguntas que me preenchem a mente e me enchem os dias? Porque me escapa o sono num momento em que precisava tanto reencontrá-lo? Porque me escapas tu quando precisava tanto que fosses o meu lugar de encontro?

José Cadima

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