sábado, junho 02, 2012

Ao longe

“Ao longe os barcos de flores”.
Ao longe os barcos do amor.
Ao longe, por dois largos pares de dias,
num lugar remoto,
o meu ponto de encontro,
o meu espaço de fuga.
É irónico que, na mesma data em que te ausentas,
eu parta também, em direção oposta,
como se o nosso espaço de convívio quotidiano
não fizesse sentido
quando não o habitamos juntos.
Coincidência? Destino? Acaso?
Talvez isso seja sinal
de que, doravante, partir só ganha sentido
quando possamos partir ambos.
Juntos pelo acaso?
Juntos pelo destino?
Juntos, contemplando extensos campos de morangos,
para sempre,
ou, algumas vezes, de malmequeres
de diferente coloração,
ora amarelos, ora brancos,
ora verdes, como deviam ser todos.
Deveriam ser todos, sublinho,
ou, pelo menos, os que são carregados
pelos barcos de flores
que, de quando em quando, da costa
enlaçados, perscrutamos  no mar,  ao longe.

José Cadima

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