Ocasionalmente, alguém me diz:
“obrigada por todo o teu apoio e por existires”.
Ocasionalmente, chegam-me mensagens
de reconhecimento e gratidão:
reconhecimento de desprendimento;
gratidão por reconhecida generosidade.
Mais amiúde, chegam-me sinais
de incompreensão,
desagrado, desatenção.
Deixei de relevar, quer dizer,
tento lidar com a mágoa
da melhor forma que sei e posso.
Como se pode ser uma e outra coisas?
Como se pode lidar com uma e outra coisas?
Lutando, fazendo, construindo, querendo,
tendo ideias e expressando-as,
a incompreensão, o desconforto, a contestação
são, infelizmente, expressões incontornáveis.
Morto, desaparecido, latente,
é bem mais fácil.
Já reparam nas qualidades
reconhecidas
num qualquer falecido? Mesmo que recém-falecido.
Tento lidar com a vida,
que o mesmo é dizer com a mágoa,
alimentando a esperança
que alguém, ocasionalmente, me diga
“obrigada por todo o teu apoio e por existires”.
É daí que vou recolhendo a energia
que me diferencia de um qualquer morto.
José Cadima
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