Saí cedo de Braga, rumo ao Sul. Da janela do comboio, olho a paisagem e tento encontrar algo que se me sugira familiar.
Há muito tempo que não fazia este percurso ou, pelo menos,
pareceu-me muito tempo. Talvez seja mesmo, que o tempo é uma realidade
relativa.
De quando em quando, enquanto a paisagem flui perante os
meus olhos, o pensamento retorna ao
ponto de partida. Voltam a configurar-se-me nítidos os cães que, ainda noite,
desciam a rua a par, em pose relaxada, o recorte e o tic-tac dos relógios despertadores
que, afinal, acabaram por não ser necessários. Quase nunca o são, aliás, nem
mesmo quando faziam falta, como numa noite, há poucas semanas, em que precisava
acordar a meio da noite, como aconteceu hoje.
Volto a viajar só. Volto a um lugar aonde estive poucas
vezes mas a que me apeteceu retornar nesta ocasião.
De repente, no topo de uma casa, vejo uma bandeira que esvoaça.
De repente, nos altifalantes da carruagem do comboio, oiço uma voz que enuncia o
nome de um lugar (do Portugal profundo) e anuncia nova paragem, bem curta, por
sinal.
O comboio prossegue viagem, e eu com ele. Fico a aguardar
que a voz que, de quando em quando, anuncia uma nova paragem diga um nome em
que reconheça o meu destino de hoje. O de amanhã não me ocorre qual possa ser.
José Cadima
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