Uma casa magnífica, um quarto magnífico, um lugar de
tranquilidade difícil de igualar, e nem por isso o sono me assiste, isto é,
apesar de tudo ou por tudo isso, eis-me desperto, intranquilo, sem jeito,
absolutamente perdido a meio da noite. Deitado porquê se nem por isso me sinto
descansar mais? Presumo-te a dormir, a meu lado, mas nem por isso a tua
quietude aparente me trás o sossego que me falta, nem por isso o teu sono me
contagia. Desejava que sim, do mesmo modo que o teu sorriso me contagia, tantas
vezes. Noutro dia consegui-lo-á(s). Noutro dia…
Resta-me voltar a mim, aos meios anseios, aos meus problemas
não resolvidos, aos meus medos. O medo de não estar ao meu alcance ajudar
alguém que me importa muito ajudar a sair do buraco no tempo em que se deixou
cair, por razões que não sei descortinar. O temor de desacreditar que vale a
pena resistir, ser quem sou. O receio que, nalgum momento, deixe de fazer
sentido lutar contra os fantasmas que, tantas vezes, te levam para longe, mesmo
caminhado a par comigo ou sabendo-te deitada a meu lado. Sinto a tua respiração
mas não me sinto capaz de respirar contigo, embora desejando consegui-lo,
embora ansiando fazê-lo, muito, muito…
Porque tem que ser assim? Porque tem que ser este, também,
lugar de desencontro? Para já, desde logo, de desencontro de sonos. Pergunto-me
sobre os sonhos e não tenho resposta certa, mais claramente dito, não encontro
resposta.
De fonte segura, fica-me a vigília. Até quando? Quando
soçobrará este corpo cansado perante o sono, esta intranquilidade perante a
serenidade da envolvente tranquila desta casa imensa, cheia de memórias,
alimentadora de sonhos?.
Não me ficando grande lugar para sonhos, à força de uma
travessia longa de desapontamentos – cinquenta e muitos anos creio permitirem
já o uso do qualificativo – queria nesta altura encontrar lugar para o sono,
paragem no tempo, encontro possível com o vazio de inquietudes, se o pesadelo
não se revelar mais forte. Nesse entretanto, poderia até voltar até ao teu
abraço, mas o pesadelo é sempre realidade próxima.
Porquê? Porque me falha a resposta para tantas perguntas que
me preenchem a mente e me enchem os dias? Porque me escapa o sono num momento
em que precisava tanto reencontrá-lo? Porque me escapas tu quando precisava
tanto que fosses o meu lugar de encontro?
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