quinta-feira, maio 20, 2010

Ontem (3)

Ontem, anteontem,
senti vontade de desaparecer,
mas desaparecer para sempre.
Não é a primeira vez que tal sentimento me anima.
Custa-me não ter tido a coragem do fazer.
Não são só os amores
e os desamores porque tenho passado
que me tiram a vontade
de continuar a luta sem quartel
que tenho mantido
contra a indiferença,
contra a mediocridade,
contra a injustiça de ver os outros julgados
pelas pobres referências
que nos foram dadas,
pelas pobres referências que vamos alimentando,
no contexto da nossa vida privada,
da nossa vida no local de trabalho,
das nossas vivências públicas quotidianas.
Dentro desse pano de fundo,
saber que há um abraço que sempre nos espera
é um sortilégio
mas é, também, pouco, isto é, é muito e é pouco.
Faz-me falta ouvir-te respirar,
mas não me faz menos falta respirar,
Faz-me falta libertar-me deste ar rarefeito
que insiste em ser o nosso dia-a-dia, cada vez mais.
Falha-me crescentemente a esperança.
Falha-me crescentemente a crença
que este mundo, este mundo que é a nossa aldeia,
se possa vir a converter em algo menos mesquinho,
mais desperto para o respeito pelos outros
e para o amor.
Ontem, anteontem,
Apetecei-me entrelaçar-me em ti
como se fossemos raízes de uma mesma árvore.
Ontem, anteontem,
senti vontade de desaparecer,
mas desaparecer para sempre.

José Cadima

2 comentários:

Anónimo disse...

O mundo tende a piorar.
os valores estão a perder-se.
cada vez mais existe o egoísmo.
a ambição, a usura.
ninguem gosta de ninguem
o poder é a meta,
não importa quem se pisa.

Anónimo disse...

entao e os amigos estao cá para quê?
a triste